Autor: Luiz Henrique Solano Rossi
Por um modelo voltado para a integralidade e o crescimento do ser humano
INTRODUÇÃO
Um dos grandes desafios que temos pela frente é viver bem nesta sociedade denominada pelos estudiosos de pós-moderna. Algumas de suas características peculiares como competitividade, consumismo, utilitarismo, agressividade, perda de valores absolutos, relativização da verdade, etc., têm gerado indivíduos enfermos do ponto de vista da alma e dos relacionamentos.
Somos uma sociedade enferma. Que desaprendeu a amar, que estabeleceu a desconfiança como condição “sine qua non” na relação pessoal, que não sabe mais desenvolver relacionamentos saudáveis e profundos, que vive deprimida e angustiada, que perdeu a dimensão da comunidade e solidariedade, dando lugar a um estilo de vida egoísta, que não sabe mais construir pontes de comunicação que levem ao encontro do outro para a celebração da vida em verdade e em amor.
A igreja na sociedade pós-moderna também está enferma. Na ânsia de crescer numérica e financeiramente começou a priorizar os grandes projetos e as realizações de mega eventos, deixando de lado a importância dos relacionamentos. Tornou-se uma igreja realizadora, mas pouco relacional.
Como conseqüência, suas reuniões tornaram-se superficiais, sendo mais uma oportunidade para consumo de artigos religiosos e menos oportunidade para relacionamentos que possam curar as feridas e gerar vida em abundância.
As manifestações solidárias do Corpo de Cristo que expressavam preocupação pelo outro deram lugar à busca egoísta pelas bênçãos especiais e imediatas, as quais normalmente são entendidas como bem estar emocional e prosperidade material.
De um modo geral as igrejas perderam a visão de sua vocação como comunidade terapêutica. Deixaram de desenvolver programas que priorizem e facilitem relacionamentos, que ajudam no desenvolvimento da potencialidade de seus membros, que busquem a integralidade de cada um.
É justamente sob esta preocupação que fomos motivados a escrever este trabalho. Depois de onze anos no pastorado é mais forte ainda a convicção de que as igrejas relevantes deste século serão aquelas que tiverem como filosofia de ministério o objetivo de se desenvolverem como comunidade terapêutica, como parte de sua missão integral. Igrejas relacionais farão a diferença nesta geração.
O propósito deste trabalho é oferecer uma reflexão sobre a vocação terapêutica da igreja, a partir da necessidade de saúde integral de todo ser humano.
Procuraremos mostrar que as conseqüências da desintegração/separação impostas ao ser humano a partir da queda pode ser restaurada à medida que a igreja desenvolve programas que enriqueçam os relacionamentos e promovam cura.
Veremos que o ministério de Jesus foi um ministério de sanidade, à medida que promovia cura e salvação ao mesmo tempo, restaurando indivíduos em sua integralidade.
Finalmente, e esta talvez seja a parte mais importante deste trabalho, iremos refletir sobre o papel do pastor na transformação de uma igreja local em comunidade terapêutica. Veremos a relevância do ministério pastoral equipando a igreja para a sua missão de gerar cura para a nossa sociedade pós-moderna.
Esperamos que este trabalho de caráter essencialmente prático possa encorajar e ajudar outros a desenvolverem uma filosofia de ministério que priorize a igreja como comunidade do relacionamento.
2 – QUEM SOMOS NÓS – UM PERFIL DA NOSSA SOCIEDADE
A nossa sociedade pós-moderna apresenta muitos desafios para o ser humano neste novo século.
As características de uma sociedade utilitarista e acumuladora de bens têm levado indivíduos e famílias inteiras a fazer novas opções de valores, prioridades e estilo de vida. Não só isso, mas também a uma série de conseqüências que atingem diretamente a vida humana.
Gostaríamos de tentar traçar um perfil da sociedade em que vivemos e, conseqüentemente, daqueles que fazer parte da comunidade cristã, denominada igreja.
Solidão: As pessoas vivem sós no contexto urbano atual. Muitas têm imensa dificuldade em compartilhar suas vidas, temores e angústias. Apesar de necessitarem e até desejarem relacionamentos profundos, não conseguem romper com as barreiras e ir ao encontro do outro.
Permanecem assim como uma ilha, mesmo em meio a um sem número de pessoas. Buscam resolver sozinhas seus próprios conflitos e tentam satisfazer a si próprios.
O problema é que sozinho o indivíduo se torna mais vulnerável, fragilizado e na busca por satisfação pessoal ele encontrará mais angústia.
Numa era tecnológica como a que estamos vivendo, de rápida e fácil comunicação com o mundo, as pessoas ainda vivem o drama de se sentirem solitárias.
Competição: Nossa sociedade assumidamente capitalista e consumista tem gerado um conceito utilitarista das pessoas, fazendo-as crer que só terão valor se possuírem bens e estiverem participando da produção de outros bens.
