Coerência evangélica na terra do frevo

Autor: Dom Robinson Cavalcanti, OSE

Esclarecimento Episcopal

CONTINUEM LEMBRADOS…
– Coerência Evangélica Na Terra Do Frevo –
 
“Ao contrário de certas lideranças da República, não esqueçam o que escrevi”.

Essa frase constou do meu pronunciamento como bispo recém-sagrado, no “Auditório Guararapes” – Centro de Convenções de Pernambuco, Olinda, em 05 de outubro de 1997. Atrás dessa frase, então, estavam oito livros e centenas de artigos e palestras publicadas ao longo de décadas de um ministério acadêmico-religioso-político. Adiante dessa frase apareceram, nos anos seguintes: A Utopia Possível, A Igreja, o País e o Mundo e Igreja – Multidão Madura. Aprendemos, crescemos e avançamos cada dia, mas quanto aos fundamentos (como as montanhas), “estou onde sempre estive”. Como integrante do cristianismo histórico, e crente na Revelação, sempre defendi, continuo defendendo e sempre defenderei, a existência de valores éticos absolutos, permanentes e universais, inclusive quanto à sexualidade. Esse posicionamento é o mesmo da comunhão dos(as) santos(as). Senão vejamos:

01. A Ortodoxia Latina – Olhemos para a antiga, vasta e numerosa expressão Católica Ocidental da Cristandade: a Igreja Católica Apostólica Romana, a Igreja dos Vétero-Católicos, da União de Utrecht, e as Igrejas dissidentes da “Associação Internacional das Igrejas Católicas Nacionais”. Há credalidade, há confessionalidade, há doutrinas, há uma teologia moral, erudita, sólida, sistemática. Esse segmento majoritário da cristandade não tem, nem nunca teve, nada a ver com o fundamentalismo norte-americano do início do século XX, para estabelecer a sua dogmática, os seus princípios éticos, inclusive o da normatividade heteroerótica. Seria inadequado, impreciso e injusto rotulá-lo, pejorativamente, de “fundamentalista”. O Vaticano não precisou de Princeton para condenar a prática do homossexualismo…

02. A Ortodoxia Oriental – Olhemos para o Oriente, para as antigas, vastas e numerosas expressões católicas da cristandade: os Bizantinos (Igrejas da Rússia, Bulgária, Romênia, Grécia etc.), os Pré-Calcedônios (Igrejas da Armênia, Siriana, Copta, Malenkar=Índia etc.), e os Nestorianos (Igreja Assíria do Leste). Há credalidade, confessionalidade, há doutrinas, há teologia moral, erudita, sólida, sistemática. Esses segmentos orientais da cristandade não têm, nem nunca tiveram, nada a ver com o fundamentalismo norte-americano do início do século XX, para estabelecer a sua dogmática, os seus princípios éticos, inclusive o da normatividade heteroerótica. Seria inadequado, impreciso e injusto rotulá-los, pejorativamente, de “fundamentalistas”. O Santo Sínodo, do Patriarcado de Moscou, ou a Assembléia dos Santos, do papado egípcio não precisaram de Princeton para condenar a prática do homossexualismo…

03. A Ortodoxia Protestante – Uma das marcas da Reforma Religiosa do século XVI foi a redação de “Confissões de Fé”, como a de Westminster e a de Augsburgo. Esse trabalho foi ampliado pelo movimento ortodoxo do século XVII, e tornado vivo pelo Pietismo, pelo Avivalismo e pelo Movimento Missionário, (nos séculos XVIII e XIX). O Sínodo de Missouri da Igreja Luterana, por exemplo, é um dos herdeiros diretos dessa ortodoxia protestante continental. Nem esse Sínodo, nem as demais denominações ortodoxas do século XIX, não têm, nem nunca tiveram, nada a ver com fundamentalismo norte-americano do início do século XX, para estabelecer a sua dogmática, os seus princípios éticos, inclusive o da normatividade heteroerótica. Seria inadequado, impreciso e injusto rotulá-los, pejorativamente, de “fundamentalistas”. Protestantes credais, confessionais e morais não precisaram de Princeton para condenar a prática do homossexualismo…

