Autor: Ivanildo Barros Dias
Entre as várias polêmicas encaradas na atualidade, creio que a de maior relevância tem sido o caso da Clonagem humana. Mas antes de qualquer comentário, devemos retornar alguns passos atrás e analisar o que pensam a respeito, a Bíblia bem como a própria ética.
Ética
Partindo da ética, à princípio, é necessário entendermos o real significado de Ética, bem como analisarmos a ética bíblica para então traçar um comentário com bases reais à respeito do tão contravertido tema.
O termo “Ética” deriva-se do vocábulo grego “ethos” que denota conduta ou prática. Na história da ética, existem três principais modelos de conduta: a vontade divina, o modelo da natureza, ou o domínio da razão.
Quando a vontade divina é a autoridade, a obediência aos mandamentos divinos ou aos textos bíblicos é a conduta aceitável. Se o modelo aceitável é a natureza, a ênfase está em conformar-se com as qualidades atribuídas à natureza humana. Quando quem rege é a razão, se espera que a conduta moral resulte de um pensamento racional. Com isso, concluímos que Ética se refere à maneira de vida ou conduta.
Analisando o Filósofo Platão em seus “Diálogos” (primeira metade do século IV a.C.), ele assegura que a virtude humana descansa na atitude de uma pessoa para levar a cabo sua própria função no mundo. Segundo sua interpretação, a alma é composta por três elementos: intelecto, vontade e emoção. Cada um desses possui uma virtude específica em uma pessoa boa e desenvolve um papel específico. A virtude do intelecto é a sabedoria ou o conhecimento para a vida; a da vontade é o valor, a capacidade de atuar; e a das emoções é a temperança ou autocontrole. A Virtude final é a justiça, que é a relação harmoniosa entre todas as demais que se cumpre quando cada parte da alma cumpre sua tarefa e guarda o lugar que lhe corresponde. Platão assegurava que o intelecto tem que ser soberano; a vontade estaria em segundo plano e em terceiro as emoções, sujeitas ao intelecto e a vontade.
Já Aristóteles, discípulo de Platão, considerava a felicidade como meta para a vida. As virtudes morais são hábitos de ação que se ajustam ao princípio de moderação e necessitam ser flexíveis devido às diferenças entre os povos e a outros fatores
condicionantes. Para Aristóteles, as virtudes intelectuais e morais são somente meios destinados para se obter a felicidade que é o resultado da plena realização do potencial humano.
Acompanhando o desenrolar da história, vemos que, pouco a pouco, o homem concebeu tais idéias e as desenvolveu. Por um lado conscientes do bem que determinava para a humanidade com a crescente ascensão da ciência, o que inclusive é bíblico (Dn. 12:4); por outro, como bem ensinavam os filósofos, desenvolveram uma ética baseados em seus próprios desejos, vontades, emoções, muitas vezes sem respeitar os parâmetros bíblicos, e caracterizando novas épocas como o pós-modernismo, e, com elas, novos conceitos, descobertas e aberrações sem precedentes.
Ética cristã
O Cristianismo marcou uma revolução na Ética, ao introduzir um conceito religioso do bem no pensamento ocidental. Segundo a idéia cristã, uma pessoa depende completamente de Deus e não pode alcançar a bondade por meio da vontade ou inteligência, senão com a ajuda da Graça divina. A primeira idéia da ética cristã está na regra de Ouro: “O que queres que os homens lhe façam, fazei-o a eles.” (Mt. 7:12), no mandato de amar ao próximo como a si mesmo (Lv. 19:18), inclusive aos inimigos(Mt.5:44) e nas palavras de Jesus: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mt.22:21). Jesus expressava que o principal significado da Lei judaica estava no mandamento: “Amarás ao Senhor Deus de todo o coração, com toda tua alma, com todas as tuas forças e com toda tua mente e ao teu próximo como a ti mesmo.” (Lc.10:27).
O Filósofo britânico Bertrand Russel, marcou uma mudança de rumo no pensamento ético das últimas décadas. Sendo crítico com a moral convencional, reivindicou a idéia de que os juízos morais expressam desejos individuais ou hábitos aceitáveis.
