Os jovens, a família e os desafios

Mulher segurando buquet de flores

A globalização, um fato incontestável, deveria antes aproximar-nos em vez de distanciar-nos dos problemas. De maneira inversa, as ocorrências, ligadas aos tumultos, crimes e violências se tornaram tão triviais e repetidas que trouxeram o enfraquecimento nas reações, e produziram um fenômeno, o de se considerar normal o que deveria ser inaceitável. As sociedades estão perdendo a capacidade de indignação e de protesto, o que configura profunda distorção. A força moral, tão necessária, vem sofrendo um colapso de conseqüências nefastas que atingem, em especial, as novas gerações.
O mundo vai mal, e o que está por vir é sombrio. Decisões importantíssimas e prestes a ser lavradas por autocratas dementes como o da Coréia do Norte,podem acender o pavio da guerra nuclear. Genocídios em massa, guerras fratricidas e ameaças constantes entre países beligerantes como o Irã, a Síria, a Turquia, o Iraque, Israel e Palestina, constituem sérios desafios que trazem aflição e insegurança.
No Brasil, a violência junto da impunidade que protege, especialmente, os maiorais e o “de menor”, já se tornou uma realidade em que o cidadão do bem se tornou o refém e a vítima do criminoso, beneficiário da singular “interpretação” dos “direitos humanos”, que não o exclui da circulação para voltar a praticar novos crimes. Há poucos dias, no Rio de Janeiro, o caso da jovem turista, estuprada por um bando, inclusive um menor, ganhou dimensão internacional.
Pois bem, e para não sair do foco desta reflexão que vai demandar um pouco mais do espaço permitido, achei melhor sequenciá-lo. Neste ano a Campanha da Fraternidade enfocou a Juventude, esta que também se prepara para a “Jornada Mundial da Juventude”, a realizar-se no Rio de Janeiro em julho, com a presença do novo Papa Francisco, eleito em março último.
Entre os vários fatores e anomalias que atingem a sociedade brasileira, podemos destacar, entre os principais, a desagregação familiar e a Educação. Nas últimas décadas, o estímulo exagerado ao consumo, feito pelo governo e os meios de comunicação deram ênfase à Economia, excluindo o ser humano e reduzindo-o a uma peça do contexto no desprezo aos alicerces morais, ao aprendizado existencial e de formação, com base na educação, não somente na primeira escola do lar, como também na escola pública e outras instituições que deveriam ser, realmente , do ensino.
A aquisição material e o consumo passaram a ser as regras do jogo, criando a mentalidade de que o ter é fundamental na conquista da felicidade. O ser humano passou a ser valorizado pelo tanto que possui, pela casa e o bairro onde mora, pelo carro de marca e de data, pela ostentação fictícia e a competição desenfreada, que criou , inclusive, uma inadimplência entre os de baixa renda.Nessa conjuntura, crianças e jovens, entraram no círculo vicioso deste consumo em que o essencial se perdeu. Muitos, sem meios materiais para acompanhar a onda, foram buscá-la a qualquer custo, navegando nos meios ilícitos da prostituição, do roubo e do crime, apoiados pelos exemplos dos maiores, dos políticos e cidadãos inescrupulosos que há muito tempo fizeram de sua vida pública um meio para enriquecer. Os valores morais, aqueles que devem nortear a conduta humana foram desprezados e jogados às urtigas.
A violência atingiu um patamar estratosférico; crianças e jovens são vitimados absurdamente e o Brasil já conquistou um dos primeiros lugares do mundo neste patamar. A paz e a segurança que tanto desejamos, inclusive aquela que se obtinha no seio das famílias, desapareceu para ceder lugar ao desconforto, à desordem e à agitação frenética, ao medo,ao estresse e às neuroses.Uma realidade que, esperamos ver transformada a partir das muitas transformações que devem principiar pelos meios de comunicação, sem dúvida um dos agentes mais perniciosos neste esfacelamento de valores essenciais como os da família, da sexualidade e dos relacionamentos inconsequentes, aqueles que dão sentido à vida.

Myria Machado Botelho