Autor: Paulo S. Santos
São Paulo, 28 de novembro de 2001
Trabalho exigido como parte de avaliação semestral da matéria Epístolas, do Seminário Batista Esperança.
Sob supervisão do Prof. Pr. Ricardo Pereira.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
PARTE I – O que são dons espirituais?
PARTE II – Qual foi o propósito dos dons espirituais?
PARTE III – A necessidade dos dons na igreja primitiva
PARTE IV – Lista dos dons e suas respectivas classificações
PARTE V – Conclusão
GRÁFICO – De Efésios cáp. 4
BIBLIOGRAFIA
INTRODUÇÃO
Um dos maiores problemas que uma igreja pode enfrentar, sem dúvidas, é quando uma liderança não se posiciona em relação a ondas e excessos doutrinários. Em dias de extremos, ora na avalanche neo-pentecostal que o Brasil vem sofrendo, ora no efeito avestruz (que enterra a cabeça alheio ao o que acontece no mundo exterior), o recheio da igreja vai cada dia ficando mais insípido (no que se refere ao homem, nunca ao Espírito Santo).
Se por um lado o medo aliena, o liberalismo extrapola. Qual será, então, o ponto de equilíbrio, o meio termo? – A Bíblia. Que aliás, não é meio termo, mas termo absoluto.
Para se abordar o assunto dos dons é preciso verificar o propósito e a necessidade deles e quais as suas conseqüências registradas na Bíblia e na história secular. Entender o que são dons passageiros (ou temporais) e dons permanentes. Usaremos tais definições, apesar de não bíblicas quanto a terminologia; porém corretas quanto ao significado.
O que são os dons? Quais são os dons para nossos dias? Teriam alguns dons cessado? Por que? Essas são algumas perguntas que, geralmente, têm surgido nas mentes dos crentes. Este breve estudo pode servir não como a resposta definitiva, mas, humildemente, como uma introdução; algo como o sentir o gostinho de se aprofundar em um assunto, tendo momentos prazerosos retirados de um imenso mar de bênçãos que é o estudo bíblico.
Neste compêndio, tomamos posições. Nunca tivemos a pretensão de esgotar o assunto por aqui. Porém, ao final de todo estudo realizado, sobre qualquer assunto, requer-se considerações no mínimo relevantes, sejam elas pró ou contra. Essas considerações firmam as posições tomadas para tudo em nossas vidas, dia após dia. Não que sejam eternamente imutáveis, sim, que não sejam esquecidas, ou pior ainda, negligenciadas. Se as páginas a seguir não trouxerem respostas, que ao menos fomentem o desejo de prosseguir, por si só, em busca das verdades contidas, como que tesouros, na palavra de Deus.
Boa leitura.
PARTE I
O QUE SÃO DONS ESPÍRITUAIS
“Mas a cada um de nós foi dada a graça conforme a medida do dom de Cristo.
… E ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros como evangelistas, e outros como pastores e mestres,
tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo;
até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo”
Efésios 4: 7; 11-13
Para começar, nada melhor que uma citação bíblica para ajudar a compreensão desta palavra. O dom, presente ou “qualquer talento potencializado pelo Espírito Santo, usado no ministério da igreja”1 para propósitos espirituais e para contribuição singular no corpo de Cristo, está presente nas páginas do Novo Testamento, ora como descritivo ora como pessoas desempenhando uma atividade. Em resumo compreendemos que dom é uma capacitação como que especial que Deus dá àqueles que têm nascido de novo. Vimos, no texto citado acima, que os dons são dados conforme a medida do Dom de Jesus e que há uma finalidade específica nessa doação, a qual falaremos mais à frente.
Há na Bíblia descrição de dons que parecem “naturais” (ensino, pregação, etc.), assim como dons “miraculosos” (curas e línguas), os quais trataremos logo mais na questão de permanência destes dons na igreja, em nossos dias. Muitos têm também confundido talento natural, paixão ou estilo pessoal com dons espirituais que o Senhor é quem dá. Há muitos que buscam o dom como que se pudesse tomá-lo à livre escolha, porém a palavra orienta que o dom é dado conforme o querer do Senhor, distribuído pelo Espírito Santo (Efésios 4:8).