O valor passa a ser no que se tem e não no que se é como pessoa.
Em função disso, as pessoas se tornam altamente competitivas, desconfiadas em seus relacionamentos, vendo o outro como franco adversário.
Logicamente, tal postura levou o ser humano a um isolamento planejado e destruidor, gerando um estilo egoísta de viver somado à atitudes nada humanas do ponto de vista da bondade e da generosidade para com o outro.
Descartabilidade: Numa sociedade consumista as pessoas se tornam descartáveis à medida que não conseguem produzir bens como antes. Tornam-se inaptas para o grande mercado.
A idéia da descartabilidade gera um sentimento de desvalor e inutilidade existencial, o qual desemboca em angústias, depressões e outras enfermidades da alma.
Nesse ponto, a maior necessidade do indivíduo é sentir-se capacitado e qualificado para viver com propósitos, desenvolvendo relacionamentos significativos.
Padrões errados de comportamento: Não é raro encontrarmos no aconselhamento pastoral pessoas honestas que lutam contra padrões inadequados de comportamento que adquiriram na infância por modelos ruins, os quais desembocam em alguns desvios, como práticas sexuais distorcidas, no hábito de mentir, dificuldade de desenvolver relacionamentos profundos e saudáveis, dificuldade em amar e ser amado, vícios, reações extremamente negativas, temperamento de difícil convivência, caráter falho, etc.
São as enfermidades que muitos tentam esconder ou racionalizar como se fosse algo normal.
Traumas interiores: Pessoas que não foram amadas quando pequenas, sentimentos de rejeição, crítica excessiva por parte dos pais, disciplina violenta, abuso sexual, lares desajustados, são algumas das situações que fazem as pessoas se sentirem presas a um passado triste e opressor, que as paralisa, bloqueando todo seu potencial de crescimento.
Tais pessoas gastam grande parte do seu tempo e energia tentando administrar seus traumas interiores, ficando assim sem energia para buscar o crescimento pessoal.
Medos/Temores/Ansiedade: Vivemos no século da ansiedade e de todos os tipos de medo.
Nunca se consumiu tantos tranqüilizantes como antes, mesmo entre a população mais jovem.
É grande o número de pessoas que precisam lidar diariamente com seus medos e inseguranças, desde os mais simples e insignificantes até aqueles mais assustadores. O medo da morte, do desemprego, da doença, da perda da família, de ficar sem dinheiro, de ser assaltado, de ser rejeitado, são alguns exemplos de medos que tomam conta da nossa sociedade hoje.
Desintegração familiar: Já é sabido que a família não desempenha mais um papel central em nossa sociedade e nem é vista com a mesma importância de antes.
Isso não diminui, no entanto, o caráter integrador da família na vida de qualquer pessoa, sendo a instituição que ensina limites, forma o caráter, gera o senso de pertencer, dá identidade e equilíbrio emocional ao indivíduo. Mas o que se vê, porém, são pessoas vivendo sob o mesmo teto, sem compartilhar suas vidas e seus sentimentos mais profundos.
Poderíamos destacar ainda outras características da nossa sociedade pós-moderna e suas conseqüências para os nossos dias. No entanto, nosso objetivo é mostrar que as características acima apresentadas são nada mais que expressões do pecado na vida humana, os quais por sua vez levam a uma desintegração do ser.
Para aprofundarmos esta questão tentaremos no próximo ponto definir alguns conceitos importantes do ponto de vista bíblico e teológico, a fim de enriquecer nossa reflexão.
3 – SAÚDE INTEGRAL: UMA ANÁLISE BÍBLICO-TEOLÓGICA
Ao tratarmos desse assunto, contamos com as anotações de Larry Crabb (1998, p.42) o qual faz uma análise teológica muito interessante. A partir da noção de pecado como resultado da separação, sugere o autor que existe na experiência humana a realidade de quatro separações: separação de Deus (problemas espirituais), separação dos outros seres humanos (problemas sociais e de relacionamentos interpessoais), separação da natureza (problemas ecológicos e físicos) e separação de si mesmo (problemas psicológicos).
Podemos dizer que os cristãos que vivem em comunidade tiveram resolvido o problema da primeira separação – a de Deus – no entanto ainda existem algumas a serem superadas.
A chave hermenêutica para entendermos este processo de enfermização do ser humano é justamente o cenário da queda. Entender esta questão, segundo Uriel Heckert, “é muito importante para entender-se a situação atual da humanidade e de cada um de nós. Está aí a raiz de toda ambivalência e inautenticidade que experimentamos”. (1985, p.12).
