Autor: Sergio Fortes
Vinte e duas mulheres fisicamente preparadas e talentosas competiram na final de futebol dos recentes Jogos Olímpicos de Pequim. Lutaram valentemente para concretizar seu sonho: conquistar a ambicionada medalha de ouro. Não importando o quanto ambas as equipes jogassem, havia apenas uma única medalha de ouro. Somente uma venceria. A outra teria que perder.
O tempo regulamentar terminou sem gol. Na prorrogação os times se alternaram chutando ao gol adversário, na tentativa de liderar o marcador e ser vencedor. A cobertura televisiva mostrou uma das jogadoras numa clara demonstração de desespero. Ao errar mais um chute exclamou: Meu Deus, o que está acontecendo?
Finalmente um dos times venceu. Exaustas, as perdedoras sentadas ou deitadas no gramado, choravam. A frustração era evidente. Em seus lares, a TV mostra parentes desapontados de algumas jogadoras derrotadas rompendo em lágrimas. No pódio, na cerimônia de premiação, o time de belas jovens com olhos vermelhos e inchados, não fazia a menor tentativa de ocultar o sentimento de derrota. Sem emoção, sorrisos ou alegria, receberam a medalha de prata do segundo colocado como algo de pouco valor.
O mundo profissional e empresarial não difere muito desse cenário das Olimpíadas. O ambiente corporativo se divide em vencedores e perdedores. Os que alcançam o segundo lugar são menosprezados e sem nenhuma razão para celebrar. Sentem-se fracassados. Um popular piloto brasileiro de Fórmula 1 declarou certa vez: O segundo colocado é o primeiro perdedor.
Os Jogos Olímpicos premiam também atletas que se colocam em segundo e terceiro lugares. Mas será que isso tem algum significado, já que somente a medalha de ouro é que realmente importa?
Um atleta que conquistou o terceiro lugar, abandonou a medalha de bronze no pódio argumentando que investira quatro anos para ganhar o ouro. Algo menos que ouro era inaceitável.
Competidores em eventos dessa natureza sabem que não podem cometer nenhum erro. Afinal, erros geram a perda da chance de ganhar o ouro. Valorizamos tanto o prêmio da vitória que subestimamos o valor do fracasso. Ao receber o Prêmio Nobel de Física pela descoberta da teoria quântica, Max Planck citou Goethe, escritor e filosofo alemão: Enquanto lutar por alguma coisa, o homem sempre estará sujeito a cometer erros. Em outras palavras, para avançar efetivamente não apenas cometeremos erros, como também aprenderemos com eles.
Ainda assim, admitir a derrota e seu irmão gêmeo, o fracasso nos amedronta. A sociedade saúda o vitorioso, paga tributo ao vencedor, premia o primeiro lugar. O perdedor fica abandonado no gramado, afunda atrás da escrivaninha, abandonado às agruras de ser vice-campeão. Assim, ocultamos nossos erros. Mascaramos nossos fracassos. Falência, insolvência, traição de sócio, tudo se encaixa na categoria de segundo colocado. Inaceitável. Albert Einstein, aclamado gênio e físico, declarou: Uma pessoa que nunca cometeu um erro jamais tentou alguma coisa nova. Na dura luta por sucesso, determinados a atingir o primeiro lugar, corremos o risco de esquecer importantes valores do “perdedor”. Jesus alertou: Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? (Mateus 16.26).
Saber estabelecer prioridades e distinguir o essencial do supérfluo é fundamental. Paulo, o apóstolo, compreendeu isso: E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas e as considero como esterco, para que possa ganhar a Cristo (Filipenses 3.8).
Nem sempre é possível vencer. Mas sempre será possível decidir o que não queremos perder.
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