Autor: Humberto Xavier Rodrigues
A conversação de Nicodemos com Jesus no capítulo três do evangelho de João, ocorreu em três movimentos. Nos versículos 2 e 3, nós temos o primeiro movimento, no qual vemos Nicodemos e Jesus face a face. O segundo movimento ocorreu entre os versículos 4 e 8, em que vemos Nicodemos e Jesus mente a mente. E o terceiro movimento está entre os versículos 9 e 21, em que vemos Nicodemos e Jesus numa relação de coração para coração.
Primeiro movimento: face a face. Nicodemos não se contentava simplesmente em saber dos muitos testemunhos dos milagres do Senhor. A sua consciência estava atenta, ele não conhecia nada acerca da Verdade, mas sabia que ela estava em Jesus – e desejava-a. Todavia, ele tinha, instintivamente, a consciência de que o mundo se lhe apresentava em oposição – e veio de noite! Este foi ter de noite com Jesus. A amizade do mundo é inimizade contra Deus.
No caso de Nicodemos, seu coração foi despertado para procurar o Senhor Jesus. Ele tinha sido convencido, tal como outros, por isso disse: Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele. Mas o Senhor interrompeu-o imediatamente, por causa da verdadeira necessidade que se fazia sentir na alma de Nicodemos. A obra de Deus não consiste em agir ensinando o velho homem. Esse tem que dar lugar ao novo homem, sem o qual ninguém verá o reino de Deus.
O que vemos na história deste homem é que ele vai além de todo o pensamento humano, de toda teologia e de toda a sua religião para descobrir a Verdade. Por isso, Jesus disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Não se pode ver o reino de Deus sem a nova vida, a vida que vem do alto. Para Nicodemos, esta foi uma resposta estranha.
Mas, eles são vistos face a face, Nicodemos permaneceu na presença do Mestre, aguardando o ensinamento final e oficial, e o Mestre disse que o que ele necessitava não era de graduação. Nenhum conhecimento produz regeneração, exceto aquele que vem do alto. Para fazer parte ou entrar no reino de Deus, então, é necessário nascer de novo. Mas Nicodemos nada mais viu além da carne. Na realidade, o homem precisa nascer de novo para poder discernir o que vem de Deus. Apesar de não ter compreendido, creu que havia no Senhor algo de que estava necessitando. Por isso, não desistiu de continuar questionando o Senhor.
Agora temos o segundo movimento: mente a mente. Nicodemos pergunta: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer? Ele não estava contradizendo o Senhor. Nicodemos tentou entender esse novo nascimento no campo da mente, visto que ele recorreu a uma ilustração no campo natural. Então, Jesus se voltou para ele e disse: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.
O Senhor, de maneira maravilhosa, ilustrou o novo nascimento falando que era preciso duas coisas: ser nascido da água e ser nascido do Espírito. É provável que o Senhor estivesse se referindo à passagem de Ezequiel, tão familiar a Nicodemos, para despertar a sua consciência. Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. Ezequiel 36:25.
A água lava e purifica o homem. Aplicando-a no sentido espiritual, essa purificação tem lugar nos seus afetos, no seu coração, na sua consciência, nos seus pensamentos e nos seus atos. A verdadeira água que purifica o homem é a que saiu do lado de Cristo. Um soldado abriu o lado de Jesus com a sua lança. Um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. João 19:34. Sangue e água saíram do Salvador morto.
Pelo derramamento do sangue de Cristo, temos a redenção e remissão dos pecados. Todos os que são sensíveis à vergonha e à hediondez do pecado sentem-se agradecidos. Quão gratos somos a Deus porque o sangue do Senhor Jesus nos purificou dos pecados e na Sua morte, nós libertou do poder da morte. E ainda nos acrescentou o que nunca tivemos antes: A Sua presença em nossos corações!
O terceiro movimento: de coração para coração. Este movimento nos fala do relacionamento vivo com o Salvador. Aquilo que recebemos na mente deve descer ao coração. O conhecimento que estaciona na mente e não desce para o coração produz soberba. O salmista expressou assim o seu desejo por Deus: ASSIM como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus? Salmo 42:1-2.
Esta alma não estava pensando ou especulando acerca de Deus, mas no “Deus vivo”, no Deus pessoal. Sua alma tinha sede do Deus vivo, suspirava por esse conhecimento, um conhecimento vivo e direto de Deus, não um conhecimento acerca de e sim um conhecimento pessoal. É necessário um conhecimento vivo que resulte em verdadeiros adoradores, um conhecimento semelhante ao do profeta Isaías: No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e o seu séquito enchia o templo. Isaías 6:1. Esse é o conhecimento que Deus quer nos dar de Si mesmo: um conhecimento que produz vida.