Ainda em nossos tempos, vemos as pessoas tentando dar atribuições a esses dons que não conferem com a descrição bíblica. Como, sinal de plenitude do Espírito Santo, sinal de salvação e outras. Geralmente, ao se confundir um talento natural com um dom, é perfeitamente possível alguém em plena carnalidade, ocupar o lugar no púlpito, falar com toda eloqüência, mas sem nada ter a ver, aquele momento na carne, com o Espírito Santo. Por isso o propósito dos dons não pode ser confundido. Se é assim, temos visto que o significado dos dons não tem sido bem compreendido.
Concluindo, o dom não é um talento especial, como por exemplo aprender a tocar um instrumento de difícil aprendizado, como o piano, em pouquíssimo tempo – se bem que Deus tudo pode. É uma capacitação para desempenhar mecanismos de edificação para a igreja, do ministério e para edificação pessoal: “E ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros como evangelistas, e outros como pastores e mestres, tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo” ( Efésios 4:11 a 13). Não se apropria de um dom, pois que esse é distribuído pelo Espírito Santo: “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, distribuindo particularmente a cada um como quer” (I Cor 12:11), referindo-se à distribuição dos dons. Compreende-se, à luz dos textos citados, que o dom é dado por Cristo e distribuído pelo Espírito Santo. Um talento natural, ou paixão por alguma área, são capacitações naturais, já se nasce com elas; porém, o dom espiritual, é dado ao nascer de novo, o nascimento espiritual, pela palavra de Deus, o qual Jesus instruiu o mestre Nicodemos (João 3). Ninguém que não tenha passado pela experiência do nascer de novo, pode ter um dom espiritual legitimamente dado por Deus.
Por causa do desconhecimento do assunto, muitas igrejas têm aceitado erros e mais erros doutrinários, alguns muito sérios, em nossos dias. Há a necessidade de abordar o assuntos com clareza e posicionamento. Ficar em cima do muro, sem posição teológica, não irá contribuir para a edificação do corpo, a igreja, nem muito menos para edificação pessoal, onde o propósito é parecer, refletir, a cristo para esse mundo perdido.
PARTE II
QUAL FOI O PROPÓSITO DOS DONS ESPIRITUAIS
“E ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros como evangelistas, e outros como pastores e mestres, tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo;
até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo; para que não mais sejamos meninos, inconstantes, levados ao redor por todo vento de doutrina, pela fraudulência dos homens, pela astúcia tendente à maquinação do erro; antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo ,do qual o corpo inteiro bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, efetua o seu crescimento para edificação de si mesmo em amor”.
Efésios 4:11-16
Como vemos, na melhor explicação: a bíblica, os dons são dados visando o bem comum do corpo de Cristo. “Deus concede os dons espirituais para melhor servirmos uns aos outros. Uma grande prova do uso correto dos dons espirituais é o resultado que redunde na glória de Deus e na edificação do outros (I Co 12:7) “2. Vemos, no texto citado, que Deus trata de forma intrigante dois temas: A singularidade, onde cada crente é habilitado ou capacitado para um serviço específico no corpo de Cristo, ou seja é nomeado um membro (parte) desse corpo e com a nomeação recebe a habilidade e capacidade para desempenhá-lo (cf.: I Co 12:7, 11, 18). O outro tema é a diversidade, na qual vemos Deus planejando as diferenças nomeando cada um para um lugar específico e diferente (I Co 12:8-10). Paralelamente entendemos que é propósito de Deus que sejamos como uma moeda, quanto a sua dupla face: A igreja tem um mesmo propósito, age por um mesmo motivador, o Espírito Santo, segundo Sua vontade, mas, ao mesmo tempo, cada um singularmente tem sua própria função e área de desempenho. Paradoxalmente as crentes são iguais porém diferentes.