A partir da queda de Adão e Eva um processo de desintegração tomou conta do ser humano. Até então ele vivia em perfeita harmonia com seu Criador, com o outro ser humano e consigo mesmo. Podemos dizer que ele gozava de saúde plena, já que havia esta integração completa entre criatura-Criador, criatura-criatura, criatura-natureza.
O Dr. Zandrino nos diz que tal integração era perfeita e perceptível na ausência dos dois principais sintomas de enfermidade: a dor – sintoma de enfermidade física e o medo – sintoma de enfermidade psíquica (1986, p. 31).
O pecado trouxe conseqüências desastrosas concretas para o ser humano. “A desobediência do primeiro homem trouxe como conseqüência morte espiritual ou separação de Deus, o que também inclui morte física, que por sua vez também está relacionada com enfermidade, dor e perda da vida” (op.cit., p.38).
A enfermidade tem uma relação direta de causa e efeito com o pecado, o qual agiu como fator de desestabilização do ser humano.
A opção do ser humano em buscar sua autonomia e tornar-se o centro do universo fez dele um ser rebelado, enquanto negava sua condição de dependência de Deus negava também a razão de sua própria existência. Abre-se então o caminho para o pecado e o ser humano passa a viver um estilo de vida errando continuamente o alvo para o qual foi criado: a plenitude da comunhão com Deus. Como conseqüência ele se vê agora separado do seu Criador, separado do outro, e em crise consigo mesmo.
Separado de Deus, do outro e de si mesmo, o ser humano se viu enfermado do ponto de vista de sua existência, do sentido e propósito de vida. Desse modo, estar vivo é experimentar diariamente a dor e o peso da enfermidade.
O plano redentor de Deus, por sua vez, objetiva trazer de volta o ser humano ao seu estado original de integridade. Tal plano de redenção que encontramos em toda a Palavra de Deus inclui, ora salvação, ora cura para as enfermidades físicas.
A saúde integral, portanto, tem a ver com a plenitude da vida humana, no nível individual e coletivo, nas ralações harmoniosas e amorosas com Deus, com outros e com a natureza.
Se alguém perguntasse a resposta de Deus ao pecado, a resposta seria: salvação e saúde. Se perguntasse a respeito da resposta de Deus à enfermidade, a resposta seria: salvação e saúde também!
O conceito de saúde da Organização Mundial de Saúde é: “um estado de completo bem estar físico, mental e social”.
No entanto, Uriel Heckert, citando Kingma, sugere um conceito cristão: “Saúde é um estado dinâmico de bem estar do indivíduo e da sociedade; um bem estar físico, mental, espiritual, econômico, político e social; em harmonia com os outros, com o meio ambiente e com Deus”. (1985, pp.12-16).
Tal conceito amplia a idéia de saúde como algo que transcende a experiência humana individual e alcança uma dimensão coletiva, ecológica e espiritual.
É interessante quando analisamos alguns termos bíblicos relacionados, em sua raiz, à mesma idéia.
“Shalom” : expressa, além de ‘paz’, também ‘saúde’ num sentido bem amplo, ‘renovação espiritual’, ‘reabilitação social’.
Também a palavra “Soteria” – “salvação” no grego, pode indicar ‘totalidade da pessoa’, ou simplesmente ‘saúde’; ou seja, na soteriologia de Deus não está contemplada apenas a dimensão espiritual, senão também a totalidade do ser humano.
Como exemplo bíblico podemos citar a expressão “a tua fé te salvou”, pronunciada por Jesus no evangelho de Lucas. A mesma aparece quatro vezes em Lucas: em 8:48 = mulher curada de hemorragia; em 17:19= a cura dos dez leprosos; em 18:42 = a cura da cegueira de Bartimeu; mas em 7:50 = perdão dos pecados da mulher.
Na verdade esta separação entre saúde e salvação que encontramos em nossa teologia é algo que faz parte apenas da nossa mentalidade ocidental, a qual adotou o dualismo grego da matéria e do espírito em sua filosofia e cosmovisão.
Para o médico e teólogo Anthony Allen o prejuízo desta opção é imenso, pois com isso “de uma só tacada tanto ‘saúde’ como ‘salvação’ deixaram de ter seu verdadeiro significado! Este dualismo prejudicou o cuidado integral da pessoa pelos serviços médicos. Também minou a missão declarada da espiritualidade em geral, e da igreja em particular, de proclamar e facilitar a verdadeira ‘salvação’ de pessoas.” (1998, p.27).
Na prática, para a visão dualista ocidental os conceitos de pecado e salvação foram “espiritualizados e moralizados. A salvação foi relegada a um cenário forense ou judicial(…)salvação do pecado envolve nada mais do que arrependimento, perdão, punição vicária, transformação moral e a busca da perfeição moral (santidade)” (op.cit, p.29). Allen termina dizendo que “a salvação das escrituras é transformadora. Na bíblia, ser salvo significa ser transformado(…)cura é transformação total; então, salvação e cura são uma e a mesma coisa” (op.cit., p.30).