04. A Ortodoxia Evangelical – Herdeiro espiritual de Wycliffe, da Reforma, da Ortodoxia Protestante e do Pietismo (com calvinistas e arminianos), o Evangelicalismo se sistematiza na Igreja da Inglaterra no século XVIII (na “Igreja Baixa”), com sua ênfase na conversão pessoal e na salvação pela fé no sacrifício de JesusCristo, bem como na autoridade das Sagradas Escrituras, no retorno de Jesus Cristo para o Juízo Final e na importância da pregação. Fletcher, Verin, Romarine, Newton foram alguns dos seus expoentes. Seu grande gênio, sem dúvida, foi Charles Simeon, Capelão da Universidade de Cambridge. Foi dele integrante também o missionário Henry Martin, e o grupo de Claphan, defensor da abolição da escravidão e de reformas sociais e trabalhistas. Foram, também, seus frutos a CMA (Church Missionary Society), a Aliança Evangélica (1846), hoje WEF (World Evangelical Fellowship) e a ABU (CCU), fundada em Cambridge, em 1878 (hoje IFES – International Felowship of Evangelical Students), que só chegaria ao Canadá na década de 1930, e aos Estados Unidos apenas na década de 1940. O Evangelicalismo e a ABU são fenômenos europeus, dos séculos XVIII e XIX (a sede da IFES é, hoje, em Harrow, Inglaterra), não têm, e nem tiveram, nada a ver com o fundamentalismo norte-americano do início do século XX, para estabelecer suas ênfases e os seus princípios, inclusive o da normatividade heteroerótica. Seria inadequado, impreciso e injusto rotulá-los, pejorativamente, de “fundamentalistas”. O Evangelicalismo histórico não precisou de Princeton para condenar a prática do homossexualismo…
O Evangelicalismo é anterior e abrangente. O Fundamentalismo é uma expressão extremada, localizada e posterior, nunca o contrário, segundo amplamente demonstra a História (e o percebem os pesquisadores honestos).

05. A Ortodoxia Fundamentalista – O termo “fundamentalista” aparece, historicamente, em três sentidos: a) A série “Os Fundamentos”, publicada nos Estados Unidos a partir de 1909, como decorrência da Conferência Bíblica dos Protestantes Conservadores, em Niágara, 1895, e seus “Cinco Pontos Fundamentais”: a inerrância verbal das Sagradas Escrituras, a divindade de Jesus Cristo, o Nascimento Virginal, o Sacrifício Expiatório e o retorno corporal de Cristo; b) a ideologia e sub-cultura sectária, racista, moralista e antiintelectual do sul dos Estados Unidos, com reflexos, principalmente nas “Missões de Fé” dos anos 40-70 (neo-fundamentalismo); c) o extremismo religioso judaico, islâmico, cristão, ou outro, do final do século XX e início do século XXI. Esse extremismo religioso se fez presente em círculos latino-americanos tradicionais e pentecostais. Ao condenarem, também, a prática do homossexualismo nem são os únicos, nem são originais…

06. A Fraternidade Teológica Latino-Americana (FTL) – Foi fundada em dezembro de 1970, em Cochabamba, Bolívia, como uma proposta evangelical com compromisso social e inculturação. A maioria dos seus fundadores era egressa da ABU, herdeira teórica do evangelicalismo inglês dos séculos XVIII e XIX (Arana, Escobal, Padilha etc.), influenciados teologicamente pelo missionário escocês John Macay e, politicamente, pelo aprismo peruano de Victor Raul Haya de la Torre (nacionalismo, socialismo). A FTL foi, desde o início, um movimento afirmativo (a Teologia da Libertação surgiu depois) e teve forte impacto no Congresso de Lausanne (1974) e na Teologia da Missão Integral da Igreja, expressa no seu “Pacto”. Houve uma diversidade de origens e influências entre os seus expoentes, expressão da riqueza do Evangelicalismo. (Um dos líderes da FTL, por exemplo, o mexicano Rolando Gutierrés-Cortez, foi discípulo de Barth, em Estrasburgo).

07. A CONELA – Desde a década de 1950 que a maioria das Igrejas Latino-americanas tinha optado por um distanciamento do Conselho Mundial de Igrejas – CMI (de hegemonia liberal) e do Conselho Internacional de Igrejas Cristãs – CIIC (de hegemonia fundamentalista). O temor de uma agenda imposta ao CLAI pelo CMI concorreu para a fundação da CONELA em uma reunião mediante convites (não “reunião secreta”) em Pattaya, Tailândia. A idéia (minha) de ter a Assembléia de fundação no Panamá era de recuperar a “mística” de 1916: a) a América Latina é um continente pagão-batizado; b) a América Latina é um continente a ser evangelizado, e c) essa evangelização será melhor alcançada com a unidade dos evangélicos. O controle posterior da entidade por Bill Bright, Luiz Palau e outros da direita política e religiosa norte-americana levou ao afastamento de muitos dos seus fundadores (inclusive eu).