Ainda no texto de Efésios, vemos que há um propósito especial: Ele (Jesus) designou… deu dons, com a finalidade de preparar os santos para a obra do ministério… para que o corpo de Cristo seja edificado… até que… alcancemos a unidade da fé e o conhecimento do filho de Deus… cheguemos à maturidade… atingindo a medida do filho de Deus… para que… não mais sejamos como crianças… levados por ondas, jogados de lá para cá por ventos de doutrina…astúcia de homens que induzem ao erro… antes… seguindo a verdade em amor… do qual todo corpo bem ajustado… unido… cresce e edifica-se a si mesmo em amor… na medida em que cada um realiza sua função (veja tabela na página 14). Em suma, Jesus ao subir deu essas funções especiais para que a igreja seja equipada, preparada, treinada para desempenhar o ministério que cabe a ela (evangelizar, visualizar a presença de Deus na terra, testemunho do Deus vivo); também é propósito dos dons que todos sejam um só na fé, ensinados na doutrina dos apóstolos, em tudo que o Senhor Jesus ensinou a respeito dEle mesmo e das outras coisas; e ainda, Deus se preocupou em fornecer, através dos dons, um mecanismo de crescimento que leva a maturidade (plenitude de Cristo) ou seja, através dos dons, Cristo estará pleno na igreja, logo o crente será totalmente cheio de Cristo. No v.16, todo o corpo ajustado e unido, cresce e edifica a si mesmo em amor, na medida que (quando) cada parte realiza sua função. Podemos então dizer que, quanto ao propósito, se os dons são negligenciados, não há a plenitude de Cristo na igreja local. Se não há pastores e mestres que ensinem, pelo Dom do Espírito Santo, a doutrina de Cristo, Ele não está pleno na igreja; se a igreja não evangeliza, não pode estar plena de Cristo. Sem a presença dos dons, não há como haver plena edificação, pois este é o modo que Deus estabeleceu. Este é o propósito dos dons.
PARTE III
A NECESSIDADE DOS DONS NA IGREJA PRIMITIVA
“Então chegaram a ele os fariseus e os saduceus e, para o experimentarem, pediram-lhe que lhes mostrasse algum sinal do céu”.
MT 16:1
Desde os primeiros homens chamados, da parte de Deus, para testemunharem ou mesmo para realizarem alguma obra em especial, sempre Deus os autenticou através de sinais. Assim foi com Abraão, ao dar um filho fora de época; com Moisés, entre tantos outros, abrindo o Mar Vermelho; Elias, quando desceu fogo do céu e consumiu o holocausto; e muitos outros que poderiam ainda serem citados. Os sinais tornaram-se a maior marca autenticadora de um ministério vindo de Deus. Os Judeus durante sua jornada de fé tornaram-se igualmente caçadores de sinais vindos de Deus, acerca do que fazer, aceitar e estabelecer.
Foi assim na época do Velho Testamento. Porém este faz-se o pano de fundo para se começar a entender os dons no Novo Testamento. A existência de falsos mestres, falsos escritos e falsas doutrinas não são registradas apenas na época neo-testamentária, infelizmente, isso vem de muito mais tempo atrás. Muitos erros foram evitados pelo simples fato de não haver comprovação do destino celestial. Os próprios textos apócrifos são a melhor prova disso. Sem conter as autenticações que validariam estes textos como sendo, de fato, inspirados, foram simplesmente desprezados, quanto a canonicidade, porém aceitos como históricos, ou fontes de informação extra.
Assim o foi na Igreja primitiva. Os sinais são um porção marcante nas páginas do Novo Testamento. Em Atos, vemos uma seqüência incrível desses tais sinais: A descida do Espírito Santo, homens falando em línguas antes não dominadas, conversões imensas, curas, previsões, transformações instantâneas de vidas… seriam muitos os sinais a citar aqui. Porém, o que se pode referir é que Deus operava sinais maravilhosos aos olhos de todos, afim de que não houvesse dúvida de que Ele mesmo é quem estava por trás daqueles inegáveis fatos. Concorda com essas afirmações o testemunho de Nicodemos, ao se achegar, à noite, ao Senhor: “Este foi ter com Jesus, de noite, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és Mestre, vindo de Deus; pois ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele” (Jo 3:2). Em verdade, muitos sinais acompanharam as vidas dos apóstolos e seus discípulos.