Da mesma forma, Jaques Ellul, citado por Ricardo Zandrino diz: “a cura é juntamente corporal e espiritual. Cura e salvação são conceitos associados com freqüência” (1986, p.38)
Saúde e salvação, portanto, são termos superpostos e paralelos na teologia bíblica da redenção. A teologia da salvação está certamente ligada à teologia da saúde!
4 – A IGREJA – DE SEUS DRAMAS À COMUNIDADE TERAPÊUTICA
Lembro-me de ter lido certa vez a respeito da igreja como sendo uma grande embarcação em alto mar, que vai resgatando muitos náufragos à medida que vai cortando o oceano. Pessoas que estavam morrendo afogadas têm assim a possibilidade de serem resgatadas da morte trágica.
Sendo assim, aquele se torna o navio dos ex-náufragos, habitado por pessoas que têm viva na memória a lembrança do seu salvamento, enquanto o navio continua sua missão de resgatar vidas.
No entanto, poderíamos dizer que esta é apenas parte do trabalho de resgate. Há um outro aspecto quanto aos resgatados que envolve seus ferimentos, lembranças infelizes, hematomas, fraturas, incapacidade para viver aquela nova situação, sofrimentos que precisam de cura….
Esta ilustração nos faz entender que a igreja é um lugar de pessoas salvas do pecado, mas que ainda carregam as conseqüências nefastas das expressões do pecado em suas vidas.
São distorções da personalidade por causa de uma má formação infantil, hábitos prejudiciais, patologias, sintomas psicológicos, padrões de comportamento inadequados, e uma série de fatores que levam os indivíduos a reconhecerem que, embora resgatados por Deus, ainda precisam de cura. Usando uma expressão teológica: “foram salvos, mas continuam sendo salvos a cada dia”.
Após traçar o perfil para entender nossa sociedade e conhecer as características daqueles que se chegam para nossa comunidade, precisamos pensar em como a igreja os recebe, ou então, no tipo de ambiente que eles encontram. Via de regra, as igrejas não estão preparadas para receber as pessoas (os ex-náufragos) como comunidade de cura e geradora de saúde integral.
Se por um lado as pessoas chegam procurando um ambiente de amor, aceitação e cura para seus dramas, por outro lado encontramos muitas comunidades legalistas, rigorosas e de relacionamentos superficiais, o que de fato não ajuda em nada no estabelecimento de um ambiente propício para se abrirem à cura de Deus.
No entanto, entre muitas vocações, uma das que a igreja possui é a de ser comunidade terapêutica.
No seu livro, “Curar também é tarefa da igreja”, o argentino Ricardo Zandrino deixa bem claro este chamado à comunidade terapêutica que o próprio Deus fez à igreja.
A grande chave para entender tal vocação é a imagem bíblica da igreja como Corpo de Cristo, cujos membros são habitados pelo Espírito Santo e dotados de dons espirituais a fim de equipar e preparar os crentes para o serviço e edificar o próprio Corpo.
Segundo Collins, “um dos propósitos principais do Corpo de Cristo é ajudar as pessoas (COLLINS: 1990, p.138).
Existem ainda outras imagens bíblicas da igreja que podem potencializar sua missão de ser um centro de cura, libertação, crescimento e potencialização, para o cumprimento de sua missão no mundo:
A igreja como Povo de Deus (2Co 6:16) – uma comunidade de cuidado mútuo unida por um pacto com Deus.
A igreja como comunidade do Espírito Santo (At 10:44-47) – uma comunidade redentora e curativa, através da qual o Espírito vivo pode atuar num mundo grandemente necessitado (CLINEBELL, 1987, p.61).
A igreja se caracteriza portanto como uma comunidade ajudadora, que otimiza o potencial de crescimento de seus membros, proporcionando às pessoas libertação de muitas questões que as impedem de crescer.
Ao oferecer um ambiente de comunhão, amor, serviço e crescimento, a igreja estará dando passos no sentido de cumprir sua vocação terapêutica.
Nossas necessidades mais profundas deveriam ser supridas na igreja, a partir de relacionamentos saudáveis entre seus membros.
Encontramos na Palavra de Deus cerca de 27 mandamentos recíprocos (daqueles que incluem a expressão “uns aos outros” no final). Todos eles têm a ver com o relacionamento, alguns para gerar, outros para proteger, outros para restaurar os relacionamentos. Quando vividos no contexto da igreja local, tais mandamentos produzirão libertação e cura para muitos.
A igreja local é responsável pela saúde integral de seus membros, e não apenas por sua vida espiritual como muitos pensam. É equivocada aquela idéia de que se alguém tem problemas físicos precisa ir ao médico, se problemas psicológicos tem que ir ao psicólogo, se problemas espirituais, precisa ir à igreja. Como já vimos anteriormente, o salvação de Deus alcança o ser humano na sua totalidade e não apenas espiritualmente.