08. Uma Memória Autobiográfica – Durante os primeiros dezoito anos da minha vida (antes do Concílio Vaticano II) fui um católico romano praticante, instruído pelo catecismo do Pe. Álvaro Negromonte, pela série “Vozes em Defesa da Fé” (Ed. Vozes, Petrópolis, RJ), e pela segura orientação do meu Pároco (Paróquia de Santa Maria Madalena, União dos Palmares/AL), Monsenhor Clóvis Duarte de Barros, complementada pela continuidade do Curso Clássico (2º Grau), no Colégio Nóbrega, dos Jesuítas (Recife-PE), e os primeiros passos na filosofia do Humanismo Integral e do Solidarismo. Os quatro anos como aluno de Ciências Sociais, e os seis anos como professor na Universidade dos Jesuítas (UNICAP), coincide com a realização e a avaliação do Concílio Vaticano II. Como aluno mergulhei no estudo da Doutrina Social da Igreja, particularmente os documentos sociais pontifícios, e na continuidade dos estudos filosóficos. Como professor estudei todos os 16 documentos oficiais daquele Concílio. A abertura para o mundo, o diálogo e a instrumentalidade da Filosofia e das Ciências Humanas se deu em minha peregrinação intelectual e espiritual, preservando a herança confessional e doutrinária da Igreja, e não por sua negação. A fé ortodoxa e, ao mesmo tempo, militante é algo que devo agradecer, em grande parte, à minha longa convivência com a Sociedade de Jesus (1961-1974).

Com a minha decisão por Jesus Cristo – como único Senhor e Salvador – e opção final pela posição reformada, confirmei a fé e passei dos 18 aos 30 anos na Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB), da tradição do Sínodo de Missouri, alimentando-me da confessionalidade protestante dos séculos XVI e XVII da Europa Continental, particularmente os Catecismos de Lutero e a dogmática de Piper: Com a participação na Aliança Bíblica Universitária (ABU), como estudante e assessor, por dez (10) anos, fui, por quatro (04) anos, discipulado no Evangelicalismo inglês, pelo Rev. Dionísio Pape, enquanto aprofundava o estudo de Stott, Packer, C. S. Lewis e tantos outros evangelicais.

Como aluno do Curso Clássico, de Ciências Sociais, de Direito (UFPE) e do Mestrado de Ciência Política (IUPERJ) procurei seguir o ideal paulino de “Examinar de tudo e reter o bem”: do Marxismo ao Existencialismo, da espiritualidade cristã do Oriente ao Liberalismo e à Teologia da Libertação, integrando-os, no possível, à vértebra das convicções historicamente construídas.

Nesses estudos (no campo do cristianismo) vim a conhecer as principais heterodoxias contemporâneas: o Mormonismo, as Testemunhas de Jeová, a Ciência Cristã e o Liberalismo Teológico. Os três primeiros criaram seus próprios espaços eclesiásticos, o último, às vezes (Igreja Unitária Universalista), mas, na maioria das situações, permaneceu no interior da instituição, emprestando sentidos inteiramente novos, diversos e conflitantes ao vocabulário e aos conceitos usados historicamente pela Igreja. No mesmo espaço convivem, desde então, “dois cristianismos” ou “dois evangelhos”. Este é o âmago da questão.

Os “templos-museus” do Primeiro Mundo (particularmente da Europa), atestam o fracasso de um nihilismo, racionalista e relativista. A negação e a dúvida não são respostas espirituais para o ser humano, qualquer que seja a época e a cultura. Sabemos que há ambigüidade, pecado e problemas nas Igrejas Cristãs de todos os países, onde houver gente para vivenciá-las. O problema básico do espaço liberal é que nem gente há. A negação da unicidade de Jesus Cristo e da Igreja, o universalismo, o maniqueísmo, a arrogância intelectual, a ausência de uma fé em um Deus que intervém, salva e opera milagres não é atrativo para os “cansados e sobrecarregados”, qualquer que seja a sua cultura, nível de instrução ou classe social.

Em meus 40 anos de militância cristã, continuo acreditando que: “Há princípios permanentes, revelados e de validade universal”. Creio que a Filosofia do Senso Comum, de Thomas Keid, é apenas uma sistematização de pensamento a posteriori, da percepção do conhecimento objetivo que as religiões ensinaram por milênios, e não causa de coisa alguma. Não fui influenciado pelo fundamentalismo norte-americano do início do século XX. Assumo a identidade cristã, anglicana, protestante e evangelical, em sua vertente progressista da Missão Integral da Igreja. Um evangelical é um evangelical, que não deve ser tratado pejorativamente de “fundamentalista”, nem deve se esperar que creia ou se comporte como liberal, por mais progressista que seja, ou que creia ou se comporte como um fundamentalista, por mais conservador que seja. Afirmo e mantenho o que escrevi nos meus onze livros e centenas de palestras e artigos. Não “tucanei”, e não me “reconciliei” com um fundamentalismo onde nunca estive, e com quem (obviamente) nunca poderia ter rompido. Não preciso ser fundamentalista para crer na existência e ação de satanás, nem ingênuo ou maquiavélico para acompanhar os conflitos políticos no interior da cristandade.