Analisando à luz da Bíblia, verificamos que Ética é encarada literalmente como Conduta e a seu verbo correspondente (I Cor 15:33; II Pe 3:11). A ética diz respeito à maneira de vida que a Bíblia prescreve e aprova. A ética bíblica diz respeito ao coração do homem, uma vez que “dele procede as saídas da vida” e “como imagina sua alma, assim ele é.” (Pv.4:23; 23:7;Mc. 7:18-21; Lc 16:15; Hb 4:12).
A queda do homem afetou materialmente o conteúdo da ética que governa a conduta humana. Novas provisões foram necessárias para tratar com a situação totalmente diferente com a que foi criada. Por causa do pecado e da vergonha resultante, o
vestuário foi necessário, o que não necessitava num estado impecável (Gn.2:25; 3:21). Assim como a situação criada pelo pecado exigiu novas provisões reguladoras, assim também a compreensão da vida à luz da Bíblia introduz conceitos que afetam profundamente a conduta humana. As ordenanças da criação são claramente estabelecidas para procriação, do encher a terra e subjugá-la, de exercer domínio (Gn 1:28). Os dez mandamentos fornecem o âmago da ética bíblica. Apesar de que as condições foram alteradas pelo pecado, a estrutura básica da vida humana na terra não são destruídas, uma
vez que Deus não muda, qualquer alteração radical na ética imperativa é inconcebível, inaceitável. Com isso chegamos então diante do homem pós moderno e a sua atual maneira de viver e pensar.
Ética cristã e a clonagem humana
Que dizer deste tema: Ética ou absurdo? Não há como mesclar as coisas. Uma coisa é desenvolver a ciência, outra completamente distinta, é desobedecer os padrões morais humanos e divinos. Clonar, na minha maneira de interpretar, tem o seu valor desde que não ultrapasse seu limite, ou seja, desde que não tente ultrapassar o estipulado por Deus. Temos de entender que entre beneficiar e criar há uma grande distância. Clonar seres humanos seria um atentado contra o próprio Deus que encarregou os seres humanos, para fazerem de uma maneira sana e organizada através do ato sexual dentro do casamento, o multiplicai-vos e enchei a terra descrito em Gênesis. Para as possíveis dúvidas e mudanças que viriam e para que a ética e a moral fossem mantidas, deixou o manual do fabricante, a Bíblia.
A ciência é boa e, sem dúvida nenhuma, é uma benção de Deus à nós. No entanto nós mesmos, como seres humanos e por conseqüência do mesmo pecado inicial, seguimos a natureza humana e caída e, com isso, desenvolvemos idéias muitas das vezes absurdas. Não vejo mal no que diz respeito à clonagem de órgãos afim de beneficiar a própria humanidade, principalmente por causa das inúmeras enfermidades que tanto tem solapado a humanidade. A ciência acaba de comprovar a possibilidade de clonagem de órgãos e tecidos. Uma empresa americana, Advanced Cell Technology Inc (ACT) disse que clonou um embrião humano, porém, tal experimento não pretende criar um ser humano, senão obter célula mãe para o tratamento de doenças. As células mães são células que podem logo desenvolver-se como qualquer outro tipo de célula no corpo humano. Este tipo de clonagem permitiria curar um paciente à partir de suas próprias células sem ocasionar problemas de rejeição. Pesquisas recentes, feitas sem pretender a cura eminente de enfermidades como a Diabetes, mostraram-se partidárias do uso de células embrionárias ou fetais. Pesquisadores da Universidade John Hopkins de Beltimore (EUA) divulgaram um vídeo espetacular de um rato que caminhava depois de recuperar-se parcialmente de uma paralisia, graças à implantação de células mães embrionárias. A intenção, segundo Robert Lanza, vice presidente de desenvolvimento médico e cientifico da ACT, é ajudar nas terapias que salvem a vida de pessoas que padecem uma gama de enfermidades, co
mo Diabetes, derrame cerebral, câncer, Aids, doenças neuro-degenerativas como Parkinson e Alzheimer.