A atividade da igreja não pode ser reduzida a um mero exercício cognitivo de aprendizagem intelectual, que a impede de desenvolver um programa de alcance integral do ser humano.
Para a igreja, entender a sua vocação terapêutica é ter a consciência de ser canal da graça curadora de Deus, a qual liberta o indivíduo para uma vida de crescimento e realizações.
A igreja de Cristo é, portanto, lugar das muitas manifestações terapêuticas e libertadoras de Deus em relação ao ser humano.
São muitos os testemunhos que ouvimos de pessoas que foram curadas do ponto de vista da alma, das emoções, na igreja e pela igreja; pessoas que receberam cura ao serem amadas, aceitas, tocadas, valorizadas.
Há que se dizer que a igreja, com todas as suas falhas, tem se tornado a única opção de relacionamentos terapêuticos dentro de uma sociedade secularizada e insensível para com as necessidades do outro. Nossa sociedade sofre de uma grande dificuldade em estabelecer relacionamentos saudáveis e profundos.
Poderíamos dizer que mesmo a família, para muitos, já não oferece um ambiente de ajuda e alívio, de modo que as esperanças de muitos vão se canalizando para aquelas igrejas que possuem uma proposta terapêutica de vida em comunidade, que de alguma forma responda às necessidades mais básicas do ser humano.
Não seria exagero afirmar, a partir de algumas observações pessoais, que algumas pessoas só recebem um abraço, ou um beijo, na sua comunidade local e em nenhum outro local, sendo que ali tais pessoas se sentem valorizadas e por isso ali permanecem.
Os estudos a respeito da relação membro-igreja nos tem mostrado que os membros permanecem numa determinada igreja local mais pelos relacionamentos e menos pela confissão doutrinária, ainda que esta última tenha a sua importância na vida de qualquer cristão. Em função disso, as igrejas que conseguirem desenvolver um ambiente que gere relacionamentos profundos e saudáveis estarão à frente para se tornarem relevantes nesse mundo pós-moderno.
Desenvolver a integralidade humana é o objetivo da igreja. Em razão disso, Clinebell defendeu que “a missão da igreja(…)é ser um centro de vida em abundância, um lugar em que se liberta, sustenta e potencializa vida em toda a sua plenitude, em indivíduos, em relações íntimas e na sociedade e suas instituições”. (op. cit., p.27).
A igreja, na sua função terapêutica, precisa desenvolver várias qualidades básicas. Ricardo Zandrino sugere algumas para nossa reflexão (ZANDRINO, 1986, p.67)
1ª) Aceitação – a aceitação é necessidade básica no desenvolvimento da personalidade de qualquer ser humano. É a base do indivíduo.
A argumentação bíblica para esta atitude é o fato de que fomos aceitos por Deus em Sua família, através de Cristo. Se na família tal aceitação é importante, na igreja ela possibilita vida e alegria.
2ª) Confissão – trata-se de uma prática pouco desenvolvida na igreja. “A confissão a Deus encarnada no ouvido atento e perdoador do irmão é um recurso poderoso para promover saúde nos membros da igreja”. (op. cit., p.68).
O próprio Davi descreveu as conseqüências físicas e emocionais de se carregar pecados sem jamais confessá-los (Salmo 32). A verdadeira confissão gera crescimento e saúde no Corpo de Cristo.
3ª) Perdão – a prática do perdão traz saúde ao indivíduo culpado, senso de libertação e renovação da própria vida. Livra-nos da culpa que paralisa e impede o crescimento para o qual fomos criados.
Uma igreja que pratica o perdão ensina a seus membros sobre a graça de Deus de uma forma mais eficaz. Proporciona ao outro um novo recomeço e a possibilidade de tentar mais uma vez. A igreja é o lugar dos recomeços!
4ª) Oração intercessória – orar/interceder por alguém traz saúde a quem quer que seja. Demonstra interesse e valorização, faz-nos aproximar do outro, movidos pela sensibilidade da dor e do sofrimento que alcança pessoas a quem amamos e que estão à nossa volta.
5ª) Contato físico – há uma necessidade de toque físico em cada um de nós. Toque que gera aceitação, manifesta carinho e cuidado. É o toque curador do abraço, do aperto de mão, do braço sobre o ombro do irmão.
Há um mistério no contato físico que pode consolar, encorajar, tirar a dor e até mesmo curar.
6ª) Louvor – O ato de louvor expressa atitude contrária à enfermidade. No louvor não há medo, nem recriminação, nem tristeza.
“O louvor provém de um coração alegre e de um povo agradecido”. (op. cit., p.76).