A ECUSA (Igreja Episcopal nos Estados Unidos), com a hegemonia liberal, perdeu quase um milhão de membros em 20 anos (1963-1986), e a IEAB, como única Igreja missionária no Brasil que rompeu com as convicções dos seus pioneiros, perdeu o vigor, fechando Paróquias e Missões, decaindo, em um raquitismo, compensado pela atitude isolacionista “superior”, e agora, com o aparente alinhamento do seu estamento de poder ao estamento de poder da ECUSA, se arrisca a perder a sua credibilidade, a sua respeitabilidade, impedindo que tantos brasileiros se nutram da riqueza anglicana, arriscando-se a se transformar em uma seita pitoresca, uma contra-cultura ou um gueto para o exótico, enquanto os seus escassos seguidores parecem se sentir realizados com coreografias litúrgicas, elucubrações intelectuais e na pretensão de uma “missão civilizatória” diante dos “ignorantes” e “atrasados” cristãos deste país. Cada leigo e clérigo fiel às Sagradas Escrituras e a Tradição (aparentes minorias na IEAB) estão salvando a reputação e o futuro do Anglicanismo no Brasil, diante do vanguardismo irresponsável de alguns. Kinsolving não foi esquecido, nem inteiramente abandonado.

Não sou, nem nunca fui um oportunista. Estou envolvido com a causa credal, confessional e moral do anglicanismo desde bispo-eleito, quando compareci à Consulta da Ekklesia em Dalas, Estados Unidos. Participei ativamente (e claramente) do diálogo que uniu as correntes históricas em Lambeth 1998, e que resultaram, como expressão do Consenso dos Fiéis, na aprovação da Resolução 1.10 sobre “Sexualidade Humana”. Desde então tenho falado e escrito defendendo esse posicionamento.

A divulgação de minhas Cartas Pastorais e Reflexões Episcopais (como bispo não só do Recife, mas da Igreja Universal) não são “propaganda” ou “provocação”, mas divulgação de idéias, afirmação de posição e apoio pastoral aos anglicanos históricos em todo o país, e explicitação, para a opinião pública, dos pontos de vista oficiais e majoritários do Anglicanismo, tantas vezes omitidos. Nunca optei pelo “poder episcopal”, mas, como Suzane Labin, creio no “poder das idéias”.

Não me move um conflito de poder eclesiástico, mas a fidelidade ao Sagrado Depósito da Fé Apostólica, vivido e sofrido por dois mil anos, e hoje ameaçado. É este um dos mais sérios conflitos da História da Igreja.

Creio no “Espírito da Verdade” e não nos “espíritos da dúvida”, e que a Verdade, revelada, objetiva, nos liberta.

Na Diocese Anglicana do Recife “sofremos críticas descaridosas de grupos religiosos extremistas” (denominações e igrejas que nos atacam e tentam roubar nossas ovelhas, identificando-nos com a insensatez da ECUSA), e “hipócritas” (os grupos cismáticos (03) que nos deixaram no ano passado, e que, insinceramente, fazem o mesmo). 

Todas as referências feitas em nossos escritos à necessidade de um redesenho institucional da Comunhão Anglicana, com fronteiras não-geográficas e formas alternativas de supervisão, são motivadas pela situação da ECUSA e da Igreja do Canadá, e que deverá ter desdobramentos com a Sagração de Gene Robinson, como atesta o documento do recente Encontro Extraordinário dos Primazes, em Lambeth.

Enfrentei três grupos cismáticos na DAR (com simpatias alhures…). Insinuações de “cismático” é uma injúria. Na Carta Pastoral: Fidelidade, Unidade, Esperança, condenei expressa, e enfaticamente, as tentações cismáticas (item 05). Os cismas podem se dar tanto pela ruptura institucional quanto pela ruptura ideológica (o que já ocorreu com a ECUSA). Sou anglicano, fiel ao Anglicanismo, e nunca deixarei a Comunhão Anglicana (institucional ou ideologicamente). Espero, sinceramente, que a IEAB tenha a mesma atitude. Afirmar que “A Diocese Anglicana do Recife é uma Igreja local, jurisdição autônoma dentro de uma Província interdependente da Comunhão Anglicana” (IEAB) é afirmar o óbvio. Naquele texto, Valores Eternos, Formas Temporais, também declaro (o que para nós anglicanos históricos também é o óbvio): “Estamos, pois, por nossos Cânones e Resoluções Conciliares, expressando a nossa comunhão com a Sé de Cantuária, afirmando e propagando a Fé e a Ordem histórica, estabelecida no Livro de Oração Comum (LOC), e, de boa fé, dispostos a acatar as Resoluções dos órgãos colegiados e sinodais da Comunhão e da Província, sempre que não sejam contrários às Sagradas Escrituras e ao Ensino Apostólico” (o que também deveria ser óbvio para todos os cristãos autênticos).