A partir desse comentário, passemos a observar dois pontos a respeito da necessidade dos dons na igreja primitiva:
1.Os sinais: Curas, milagres, ressurreição da morte, línguas, exorcismo, etc. A igreja era recém nascida. A promessa do Senhor, uma vez cumprida (MT 16:18), cheirava a novo. Os Judeus da época crucificaram Jesus por causa de sua pregação. Não aceitaram os sinais que o acompanhavam. Não aceitariam, de igual modo, a pregação da igreja, uma vez que pregavam a mesma mensagem do Mestre. Logo se levantariam também contra ela. Porém Deus, ainda assim, lhes oferece mais sinais, para que creiam (MT 10:8), apesar de muitos dos sinais de maravilhas serem dados exclusivamente aos 12 apóstolos alistados (MT 10:2-8), também outros discípulos o receberam (I Co 12:28). Os sinais, porém, segundo o verso citado, vinha junto de uma mensagem: “o Reino dos céus está próximo” (MT 10:7). Os sinais vinham confirmando a mensagem pregada. E aos que não eram apóstolos, os dons de socorro, governo e variedade de línguas, eram muito úteis para um povo (igreja) perseguido, para se organizarem na ausência dos apóstolos ou mesmo para testemunharem, em sinais, a presença de Deus.
2.A profecia: O último profeta na qualidade de Velho Testamento foi João Batista. Os profetas do Novo Testamento foram homens capacitados a falar dos mistérios de Deus revelados naqueles dias. Pedro começou a revelar esse mistério quando no pentecostes bradou: “Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel” ( Atos 2:16), ao explicar porque aqueles homens demonstravam uma atitude, sinal, tão estranho ou diferente. Homens como Pedro, Paulo e outros, entendiam a lei e os profetas como que por ação de Deus e muito estudo também. O fato é que os fariseus da época também eram grandes estudiosos da lei e dos profetas, mas por que não podiam compreender? Porque não tinham aquela capacitação de Deus acerca das escrituras. Na verdade, bem poucas pessoas tinham. Como entenderiam por si só, aquelas coisas agora feitas por Deus? Através dos dons de profecia, que não só podiam ver e prever as coisas de Deus, mas conseguiam trazer à compreensão os mistérios da palavra de Deus já escrita. A função básica dos profetas dessa época era trazer ao conhecimento público as revelações que Deus, na plenitude dos tempos, permitiu vir aos homens. Paulo confirma ao dizer: “mas, quando vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado” (I Co 13:10), referindo-se a algo ( a Bíblia perfeita), não a alguém (Cristo), essa qualidade de profecia, sinal, seria aniquilada, deixaria de existir a medida que as revelações desses profetas fossem compiladas e o cânon fechado. Eis a revelação perfeita, a Bíblia (Hb 1:1 e 2).
3.Serviço: Os dons, segundo Efésios 4, trazem edificação. Em uma hora de revelação dos mistérios de Deus, muitas seriam as doutrinas de desvio da verdade. Era preciso um serviço qualificado por Deus para que os crentes não se perdessem nas falsas doutrinas. Para que os crentes fossem preparados para o ministério e edificação da igreja, em uma só fé no Filho de Deus e na Sua doutrina que revelava o conhecimento dEle próprio. Afim de proporcionar maturidade, a plenitude de Cristo. Graças a esse plano de Deus, a igreja ,vitoriosa, chegou até nossos dias. Graças a verdade de Deus, sua palavra perfeita, ela cresceu naquele que é a sua própria cabeça, Cristo. A igreja primitiva em seus vários dons temporais ou permanentes, teve em Cristo a cabeça de um corpo bem ligado, onde cada um em sua função edificou o corpo em amor, o amor de Cristo. Essa, sem a menor sombra de dúvida era uma necessidade vital da igreja.
