Assuntos difíceis, nem tanto

Autor: João Falcão Sobrinho




Estávamos no sítio da Igreja de Irajá, em Xerém. Três meninos pré-adolescentes se aproximaram de mim com aquela cara de quem quer fazer pergunta:
– Pastor – começou o Daniel – o senhor sempre prega sobre mordomia. O senhor é capaz de pregar sobre mordomia em qualquer passagem da Bíblia?
– Olha – respondi –, mordomia é o modo de viver dos filhos de Deus. A Bíblia inteira fala sobre esse assunto. É difícil encontrar um texto que não fale.
Percebi que havia algo mais “engatilhado” e perguntei se algum deles tinha alguma passagem bíblica em mente. Danielzinho foi o primeiro a propor:
– “No princípio criou Deus o céu e a terra”. Dá pra falar de mordomia?
– Mas essa é maravilha, cara. Deus criou, então Deus é o dono, o Senhor dos céus e da terra. Todo o ensino de mordomia começa com a compreensão da soberania de Deus. Salmo 24: “Do Senhor é a terra e a sua plenitude; o mundo e aqueles que nele habitam”. Deus é o Criador. Nós somos criaturas. Deus é Senhor. Nós somos servos. É aí que começa a mordomia. Se vocês quiserem, já posso dar os três pontos desse sermão. Primeiro: Deus é Senhor justo, benigno, misericordioso. Ele pode exigir contas dos seus servos. Segundo: Nós somos mordomos, então temos que prestar contas de tudo a Deus. Tanto do nosso corpo, quanto da nossa mente e da nossa alma. Terceiro…
– Tá bom, tá bom – interrompe o Lucas. E emenda:
– “Não adulterarás”.
Aí eu vi que a coisa fora combinada. Que será que ainda vem pela frente? Pensei.
– O sétimo mandamento – disse eu – fala da santidade do casamento, da mordomia da família. Primeiro: a santidade do sexo é resultado da fidelidade a Deus, como na história de José do Egito, que vocês conhecem. Em segundo lugar, Deus requer fidelidade na mordomia da geração da vida. Deus quer que os filhos sejam gerados em pureza e fidelidade. Isso se chama mordomia da vida, entendeu? Dá pra pregar uma boa mensagem mostrando que o crente que não é fiel na sua mordomia é como ser infiel para o cônjuge.
Daniel deu meio passo atrás e ficou olhando para mim como quem diz: “E daí?”
– E daí? Aprenda a ser fiel mordomo de Jesus agora para que você, no futuro tenha uma família bem estruturada, feliz. O fruto que você vai colher lá na frente, você está plantando agora. Um menino na idade de vocês pode aprender a ser fiel mordomo de Jesus.
Faltava o mais peralta dos três, o Tiago, soltar sua bomba. Ele não se fez de rogado. Olhou para os companheiros de soslaio e disse com um sorriso que eu não diria isento de malícia:
– “E Judas, saindo dali, foi enforcar-se”.
– Esse é um bom texto – respondi – para começar a ensinar o que o mordomo cristão não é. O mordomo cristão não é ambicioso, não dá ao dinheiro um valor maior do que à sua própria alma, como fez Judas Iscariotes. Segundo ponto: O mordomo cristão não é desonesto. Ele não mete a mão no dinheiro de Jesus, como Judas fez. Terceiro: O mordomo cristão confia no perdão e na graça perdoadora de Jesus quando ele erra, o que Judas não fez. Em quarto lugar: Judas traiu o seu Mestre por trinta moedas de prata. Muitos cristãos estão traindo Jesus, em vez de testemunharem da sua salvação, por causa do dinheiro. Não são bons mordomos de Cristo, como Judas não foi. O bom mordomo protege o seu senhor. Judas, em vez de proteger Jesus…
Fui enumerando nos dedos as qualidades de um mordomo cristão aos nove, dez, onze anos de idade. No meio da conversa, Daniel olhou para o campo de futebol e disse:
– Aí, galera; é a nossa vez.
E os três saíram correndo, como é próprio dos meninos.

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