09. Uma Teologia da Sexualidade – No início dos anos 1970 fui desafiado pelos estudantes da Aliança Bíblica Universitária (ABU) e Aliança Bíblica Secundarista (ABS) a escrever um livro sobre sexualidade. Havia um renovado interesse pelo tema e apenas dois textos no mercado: Mais Puro que o Diamante, opúsculo protestante, e A Vida Sexual de Solteiros e Casados, do Padre-médico João Mohana, da Igreja Romana. Procurei listar os temas-lacunas-interesses, levantar uma bibliografia, realizar entrevistas. O espaço dedicado a cada tema foi resultado da opinião das pessoas pesquisadas e da sua ausência na literatura no vernáculo. O resultado foi um texto pioneiro de autor nacional evangélico sobre o tema: Uma Benção Chamada Sexo (ABU Ed., SP), com oito edições vendidas no Brasil, Portugal e África (um best-seller de 1976). Realizei um trabalho didático, esclarecedor, interdisciplinar, não fugindo de nenhum dos assuntos demandados: divórcio e novo casamento, masturbação, poligamia, homossexualismo, celibato, casamento misto, o valor das cerimônias etc., à luz das Sagradas Escrituras, da História da Cultura, da História do Pensamento Cristão, e da História da Vida Privada no Brasil.

Por cinco anos participei do NIES-Núcleo Interdisciplinar de Estudo da Sexualidade, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e de eventos do NIESIM da UNICAMP; fui debatedor (com Luiz Mott) no Congresso Brasileiro de Homossexuais, além de ter proferido palestras e participado de debates em círculos acadêmicos e religiosos por muitos anos e diversos lugares.

Lamentavelmente, as denominações evangélicas não priorizaram esse tema existencialmente básico (e em rápido processo de mudanças) em suas agendas. Do lado liberal tivemos algo produzido por Rubem Alves e Jaci Maraschin, o resto foi uma enxurrada de traduções fundamentalistas-legalistas-moralistas vindos do sul dos Estados Unidos, e o seu braço operacional local: o Pr. Jayme Kemp ou a influência de pastorais familiares conservadoras da Igreja de Roma. As Igrejas, em geral, saíram de uma situação de lacuna e da desinformação para a de um unilateralismo e censura.

Uma década depois (assessorado por 10 pesquisadores evangélicos de várias áreas do conhecimento) voltei ao tema, retomando os antigos posicionamentos, ampliados, com a publicação de Libertação e Sexualidade (Temática Publicações, SP), duas edições. Descobri um público evangélico muito mais fechado do que na década anterior, e de “cabeça feita” pela linha do Pr. Kemp e assemelhados. A opção da Igreja foi anos em silêncio (“não pergunte” x “não responda” x “não sei de nada”) ou a manutenção de uma dogmática teórica oficial, como um troféu formal a ser liturgicamente reverenciado, enquanto a base dos fiéis, sem orientação teológico-pastoral, ou sob influência da cultura secular, vive todas as situações erótico-afetivas, análogas aos não-cristãos, no que denominei de “clandestinidade erótica protestante brasileira”, que tanto pode se distanciar das posições oficiais das Igrejas, quanto da cultura nacional/regional tradicional ou cosmopolita, como podemos atestar, ao longo dos anos, pelo diálogo pastoral em confiança. Situações que acarretaram, tantas vezes, tensões emocionais danosas.

Ao longo desses 30 anos de pesquisa e de produção, tenho aprofundado, ampliado e diversificado as fontes, mas nunca me afastei das pressuposições com que tenho operado. Aliás, sempre recebi “chumbo grosso” de fundamentalistas e de setores mais conservadores do evangelicalismo. Estes padecem de um nítido etnocentrismo, ao lerem seletivamente a Bíblia e a História a partir da expressão conservadora da cultura ocidental contemporânea, procurando identificar o seu modelo de família, seus usos, costumes e normas, com o ideal endêmico, e com as instituições erótico-afetivas de todos os tempos e lugares, além de rejeitarem qualquer auxílio metodológico, filosófico ou científico. A necessidade de segurança emocional os faz apelar para uma chancela do sagrado, e uma visão de uma “revelação progressiva”, em que a cultura religiosa ocidental hoje é uma evolução, superior a todas as demais e a todo o passado (do “lado direito”, expressam uma atitude semelhante aos liberais, do “lado esquerdo”).

Como alguém que dedicou quarenta anos de sua vida (como aluno e como professor) ao estudo das Ciências Humanas (particularmente às Ciências Sociais), e como evangélico progressista, aceitar a ótica fundamentalista seria intelectualmente uma violência, além de um desrespeito para com as Sagradas Escrituras e os seus personagens, e o pensamento e a prática da Igreja em outras épocas e culturas. Aceitar a ótica liberal, mais do que desrespeito, seria a sua negação.