A ordem bíblica é bem clara: “Cantai ao Senhor um cântico novo” (Salmo 96:1).
“Bom é render graças ao Senhor e cantar louvores ao teu nome, ó altíssimo” (Salmo 92:1).
“Uma igreja que louva reflete maturidade e saúde e gera saúde e maturidade entre seus membros.” (op.cit., 76).
“Está alguém alegre? Cante louvores.” (Tiago 5:13b).
7ª) Outras expressões de serviço – à medida que como membros ajudamos uns aos outros nas mais diversas tarefas, mesmo naquelas pequenas, domésticas, suprimos expectativas daqueles que estão à nossa volta e assim geramos saúde para nós, para o outro e na comunidade local.
5) JESUS COMO MODELO PARA UMA PASTORAL EM BUSCA DA SAÚDE INTEGRAL
Jesus, nosso mestre e Senhor, é também o grande modelo que a igreja tem para o cumprimento da sua missão integral no mundo.
Sendo assim, Jesus é também o modelo para uma poimênica que busca promover a saúde integral no ser humano e na sociedade.
O termo “poimênica” vem do grego “poimen” que significa “pastor”. Sendo assim, a poimênica tem a ver com o trabalho pastoral de um modo geral.
Jesus relacionou seu ministério à questão da sanidade do indivíduo. Os seus milagres eram milagres de saúde, de sanidade física, psíquica ou mesmo espiritual. Encontramos nos evangelhos inúmeras narrativas que descrevem a ação salvadora de Jesus em direção às pessoas, curando-as de muitas maneiras.
Ao ser questionado pelos discípulos de João Batista sobre sua messianidade, Jesus respondeu: “…os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres anuncia-se-lhes o evangelho” (Lc 7:22).
Mais uma vez a sanidade é descrita como evidência da presença do reino de Deus entre as pessoas. Confirma-se assim a premissa de que o plano redentor de Deus está voltado para o resgate da integralidade do ser humano.
O próprio Jesus é um modelo de saúde para todos nós, a começar pelo fato dele não ter sofrido a desintegração causada pelo pecado. Podemos, encontrar em sua vida e ministério alguns aspectos para uma poimênica libertadora e geradora de vida para muitos. Um modelo pastoral curador. Vejamos então alguns desses aspectos:
1º – olhar empático sobre as pessoas – no texto que narra a multiplicação dos pães a cena é precedida por um olhar compassivo de Jesus, que via a multidão como ovelhas sem pastor. Houve então uma identificação com aqueles que sofriam por alguma razão. Essa empatia leva ao segundo ponto.
2º – Atitude solícita – Jesus era alguém solícito, pronto, com um coração aberto para novos fatos e novas situações. Sua grande agenda eram as pessoas. Ele podia até abrir mão de um descanso pessoal em função da demanda de uma só pessoa ou de todo um grupo.
3º – atitude de aceitação – Jesus foi reprovado por várias autoridades religiosas exatamente por ter uma postura que aceitava muitos excluídos e enfermos da sociedade. Almoçava com pecadores, tinha discípulos nada convencionais e conversava com as prostitutas. Tal ação era profundamente libertadora.
4º – Atitude de perdão – Jesus era a expressão maior da graça de Deus e, portanto, do perdão divino. Sua reação para com a mulher pega em adultério (João 8) revela um Deus perdoador que dá a segunda chance concedendo libertação da culpa que aprisiona e impede o crescimento.
5º – Quebra de preconceitos – Jesus rompeu barreiras, questionou e quebrou paradigmas sem preocupar-se com as conseqüências para sua vida. Conversar com a mulher samaritana (João 4) além de romper a barreira cultural, curou a enfermidade do preconceito e gerou sanidade para toda uma aldeia.
6º – Através do serviço – provavelmente, o maior sinal de saúde integral de Jesus foi o fato de ter assumido uma posição de servo, que procurava estar entre as pessoas, aproveitando situações para servir e ministrar graça àqueles que dela necessitavam (Marcos 10:35-45). Lavar os pés dos discípulos é evidência clara de que a cura inicia-se com gestos concretos de serviço.
7º – Amar até a própria morte – paradoxalmente, a morte também gera vida, muita vida (Jo: 12:24). Jesus tomou sobre si nossas enfermidades (Is 53), compartilhou das nossas chagas e maldições por amor. Sua morte produziu sanidade na vida de muitos. O Seu amor pelos discípulos foi até o fim (Jo 13:1).
A pessoa e a presença de Jesus eram por si só expressões de sanidade e geradores de saúde para aqueles que com Ele conviviam. Sua capacidade de amar, Sua compaixão, Suas ações com o propósito de gerar integralidade na vida das pessoas, se tornaram pistas importantes para uma poimênica nos nossos dias, cujo objetivo deve ser levar a igreja a desenvolver modelo semelhante ao de Jesus, tornando-se assim uma comunidade de salvação e cura, de libertação para o desenvolvimento das potencialidades de seus membros
6) PASTOR NERVOSO, IGREJA NEURÓTICA – o ministério pastoral e a igreja terapêutica.