Dessa forma entendemos as necessidades da igreja primitiva. Tendo levado em conta seu contexto histórico e pré-histórico; seu contexto contemporâneo, político e social. Dessa forma conseguimos entender que os dons foram dados pelo cabeça da igreja, Cristo, aquele que tudo sabe, para o serviço e edificação do corpo, a igreja. Conforme a necessidade da igreja, o seu provedor todo poderoso há de trabalhar. Temos, então, que compreender que as necessidades da igreja primitiva não são as mesmas da igreja de hoje em dia. Hoje não temos uma igreja em perseguição, muito pelo contrário, no brasil e no mundo há muito pouca perseguição se comparado com a atual abertura que o mundo hoje tem para o evangelho3. Temos hoje, também, uma revelação já completa, a Bíblia, o que nos supre a necessidade de uma revelação especial vinda diretamente da parte de Deus. E por fim, a igreja está estabelecida e reconhecida mundialmente, ainda que com sérios erros da parte dos homens, o que não deixa lugar para sinais e prodígios da mesma qualidade dos acontecidos na época da igreja primitiva. Hoje o maior sinal e milagre que o mundo, se quiser, pode contemplar é a regeneração de um indivíduo, morto em seus delitos e pecados. Antes um caído pecador sem motivos nem razão, depois um servo de Deus, qualificado para contribuir com a causa da razão de sua existência, em verdade. Refeito e restaurado para que o mundo saiba que Deus vive, e lhe separa um povo exclusivamente para si.
PARTE IV
LISTA DOS DONS E SUAS RESPECTIVAS CLASSIFICAÇÕES
Muitos têm sido os dons alistados pelos autores de obras que se propõem a tratar o assunto. Primeiro vamos alistar os dons que encontramos na Bíblia de uma forma geral, depois vamos dividir esta listagem em três partes:
1.Dons gerais
2.Dons temporais
3.Dons permanentes
1. Lista geral dos dons
I Co 12:28 – Apóstolo, Profeta, mestre, milagres, socorros, administração e línguas.
I Co 12: 8 a 10 – Palavra da sabedoria e conhecimento, fé, curas, milagres, profecia, discernimento de espíritos, línguas, interpretação de línguas.
Efésios 4:11 – Apóstolo, profeta, evangelista, pastor-mestre
Romanos 12: 6 a 8 – profecia, serviço, ensino, encorajamento, contribuição, liderança, misericórdia.
I Co 7:7 – Casamento, celibato
I Pedro 4:11 – Todo aquele que fala, todo aquele que serve (abrange vários dons).
Êxodo 31:3 – Artesanato
I Tim. 2:1 a 2 – Intercessão
Salmo 150: 3 a 5 – Comunicação criativa
Podem, dependendo do intérprete, ser alistados ainda: aconselhamento, exorcismo, mártir e pobreza voluntária.
Neste trabalho, há o cuidado de se notar que tudo que foi alistado acima, é referenciado como um dom. De fato assim se encontra descrito na Bíblia. Porém nós sabemos que há dons que foram dados para uma tarefa em especial, não necessariamente tendo de serem dados novamente hoje, conforme já posto aqui. Se não onde estão os homens dotados de força descomunal, como que de dez ou mais homens, a exemplo de Sansão; ou ainda quantos irmãos conhecemos que já matou um leão com as próprias mãos ? E um urso? Nem todos são como Davi, não é mesmo? Muitos têm talento suficiente para ornamentar uma igreja em um dia de festa ou casamento, e deixarem tão bela que os olhos mal podem acreditar. Com certeza não seria preciso que Deus desse o Dom de artesanato para tal. Cremos que se Deus tem o propósito, tudo é possível a Ele. Porém, nem tudo desse possível é para todos ou é coletivo.
A partir dessa definição, de que nem todas as funções que aparecem qualificadas como dons na Bíblia são dons permanentes, assim como o lembrando o capítulo onde vimos o propósito dos dons na igreja primitiva, passemos então a dividir os dons alistados acima em categorias.
a. Serviço
Socorro, administração, palavra de sabedoria, palavra de conhecimento, discernimento espiritual, serviço, ensino, encorajamento, contribuição, liderança, misericórdia, fé, casamento, celibato, aquele que fala/serve, comunicação criativa, intercessão, aconselhamento, exorcismo, mártir, pobreza, artesanato.
b. Função
Apóstolo, profeta, evangelista e pastor-mestre.
c. Sinais
Milagres, curas, línguas, profecia, interpretação de línguas.