Qual tem sido, então, o núcleo das minhas análises?
01. Há uma revelação. Deus se comunica com suas criaturas, particularmente com os povos da Primeira e Segunda Alianças. É preciso escutá-Lo, discerni-Lo e obedecê-Lo, também, em suas dimensões normativas, éticas;
02. As religiões monoteístas semíticas atribuem status de revelação a seus livros sagrados (Torah, Novo Testamento, Alcorão), que incluem, dentre inúmeros assuntos, a sexualidade;
03. A legitimidade dessa revelação é atestada pela experiência da fé pessoal e comunitária, expressa no consenso (consensum fidelium) que permanece como um núcleo estável ao longo das diversas épocas e culturas;
04. A doutrina do mandato cultural que concede/atribui à humanidade a criação cultural, é afetada ontológica, espiritual e moralmente pelo Pecado Original, e ministrada pela Graça redentora e pela possibilidade de conversão pessoal, comunitária e institucional. As culturas não podem (a priori, e in totum) ser demonizadas ou sacralizadas;
05. No campo da afetividade e da erótica, e das instituições sociais reguladoras (como nos recorda o Bispo Stephen Neill) há situações: a) adiáforas = indiferentes; b) aberrações = abominações; c) imperfeições. Os textos e o consensum fidelium têm elaborado, historicamente, essa distinção, entre o que contraria o ideal ético divinamente proposto, e o que fica aquém desse ideal. 

A partir dessas premissas, afirmamos que:
01. São interditos proibitórios divinamente decretados, particularmente, às seguintes práticas:
a) A zoofilia – atração/realização com seres vivos irracionais;
b) A necrofilia – atração/realização com seres mortos (do mesmo ou do outro sexo);
c) O homossexualismo – atração/realização com pessoas do mesmo sexo;
d) O estupro – realização sexual mediante violência;
e) A prostituição – realização sexual mediante remuneração ou recompensa material.

02. Recebem forte censura da revelação, por ferirem o ideal, dentre outras práticas:
a) O incesto – relacionamento sexual com parentes próximos;
b) A fornicação – relacionamentos sexuais efêmeros, carentes de sentimentos/ compromissos;
c) A lascívia – sexocentrismo, sexomania, obsessão sexual.

Afirmando que os seres humanos são corpóreos e sexuados, e que essa criação é boa e para a realização: prazer, afetividade, procriação etc., a esse respeito, escrevi: “Deus, igualmente, criou o ser humano com um corpo sexuado (“e os fez macho e fêmea”). A sexualidade não veio com a Queda (Pecado Original), e, muito menos, foi a própria. Ao contrário, a sexualidade estava nos planos originais de Deus”. E, ainda: “A leitura das Sagradas Escrituras nos leva a afirmar certos parâmetros básicos, alvos éticos construtivos, quanto à sexualidade. Diferentemente de meros costumes ou tradições, esses padrões, quando rompidos, possuem uma dimensão patológica, de riscos, de danos, de negatividade em si mesmos. Como tudo na vida, há uma permanente tensão entre os alvos éticos de Deus na Ordem da Criação e a antiética representada pelo pecado na Desordem da Queda”. (Libertação e Sexualidade, pp.28-29). 

03. São percebidas, pela Teologia Moral, dentre outras, como imperfeições, ou práticas não-abomináveis, mas aquém do ideal:
a) O celibato involuntário (resultado do desequilíbrio demográfico);
b) Os casamentos mistos (servos(as) do Senhor com não-servos(as));
c) O divórcio (ruptura do pacto de afeto-compromisso matrimonial);
d) A poligamia simultânea (várias uniões matrimoniais ao mesmo tempo) e a poligamia sucessiva (várias uniões matrimoniais seguidas, fruto do divórcio).

Temos crido, afirmado e defendido, sempre, que, o padrão ideal é biblicamente claro: as uniões matrimoniais heterossexuais, monogâmicas, permanentes e monoreligiosas (“no Senhor”), vivenciáveis por todos os seres humanos.

Tradições culturais, fragilidades espirituais, necessidades emocionais ou desequilíbrio demográfico (mais mulheres do que homens, p.ex.) – natural, ou resultado de guerras ou enfermidades – explicam e/ou justificam a prática afetivo-erótica de imperfeições, conjunturalmente, sem nunca revogarem o padrão ideal. Quando todos os valores de uma instituição não puderem ser vivenciados simultaneamente, a Teologia Moral tem ensinado a se estabelecer, pela boa consciência, uma hierarquia de valores, priorizando-se a supressão do que for tido como menos danoso. O que tem resultado em controvérsias teológicas dentre os defensores da normatividade heterossexual, tanto ao nível da reflexão teórica, quanto da experiência pessoal e histórica. Esse é o caso, por exemplo, do pretenso dom sobrenatural do “esfriamento erótico” (celibato involuntário=sublimação permanente), da liberação para os casamentos mistos (com não servos(as) do Senhor), do divórcio e conseqüente poligamia sucessiva, ou da poligamia simultânea entre servos(as) do Senhor (como em Israel e em outras culturas e momentos históricos), diante da situação concreta do desequilíbrio demográfico, diante do direito/necessidade de realização erótico-afetiva de todos os seres humanos, a sobrevivência nacional e a sobrevivência religiosa.