Queremos agora conversar sobre o papel do pastor na construção de uma igreja cuja vocação terapêutica encontre expressão concreta no seu dia a dia.
Já é um fato conhecido que, como conseqüência das funções desempenhadas, o pastor constitui uma figura com destaque e influência, O pastor influencia e molda opiniões, transmitindo uma visão de mundo aos seus ouvintes.
De modo muito natural, o pastor participa diretamente da vida das pessoas, intervindo, aconselhando, emitindo opiniões, etc.
Conforme Almir Linhares de Faria , no seu artigo “Implicações psicológicas da tarefa pastoral”, a figura do pastor concentra um certo poder; assim, “a sua pessoa, seu modo de vida, seus sermões e suas diversas atividades pastorais fornecem padrões de referência para o comportamento e atitude de muitas pessoas.” (1985, p.17).
Vemos então que o pastor está numa ampla esfera de influência na vida da comunidade. Esta, por sua vez, refletirá o estilo de vida e ministério do seu pastor.
Sendo assim, cabe ao pastor a responsabilidade de trabalhar a vida da igreja a fim de levá-la a desenvolver relacionamentos saudáveis, curadores, e gerar ambiente de solidariedade na igreja local.
Segundo Clinebell, “a poimênica e o aconselhamento pastoral são eficazes na medida em que ajudam as pessoas a aumentar sua capacidade de relacionar-se de maneiras que fomentem a integralidade nelas mesmas e nas outras pessoas.” (CLINEBELL, 1987, P.30).
Na verdade, para o autor, o próprio objetivo da poimênica é a integralidade do ser humano. Isso significa que um ministério pastoral que não desemboque em cura, relacionamentos mais profundos e verdadeiros, ambiente de aceitação, etc, está absolutamente desfocado quanto à sua missão.
Um pouco antes, Clinebell declarara: “Poimênica é o ministério amplo e inclusivo de cura e crescimento mútuos dentro de uma congregação e de sua comunidade, durante todo o ciclo da vida.” (op.cit., P.25).
Nesse sentido, alguns estudiosos têm proposto algumas funções no ministério pastoral, porque geram integralidade. Senão vejamos:
1) O pastor como aquele que cura/cuida – trata-se do processo de sarar as feridas, gerando saúde física, emocional e espiritual, levando o indivíduo ao crescimento e restituindo-o à sua integralidade.
2) O pastor como aquele que sustenta – é o ato de ajudar alguém a suportar uma situação aparentemente impossível de ser transformada. Ex: uma doença incurável. Trata-se aqui do consolo e encorajamento para experimentar graça em meio ao caos.
3) O pastor como aquele que orienta – é o processo de dar conselho, dirigir e funcionar como uma autoridade. Ajudar as pessoas a aprenderem por si mesmas, ajudando-as também a fazer escolhas convictas e confiantes em situações que terão desdobramentos importantes no futuro.
4) O pastor como aquele que reconcilia – procura levar o ser humano a reconciliar-se com Deus, com o outro e consigo mesmo, seja através do perdão, da disciplina ou de uma consciência viva de pertencer ao povo de Deus.
5) O pastor como aquele que nutre – seu objetivo, segundo Clinebell, “é capacitar as pessoas a desenvolver as potencialidades que lhes foram dadas por Deus.” (op.cit., p.40). Ao mesmo tempo significa nutrir com amor as pessoas, a cada dia, na totalidade de suas vidas.
À medida que entendemos que a igreja é uma comunidade terapêutica, uma comunidade da poimênica, que “presta assistência, promove cura e possibilita crescimento” (op.cit., p.33), então é certo dizer que também cabe ao pastor a tarefa de treinar a igreja nesta vocação, a fim de que seus membros desenvolvam na prática a verdade do ‘sacerdócio universal de todos os santos’, sendo ministros uns dos outros. “O papel do pastor consiste em treinar, inspirar e supervisionar as pessoas leigas no ministério de poimênicas destas.” (op.cit., p.33).
Podemos perceber então a importância do trabalho pastoral na transformação de uma igreja local em comunidade terapêutica . Pastores saudáveis e equilibrados, ou pelo menos conscientes de suas limitações e em busca de sua integralidade, saberão orientar os membros rumo ao crescimento. Por outro lado, pastores sem esta consciência, desfocados de sua integralidade, dificultarão e prejudicarão o desenvolvimento dos membros de sua comunidade.
Poderíamos dizer então que, neste caso, pastores nervosos gerarão igrejas neuróticas.