Então, Nicodemos veio com a última pergunta: Como pode ser isto? Ou qual é método ou o processo? Então, com ternura, Jesus disse:Tu és mestre de Israel, e não sabes isto? A resposta de Jesus para o último “como” de Nicodemos foi respondida em três momentos. O primeiro momento ou o processo da resposta de Jesus a Nicodemos foi: E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado. Era preciso que o Filho do homem fosse levantado como a serpente o tinha sido no deserto para que a maldição que pesava sobre o homem fosse retirada.
O homem tinha que ser remido, o seu pecado devia ser expiado, retirado, e ele mesmo tratado de acordo com a verdade do seu estado e o caráter de Deus, que não poderia renegar-Se a Si próprio. Assim, Cristo tomou o lugar do homem, em graça. O nosso Senhor veio com pleno conhecimento do que era o céu e a glória divina. E para que o homem dela pudesse participar, era preciso que o Filho do homem passasse pelo “vale da sombra da morte”.
A morte é a porta para a vida. Co-crucificaçao abre a porta para co-ressurreição. Identificação com Cristo em Sua morte e sepultamento é apenas o começo da união do crente com Ele numa vida interminável, Ruth Paxon. No grande argumento do Espírito Santo sobre a nossa identificação com Cristo, Ele disse que o nosso velho homem, esse homem oculto do coração, que estava cheio de morte espiritual, foi pregado na cruz em Cristo. Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado. Romanos 6:6.
Ninguém pode participar da glória de Deus sem passar pela cruz. Cristo levantado da terra atrai a Si todos os homens. Essa atração significa a nossa completa união com Ele no Seu sacrifício. Morremos com Cristo, fomos sepultados com Cristo, ressuscitamos em Cristo e estamos assentados nos lugares celestiais em Cristo. Ninguém pode nascer de novo sem primeiro passar pela morte em Cristo. Insensato! o que tu semeias não é vivificado, se primeiro não morrer. I Coríntios 15:36.
O segundo momento ou processo da resposta de Jesus a Nicodemos: Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. João 3:16. Sob o ponto de vista espiritual, vê-se na cruz a necessidade da morte do Filho do homem e vê-se o dom inefável do Filho de Deus. Estas duas verdades reúnem-se num fim comum que é o dom da vida eterna a todo aquele que crer. O amor de Deus pelos homens foi expresso pelo dom de Seu Filho para ser o Salvador deles. O apóstolo Paulo se referiu ao amor de Deus como “grande”. Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou. Efésios 2:4.
O terceiro momento: Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. João 3:17. O nosso Senhor Jesus veio ao mundo para nos dar vida. Ele é a água e o pão da vida, e veio para nos dar vida em abundância. É pela vida de Jesus que vivemos uma vida provada pela morte. A luz do evangelho brilha, mas “o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos”, e o cego não reage ao estímulo da luz. Como Cristo explicou a Nicodemos, Se alguém não nascer de novo não pode ver o reino de Deus.
Assim, Deus salva não apenas para a sua glória, mas também para sua satisfação. Isto nos ajuda a explicar porque há alegria quando um pecador se arrepende, e porque haverá “grande alegria” quando nos colocar imaculados na Sua santa presença no último dia. Essa revelação ultrapassa nosso entendimento, como diz as Escrituras. Assim é o amor de Deus: Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória, Ao único Deus sábio, Salvador nosso, seja glória e majestade, domínio e poder, agora, e para todo o sempre. Amém. Judas 24-25.
Que a nossa oração se assemelhe a esta feita por Henry Scougal, no seu livro a Vida de Deus na Alma do Homem: Ó Jesus, meu Salvador, bendita a Tua humildade! Imprime-a em meu coração, faze-me mais sensível face à Tua dignidade infinita e face à minha vileza pessoal, para que eu seja capacitado a odiar-me como uma nulidade e a aceitar ser desprezado e ser pisado por todos como a mais torpe lama das ruas, e para que eu mantenha estas palavras: NÃO SOU NADA, NÃO TENHO NADA, NÃO POSSO FAZER NADA, E NÃO DESEJO NADA, SENAO O MEU SENHOR E SALVADOR.
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