À luz dos textos sagrados, entendidos pelo consenso dos fiéis, iluminados por um Espírito Santo que não se contradiz, ao longo do tempo-espaço-cultura, pelas religiões monoteístas semíticas, e pelas diversas expressões da cristandade, até o século passado, vivemos a firme convicção de que:

A nova leitura humanista, secular ou liberal-revisionista pós-moderna, de equivalência entre a prática da sexualidade hetero e homo, conhecendo ambas – no mesmo nível – expressões “positivas” e “negativas”, é uma ruptura com a Revelação e com o Consenso dos Fiéis, resultado de um “outro cristianismo”. O acervo histórico dos estudos e resoluções sobre temas relacionados à sexualidade humana pelas diversas Conferências de Lambeth se alinha com a tradição judaico-cristã-islâmica, e não acolhem os desvios revisionistas ocidentais contemporâneos. A Resolução 1.10, aprovada pela esmagadora maioria dos bispos presentes à Conferência de Lambeth de 1998, é expressão dessa coerente e continuada “mente de Igreja”.

10. A Gravidade de Uma Crise – Foi o sólido cristianismo histórico a fonte para a minha vida de uma fé crescentemente engajada com os movimentos sociais, os sindicatos, os partidos políticos, na promoção dos valores do Reino de Deus de Justiça e de Paz, em uma ordem internacional multilateral solidária, na busca de uma economia pós-capitalista, na defesa da soberania nacional e da soberania popular, consolidando um Estado Laico, Democrático e de Direito, com plena e isonômica cidadania para todos os seus integrantes, a despeito, inclusive, de sua orientação sexual. Não tenho sido um intelectual de gabinete, um profissional da religião ou um burocrata denominacional, mas um cristão socialmente progressista e engajado, presente nos momentos decisivos da nossa história. As duas candidaturas (a deputado estadual e vice-prefeito), o MEP-Movimento Evangélico Progressista e o PT-Partido dos Trabalhadores (no tempo que ele o era) são, evidentes, episódios e espaços dessa trajetória.

Foi o sólido cristianismo histórico também a fonte para uma vida voltada para o diálogo, a aceitação do outro e o amor. Como bispo, tenho procurado ser um pai para todos os fiéis, mas um pai amoroso não deve ser identificado com um pai amoral. Além do que, um bispo, além de Pai na fé e Pastor, deve ser, também, um Mestre e Guardião da Verdade.

Foi o sólido cristianismo histórico, ainda, a fonte para uma vida com uma ampla e atualizada agenda, que inclui a firme e inabalável convicção de que, a partir da ordem da Criação, da Revelação Escrita, do Consenso dos Fiéis, da iluminação do Espírito Santo, da Anatomia Humana, da Fisiologia da Reprodução, e do Bom Senso, a normalidade e a normatividade da heterossexualidade – e a abominação das práticas homoeróticas – são princípios nucleares de um mínimo ético, inquestionáveis e inegociáveis para a humanidade, e, em particular, para o Povo de Deus.

O que temos hoje na civilização em crise é um choque (não um maniqueísmo ou um conflito de poder, mas uma dualidade conceitual irreconciliável): de um lado o cristianismo histórico, em seus vários e majoritários segmentos (latino, oriental, protestante, evangelical, pentecostal etc.), e, do outro lado, o outro cristianismo: a arrogante e “iluminada” minoria liberal pós-moderna relativista, revisionista, racionalista e nihilista, cujo rastro de destruição já está evidente no Primeiro Mundo, e cujas idéias foram gerando obstáculos à evangelização mundial, particularmente da Ásia (instrumentando os não-cristãos de fundamentos teóricos contrários à proposta histórica do Evangelho).

Não se trata, como afirma o bispo presidente da ECUSA, de um Evangelho em várias culturas, mas de vários “evangelhos” na mesma cultura.

Afirmar que essa outra religião, esse “outro evangelho”, o Liberalismo Teológico “anuncia um Deus sem julgamento, e um Cristo sem cruz a um homem sem pecado”, é apenas a objetiva constatação do óbvio.

