Autor: Romeu S. Fernandes
Viemos devagar. Meu estado não permitia uma viagem apressada. O animal, pacientemente, nos trouxe de Nazaré para Belém, onde estamos. Ao chegarmos, a cidade já fervilhava de viajantes. O decreto de César Augusto convocava todos a se alistar, cada um em sua cidade de origem. As hospedarias cheias nos colocaram diante de um grave problema: onde ficar? Após infrutíferas e exaustivas buscas, não tivemos como recusar o único espaço que se abria para a pequena família. A pobre estrebaria era até acolhedora para quem não tinha outra escolha.
E aqui estamos. Os dias de minha gravidez estão completos. Desde esta tarde os primeiros sinais surgiram, seguidos destas dores, cada vez mais intensas e freqüentes. Aproxima-se a hora. Por favor, José, me abrace. Apenas isso. O resto, o Senhor fará. Ele cuidará de mim.
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O pequenino Jesus dorme tranqüilamente. Meu espírito, no entanto, está inquieto. São tantas as profecias a respeito deste momento e da criança que de mim havia de nascer! Tento lembrar-me. Se não fossem caros os pergaminhos, com certeza nossa surrada mala de tão poucos pertences os conteria. Mas não faz mal; tenho boa memória e sempre cultivei o hábito de guardar e conferir as coisas em meu coração. Por isso, tento lembrar-me de novo.
Sim, é dele que fala o profeta Isaías, setecentos anos antes: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos, e a pôr sobre os que em Sião estão de luto uma coroa em vez de cinzas, óleo de alegria em vez de pranto, veste de louvor em vez de espírito angustiado.” E mais: “Certamente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.”
Não reparem em meu choro. As lágrimas que não escondo, contam cada uma um pouco dos sentimentos que invadem o meu ser: alegria, perplexidade e até temor. Aflora em minha mente o que o Espírito já colocara em meus lábios e posso repetir agora: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque contemplou a humildade da sua serva.”
Meu filho nasceu. Cada momento será contado na longa caminhada a sua frente. Pressinto grandes acontecimentos. Embora não saiba discerni-los ainda, estou segura de que este dia ficará marcado na História com sangue e fogo.
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Decorreram pouco mais de três décadas. Cumprem-se literalmente as profecias a respeito do Messias e confirmam-se as expectativas de Maria.
Paulo, o grande apóstolo dos gentios, escrevendo às Igrejas e à posteridade, resume o sentido da obra de Cristo – salvação pela graça mediante a fé – no texto seguinte, entre muitos outros: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”.
(Textos: Lucas 2:1 a 7; Isaías 61:1 a 3 e 53:4 e 5; Lucas 1:46 a 56; Efésios 2:8 a 9)
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