Uma vez alistados e divididos por categorias, temos uma visão geral dos dons, suas particularidades, significado conforme a forma de operação e seus periféricos. Passando adiante, vejamos as classificações desses dons.
2.Os dons temporais
Tratando agora de especificações, a lista geral dos dons deve ser desprezada e substituída por uma lista já bem menor. São os dons temporais e permanentes. Falaremos em primeiro lugar dos dons temporais:
. Apóstolado
. Milagres
. Curas
. Línguas
. Profecia
. Interpretação de línguas
Ao citarmos o Dom de milagres, obviamente ninguém diria que os milagres são temporais, afirmamos que temos crido que Deus pode todas as coisas, efetua quando e quantos milagres o desejar, porém como forma de dons, só mesmo se for passageiro. Não se conhece alguém que o tenha como dom permanente. Milagres o tempo todo acontecem, porém como algo certo ou como alguém que domine essa “arte”, nada há na palavra de Deus que comprove tal coisa. O mesmo entenda-se quanto a curas. Quem não conhece alguém que já provou uma cura maravilhosa de Deus? È um conforto saber que Deus pode faze-lo, porém quando quiser, há endereços de pessoas que dizem poder curar, porém, certamente não da parte de Deus, não como Dom permanente.
Ao citarmos a profecia, nos referimos ao Dom do profeta “roé”4, do Velho Testamento. Adivinho, revelador de segredos outrora ocultos, desvendador de mistérios ou vidente. Mesmo ainda, aquele profeta que Deus se achegava a ele, alistava a uma missão especial que podia até mesmo durar o resto da vida (como Jeremias). Profetas que ouviam de Deus e anunciavam, solitários no serviço, a todo o povo ouvinte.
Esses dons, de acordo com o propósito do Novo Testamento, tinham de desaparecer. Os motivos são claros e já bem definidos: Os sinais já não tinham razão de ser, pois a igreja já caminhava alheia a aceitação ou não de quem a via. Não havia mais a necessidade dos sinais. Ao correr dos anos, as cartas neo-testamentárias viravam documentos de poder e autenticação em lugar dos dons de sinais. A profecia já não faria sentido, uma vez que tais cartas contendo toda revelação de Deus circulavam em grande êxtase pelas igrejas da época. Verifica-se tudo isso ao relevar que ao passar dos anos, o relato bíblico fala cada vez menos da permanência desses dons sinais, enquanto ao mesmo tempo os relatos mais antigos, inclusive dos dias do Senhor, são altamente recheados com narrações desses maravilhosos milagres e sinais. Com o passar do tempo os dons de sinais deveriam cessar.
3.Os dons permanentes
Uma boa parte dos dons alistados na categoria serviço, estão em permanência nos dias de hoje. Efésios 4, diz que os dons são para a edificação da igreja. Há muito trabalho a fazer para que a igreja seja edificada. São os dons permanentes:
. Profeta (entenda-se o pregador, proclamador da palavra de Deus)
. Evangelista
. Pastor-mestre
Temos acima as funções e baixo o serviço a desempenhar:
. Administração
. Serviço
. Ensino
. Liderança
. Misericórdia
. Fé
. Intercessão
. Exortação, aconselhamento
. Socorro
. Amor
Desta forma temos crido. Os dons permanentes tem por objetivo levar os crentes a uma maturidade espiritual, levar a igreja a gozar da plenitude de Cristo. Maturidade que é organizada, onde cada um tem sua parte a contribuir por necessidade. Onde o ensino da verdade é uma segurança contra falsos mestres. A liderança busca a vontade de Deus e dirige a todos para lá. A igreja se importa uns com os outros, o dedo mindinho quando com uma unha encravada faz o corpo todo mancar. Faz a igreja toda interceder, clamar a Deus por sua recuperação, aos faltos de sabedoria e instrução existe conselho e bom ânimo para continuar a caminhada. E, se cair, a igreja está prepara para socorrer aquele que assim quiser. Tudo isso, funcionando bem só pode demonstrar uma coisa: Amor. Deus demonstra seu amor para com seu povo, ao dar os dons para os homens. Os homens demonstram amor a executar os dons em edificação mútua. Essa é a igreja do Deus vivo, àqueles que quiseram ver e ouvir. Com certeza nunca jamais em coração natural humano entrou sequer uma gota daquilo que Deus tem preparado para aqueles que se dispuserem a amar esse Deus maravilhoso.