Há novas fronteiras na cristandade, que não as denominacionais ou confessionais. Um liberal anglicano e um liberal luterano formam uma nova “confissão”, distantes dos seus co-denominacionais de qualquer das correntes históricas. Não há um só conceito e um só vocábulo da teologia em que os históricos e os liberais emprestem o mesmo significado, seja a “salvação”, seja a “ressurreição”, seja qualquer outro. É como se na linguagem coloquial alguém usasse a palavra manga, pensando na fruta, e o outro entendesse como manga de camisa ou manga de candeeiro.
Apesar de toda “pose” intelectual, de seus trabalhos “eruditos” (citações, rodapés, bibliografias, argumentação etc.) vs. os “simplórios” conservadores, alguém já afirmou, ironicamente, que o Liberalismo é uma corrente teológica que, no fundo, se reduz ao uso de uma só palavra NÃO: “Adão e Eva não existiram”, “O povo de Israel não passou a pé enxuto no Mar Vermelho”, “Jesus Cristo não operou milagres”, “Jesus Cristo não ressuscitou” etc. E que na sua elaboração de uma nova ética, “A Nova Moralidade é apenas a Velha Imoralidade”. Como não há “virgindade relativa” ou não se está “mais ou menos grávida”, os conceitos são o que são: abominação diante do Senhor é abominação diante do Senhor. Ponto.

Depois de Lambeth 1998, os liberais têm defendido que os princípios morais não podem ser resultados de votação, mas da “escuta das estórias”. Acontece que todos os espaços por eles conquistados foram em votações de Concílios, Sínodos (ou associações profissionais).

Há, pois, um conflito profundo e amplo, de conseqüências imprevisíveis, porque, de fato, se trata de duas religiões. A estratégia dos liberais é a infiltração silenciosa, a ocupação do estamento do poder das denominações e das cátedras dos seminários, com um linguajar melífluo e de apelo sentimental, e aos históricos resta a coragem e a denúncia profética de um Atanásio, e a fidelidade à Palavra e a dependência do Espírito Santo.

De agora em diante, quaisquer que sejam os documentos e arranjos denominacionais (quando as rupturas formais forem evitáveis), resta apenas uma convivência institucional e social, superficial, como em um clube lítero-atlético-recreativo. Dizer que pode ser mais do que isso é demagogia ou falta de convicções (ou oportunismo, ou carreirismo, ou falta de coragem, que faz com que alguns falem um discurso para agradar cada audiência), dos que sucumbiram a armadilhas humanistas-sentimentais.

Essa é uma hora da verdade: “Ser ou não ser”, eis a questão.   

Conquanto que o debate de idéias seja salutar, a tentativa de desqualificar e denegrir a imagem da pessoa do interlocutor é sempre lamentável, reveladora de falta de caráter, e do ranço que ficou do fundamentalismo liberal em egressos do fundamentalismo conservador.

Creio firmemente (já tenho sofrido discriminações e humilhações) que o monopólio católico-liberal na IEAB já teve os seus absolutos e intolerantes “tempos áureos”, no voltar-se as costas a Kinsolving e demais pioneiros, e que o Senhor já está movendo a água do poço, e um avivamento já está a caminho.

O sangue dos mártires e dos missionários não foi em vão, a História nos tem demonstrado.

Estamos convencidos que a arrogância civilizatória etnocêntrica do imperialismo religioso anglo-saxão (e das suas linhas-auxiliares) não prevalecerá. O dinheiro (mamon) não é tudo. A tirania da razão é uma trágica insensatez. Diante do mistério tremendo, diante do sagrado, o Dei Verbum, a Bíblia, não pode ser tratado como um cadáver na mesa de um legista do IML. Dois mil anos de História da Revelação não podem ser irresponsavelmente, arrogantemente e impunemente, jogados na lata do lixo, por céticos e esnobes.

Com humildade e dependência oro ao Espírito Santo que aplique a Palavra a todas as mentes e corações:
“Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc.1:15).

“Humilhai-vos diante da poderosa mão de Deus” (I Pe.5:6).

“A verdade vos tornará livres” (Jo.8:32).

“Somente uma visão da misericórdia divina pode nos inspirar a apresentarmos os nossos corpos a Ele, permitindo-lhe transformar-nos de acordo com a Sua vontade” (John Stott – A Mensagem aos Romanos).

Reitero a minha firme e inabalável convicção de que Deus é o Senhor da História e da Igreja, e que Deus derrotará o diabo, na terra do frevo, na terra do samba, na terra do jazz, e em qualquer outra terra e ritmo. “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”.

A Comunhão Anglicana poderá continuar com a maioria em comunhão (partilhando uma crença em comum), convivendo federativamente (ou confederativamente) com “ilhas” auto-cismáticas e heterodoxas, até um outro dia histórico, ou até o Dia do Juízo Final (que a maioria ainda acredita).

Ao Senhor toda honra e toda a glória!

Olinda (PE), 17 de Outubro de 2003.

Dom Robinson Cavalcanti
– Festa de Inácio, Bispo de Antioquia e Mártir –

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