Quão grande é a responsabilidade do pastor quanto ao bem estar e crescimento da igreja rumo ao cumprimento de sua missão integral!
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Refletir sobre a vocação terapêutica da igreja é também refletir sobre as mais variadas prioridades que, como igreja, vamos elegendo ao longo da nossa caminhada. Perguntas como: “O que é importante para nós?” e “Que tipo de igreja estamos construindo?” vão surgindo enquanto refletimos e requerem uma resposta.
Procuramos mostrar neste trabalho a necessidade premente pela busca de uma igreja relacional, cujo ambiente de amor e aceitação possa gerar esperanças e encorajamento no coração daqueles que da igreja se aproximam. Para que isso aconteça a igreja precisa ser uma comunidade mais de relacionamentos e menos de realizações.
Como alcançar este propósito? São muitas as maneiras, mas talvez possamos oferecer algumas pistas:
1ª) Ser uma igreja relacional deve fazer parte da declaração de missão da igreja;
2ª) Esta convicção deve fazer parte da convicção ministerial do pastor, bem como de toda a liderança;
3ª) Desenvolver programas que facilitem o encontro e o relacionamento entre seus membros, de modo que os mandamentos recíprocos encontrem ambiente para serem praticados. P. ex., grupos pequenos, ministério de discipulado, encontros acampamentos, etc.
4ª) Promover ambiente alegre e informal nas reuniões, nos cultos, sem contudo perder a reverência e o respeito que os momentos exigem;
5ª) Ministrações à igreja sobre relacionamentos através do púlpito, boletins, aconselhamento pessoal, estudos bíblicos, etc.
6ª) Começar pela liderança maior da igreja. A relação pastor-líderes deve ser uma relação de amor, aliança e cumplicidade, não permitindo que as tensões normais do dia a dia da igreja ganhem contornos de problema de relacionamento entre a liderança.
É sempre bom lembrar que uma igreja jamais irá além de onde está sua liderança, portanto, tudo começa e termina com os líderes!
7ª) Treinar os membros para que desenvolvam seus dons espirituais a fim de ministrarem uns aos outros e desenvolverem eles próprios seu ministério de poimênica;
8ª) Avaliação constante da saúde da igreja. Certamente existem bons materiais para isso, no entanto gostaria de indicar o capítulo 12 do livro “Creating a healthier church – family systems theory, leadership and congregational life”, de R. W. Richardson (1996, pp.159-183), onde o autor oferece parâmetros para tal avaliação.
Entendemos que há ainda muito a se discutir sobre este tema, no entanto, coube-nos a tarefa de despertar a atenção dos líderes para este aspecto tão importante para a vida da igreja.
Lembro-me de ter ouvido certa vez, em meio a um congresso sobre a batalha espiritual na qual estamos inseridos, uma frase que acentuou ainda mais esta nossa convicção quanto à vocação terapêutica da igreja: “A igreja, antes de ser um quartel general é a comunidade do amor!”
Este é o nosso desejo e assim esperamos que seja.
Amém!
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ARNOLD, W. V., Introduction to pastoral care. Philadelphia, The Westminster Press, 1982
CLINEBELL, H. J., Aconselhamento pastoral – um modelo centrado em libertação e crescimento. São Paulo, Ed. Paulinas e Ed. Sinodal, 1987
COLLINS, G. R., Ajudando uns aos outros pelo aconselhamento. São Paulo, Ed. Vida Nova, 2ed, 1990
CRABB, L., Princípios básicos de aconselhamento bíblico. Brasília, Ed. Refúgio, 2ed, 1998
FARIA, A. L., Implicações psicológicas da tarefa pastoral, In: Saúde pastoral e comunitária, LISBOA, A. H.(org), São Paulo, CPPC, 2ed., 1985,pp.16-18
HECKERT, U., A busca da integridade, In: Saúde pastoral e comunitária, LISBOA, A. H.(org), São Paulo, CPPC, 2ed., 1985, pp.12-16
LEÓN, J. A., Introdução à psicologia pastoral. São Leopoldo, Ed. Sinodal, 1996
RICHARDSON, R. W., Creating a Healthier Church – family systems theory, leadership and congregational life. Minneapolis, Fortress Press, 1996
VV. AA., Psicologia e ajuda pastoral, São Paulo, CPPC e Nascente – Livraria e Editora Ltda, 1985
VANIER, J., Comunidade, lugar do perdão e da festa. São Paulo, Paulinas, 3ed., 1985
ZANDRINO, R., Curar também é tarefa da igreja, São Paulo, CPPC, 1986
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Trabalho apresentado em cumprimento às exigências da disciplina ‘Fundamentos Bíblico-Teológicos do Aconselhamento Pastoral’, ministrada pelo Prof. Dr. James Farris – Faculdade Teológica Sul Americana. (www.ftsa.edu.br)
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