PARTE V
CONCLUSÃO
A dificuldade de se achar material que aborde o tema profundamente é, talvez, a maior testemunha da freqüência de inúmeros erros doutrinários que se encontram hoje nas igrejas dos nossos dias. De fato o assunto é controverso para muitos. Liberais tudo aceitam de acordo com suas próprias, as vezes forçadas, interpretações da Bíblia. Já os hiper tradicionais caem no erro da omissão, por tamanho medo de errar. Os extremos seja de que lado for estão sempre igualmente errados. Este compêndio não tem a mínima intenção de esgotar o assunto nem muito menos calar os controversos, mas limita-se a por as claras algo que parece coerente com mais rica fonte: A Bíblia. Se teólogos não se afinam quanto a um resultado comum, o melhor sempre é recorrer a Ela.
Na nossa conclusão dizemos apenas que os dons são presentes ou capacitações especiais que Deus deu a igreja conforma seu propósito e conforme a necessidade dela. Em cada tempo da história vimos Deus fazendo o mesmo, conforme a época da história, seu relacionamento e revelação progressiva. Entendemos que com o passar dos anos, cada época teve sua particular necessidade. Vemos nas dispensações como Deus se relacionou com seu povo e ao mesmo tempo a necessidade do homem em cada era. Se temos nisso uma verdade unânime, então pensamos se Deus iria estabelecer uma só forma de tratamento indiferente as necessidades contidas no desenrolar dos seus planos. Deus não é Deus de confusão, logo, que sentido faria haver dons que hoje simplesmente não há a menor necessidade? Se Deus não é homem para que minta, por que diria que os dons de sinais desapareceriam conforme a vinda daquilo que é perfeito, a palavra de Deus? Cremos que a Bíblia está completa e perfeita? Então não podemos crer que revelações extra bíblicas são verdadeiras. Cremos que a igreja de Jesus Cristo está firmada e estabelecida, então não precisamos de sinais para testificar isso. Cremos que o Senhor pode todas as coisas? Então por que afirmar que Ele tem de faze-lo através de pessoas? Não teria Ele mesmo poder para fazer isso diretamente? Nós temos crido que sim.
Deus deixou uma tarefa para a igreja. Pregar, ensinar e batizar. Esse é o propósito da igreja. Para tal é preciso a igreja trabalhar. È preciso que haja ensino abundante, homens e mulheres profundos conhecedores das riquezas contidas na palavra de Deus. É preciso que alguém se levante e organize, lidere, anime, cuide, esforce, ore, aconselhe, se importe, abra os olhos da fé e ame esse povo. Esse é o propósito dos dons. Egoísmo, glória própria, soberba, carnalidade, engano, indiferença e conformismo não entram nos planos dos dons para a igreja. As portas do inferno não prevalecerão contra ela, prometeu o Senhor.
Nos dias atuais, os dons soam como erro doutrinário. Muitas coisas são tituladas como dons, deixando o propósito preeminente para trás. A edificação do corpo é o que há de fazer a igreja caminhar triunfante porque é a manifestação de Cristo na terra.
– Que Deus nos ajude a entender melhor, ensinar e viver os dons para os nossos dias; e a fazer a obra do ministério, afim de que a plenitude de Cristo na igreja seja incontestável por todos. Amém.
BIBLIOGRAFIA
Carson, D.A. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1977.
Bruce, Bugbee; Cousins, Don; Hybels, Bill. Rede Ministerial. São Paulo: Ed. Vida, 1998.
Ribeiro, Rômulo Weden. Línguas e o Movimento Pentecostal Carismático. Goiás: Delta, 1999.
Grudem, Wayne. Teologia Sistemática. São paulo: Vida Nova, 1999.
A Bíblia. Revista e atualizada no Brasil.
O Novo Testamento. NVI.
O autor é seminarista e membro da Igreja Batista Esperança, onde exerce a função de professor de EBD da classe de jovens.
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