Penso com muita reserva numa possível clonagem com essa intenção terapêutica, até porque, daí surge um outro problema, a comercialização de órgãos. Novamente se faz necessário lançar mão da ética e da moral. Ademais, quem garantiria que, uma vez aprovado a clonagem de órgãos, não haveria aqueles mais ousados que clonariam pessoas? Talvez seja por isso que o congresso americano proibiu a clonagem de seres humanos ou mesmo de órgãos ainda que seja com fins terapêuticos e uma proposta de lei está sendo considerada atualmente no Senado. A mesma preocupação está sendo demonstrada pela Inglaterra. É o que enfatizou no último 26 de Novembro o Secretário de Saúde deste país, Philip Hunt: “Fechar a brecha da clonagem humana para evitar sua utilização com fins de reprodução”, pouco antes do Parlamento começar a debater uma lei de urgência a este respeito. Por outro lado, a própria comunidade científica manifestou suas reservas sobre a
clonagem humana, acrescentando os riscos de aborto e mal formação.
O cientista escocês Ian Wilmut, “pai” da ovelha Dolly, advertiu que a clonagem humana corre grandes riscos e que poderia levar a produzir crianças afetadas por mal formação. “A Clonagem dos animais é muito ineficaz em todas as espécies. As falsas gestações, os nascimentos prematuros e diversas malformações nos clones que sobrevivem, são bastante comuns e poderíamos esperar ver os mesmos fracassos na clonagem de seres humanos”, disse Wilmut, do Roslin Institute of Scotland, durante uma intervenção ante a Academia Nacional de Ciências Dos Estados Unidos. Para ele, a clonagem é uma resposta ineficaz para a esterilidade e acrescentou que era responsabilidade da sociedade determinar até onde pode ir a tecnologia. A Ovelha Dolly é o primeiro animal clonado com sucesso em 1997 depois de 276 intentos fracassados. Atualmente, Dolly está obesa e apresenta sintomas de envelhecimento precoce, e os cientistas não sabem a razão.
Apesar de todas estas providências, existem aqueles que insistem com sua maneira de interpretar a Ética e seguem em seus projetos, como é o caso do Professor Italiano Severino Antinori, cuja clínica em Roma permitiu a uma mulher de 62 anos ter um filho em 1994, que anunciará ante a Academia Nacional das Ciências de Washington, o lançamento ainda este mês de Novembro seu programa de Clonagem, segundo um diário britânico.
Com tudo isso, considero as razões bíblicas como regras fundamentais para a vida. O sucesso da ciência não está baseado na desobediência às normas e padrões éticos e morais. Além de que, se observarmos a própria ética no que diz respeito ao Hierarquismo de Emmauel Kant, concordaremos que ele tinha razão quando expressava: “Pessoas são mais importantes que coisas” e que Martin Buber endossou, que quando esses valores são trocados, corremos o risco de tratar EU e TU para com as coisas, e ISTO, para com as pessoas.
Deus é soberano acima de tudo.
E se determinou que criar é uma iniciativa dele e que o homem foi criado para o louvor de Sua glória, este homem jamais encontrará sucesso, paz, e perfeição enquanto insistir em sua maneira egoísta, pessoal e insistente de tentar mudar o padrão natural das coisas, crendo da inconcebível idéia de assimilar-se ao Criador. Somos pessoas e devemos tratarmo-nos como tal. Não podemos assumir o extremo de excedermo-nos além de nossa limitação de criaturas de Deus, tampouco tentar manipular a ética afim de controlar pessoas como objetos, como tivéssemos o direito de “Confeccionar” um ser humano como quem fabrica um automóvel, classificando modelo, padrão, preço, etc.
Se, como seres humanos, queremos contar com o pleno sucesso da ciência, acerquemo-nos aos ensinos e conceitos morais e éticos deixados na Sagrada Escritura, afim de que o avanço desta ciência tenha a Perfeita bênção de Deus no decorrer de seu desenvolvimento, o que, como já comentei, já foi profetizado. De outra maneira seremos envergonhados agora e depois. Que clonagem humana seja encarada como possível meio ao desenvolvimento terapêutico e, tão somente assim, teremos uma continuação de ÉTICA e moral. Caso contrário, seguiremos a irreverência causada pela queda do homem, e conduziremos tal assunto a um mero ABSURDO!
Faça um comentário