A grande obra

Autor: Carlos Siqueira
Estamos construindo em nosso dia-a-dia uma edificação que representa a nossa história. Por mais que evitemos pensar nisto, a realidade é notória, basta olhar para o passado e verificar a nossa projeção para o futuro. Cada construção está acontecendo segundo o construtor, cada um usando o material que lhe foi possível construir.
Esta obra não pode ser construída por outro, pois é de responsabilidade pessoal, desde o traçar dos riscos até o edificar da construção.
Certa vez passeava por uma praia e observava as construções em sua orla, observei uma residência levantada sobre uma pedra, o comentário era que aquela obra nunca seria abalada, pois foi erigida em um alicerce firme. O construtor foi sábio, pois o vento na região era forte. Algumas construções duram mais e outras são derrubadas pelas intempéries da natureza, cabendo ao construtor planejar corretamente desde a fundação, bem como o material a empregar em virtude das condições geográficas e climáticas.
Portanto o construtor deve ser alguém que conheça do ramo, para não desperdiçar o tempo e o dinheiro investido, tendo como conseqüência os problemas que possam afetar a segurança daqueles que usufruirão a obra.
Há pouco tempo um grande edifício, em um bairro de classe média alta, em uma região praiana, na cidade do Rio de Janeiro, foi demolido em função da deterioração do material utilizado. Uma grande construção edificada com material de segunda categoria poderá trazer a desgraça para aqueles que estarão sob o seu teto, conseqüência da péssima matéria prima empregada, quer seja pelo descaso ou pela economia motivada pela usura.
Em um dado momento na vida paramos para refletir na obra pessoal. Alguns se sentem felizes, mas outros frustrados, pois infelizmente a obra está mal acabada, além de mal cuidada em seu uso, transparecendo uma vida sem definição, onde paredes foram levantadas sem a menor estética, demonstrando a falta de um planejamento e esmero pela edificação.
Gostaria de meditar na obra que estamos construindo em nossa vida espiritual, entendendo que esta tem profundo reflexo no mundo natural; uma vida que se projeta para a eternidade com o seu criador, percebendo na vida diária os sinais que atestam a aprovação desta grande obra.
Tendo como base a palavra de efésios 2: 8-10 ( Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; Não vem das obras, para que ninguém se glorie, pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.) Entendemos que quando somos salvos estamos destinados a caminhar em uma estrada de boas obras, onde seremos colaboradores, construindo uma grande obra que reflete a vontade do próprio Deus para cada um de nós.
O texto declara que as obras foram preparadas antes de nós pensarmos em sua materialização, pois a obra não é nossa, mas do próprio Deus.
Aqui aprendemos que Deus é um Deus que trabalha, portanto espera de nós uma postura de trabalhadores. O nosso chamado é para uma vida dinâmica onde estaremos nesta dimensão agindo como agentes de Deus na história. Aprendemos que nada depende de nós, o nosso esforço natural não soma em nada se este não estiver de acordo com a obra estabelecida por Deus. Alguns missionários desistem do campo dando ouvida a voz de demônios, por acreditarem que a obra de Deus depende apenas dos seus esforços, encontrando nas dificuldades a desaprovação de Deus, contudo é neste momento que Deus prova a obra que estamos realizando, se em homens certamente desistiremos, se em Deus é só esperar nele, que o escape virá.
O meu esforço só acrescenta cansaço físico e mental, mas quando este está de acordo com a obra estabelecida por Deus, obtemos conforto, segurança e renovo, apesar das privações e dificuldades. O milagre da fé se estabelece na impossibilidade humana diante do rumo da sua história, encontrando apenas em Deus a modificação das circunstâncias, sem com isto ser necessário Deus mostrar a sua cara, para provar que existe e sabe das nossas necessidades.
A obra estabelecida por Deus em nós é muito maior e complexa que a obra que tentaremos construir com nossa sabedoria e esforço. Somos bem intencionados, mas soberbos e arrogantes, pois sempre estamos prontos para destituir Deus do seu trono, basta uma glória a nós dirigida para pensarmos que realmente somos demais! Neste ponto percebemos que a glória humana corrompe o ser humano, pois achamos que não somos tão pecadores assim, ou que Deus não é tão bom assim, pois as injustiças continuam na terra apesar da grande obra que tem estabelecido entre nós. Talvez a soberania de Deus seja injusta com alguns e patrocine a alegria de outros, só não paramos para refletir se estamos debaixo da soberania de Deus! Tornamo-nos rebeldes e teimosos, insistindo no erro de duvidar da provisão de Deus. Se a provisão não veio, então a obra não era dele, era nossa, do nosso ego, da nossa vaidade pessoal! Mas colocar dúvidas na soberania de Deus e na sua justiça é apenas fruto de uma teologia enferma, que não entende que o mesmo Deus que fala tem o direito de estar calado, o mesmo Deus da vida é o Deus que tem autoridade sobre a morte e tu quem és além de barro, porque retrucas contra o teu oleiro?
A taça do poder embriaga aqueles que estão realizando a obra que de Deus só tem o nome. A casa de Deus só é de Deus quando ele pode habitar no meio da adoração. Existem lugares que o homem está entronizado literalmente e as pessoas acreditam que este lugar é visitado por Deus. O trono de Deus foi estabelecido em meio aos louvores dos santos e certamente onde estão os santos não há lugar para manifestação da glória dos homens ou de instituições e muito menos dos ídolos e seus demônios.
A grande obra de Deus precisa de avaliação através do discernimento do espírito que Deus dá aos seus santos, pois verificamos nas escrituras que obra de Deus não é templo ou qualquer coisa ligada à religiosidade, e esta só pode ser feita por aqueles que de antemão foram destinados a edificar uma casa espiritual para Deus, pois Deus veio para fazer morada nesta casa, que ele mesmo construiu.
Enfim nós somos a casa de Deus e esta casa precisa de todo o tratamento possível, pois Deus não veio para passeio de final de semana, mas para estar conosco para sempre, nos ensinando a ser verdadeiros obreiros. (João 14:16-23 E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco e estará em vós. Jesus respondeu e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada.) (Efésios 2:22 no qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus no Espírito.)( Efésios 1:13 em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa;)( Efésios 4:30 E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o Dia da redenção.)
A este grupo de pessoas as escrituras denominam de crentes espirituais, pois os ditos carnais estarão entretidos com vários tipos de problemas que envolvem a luta pelo poder ou satisfação das necessidades existenciais, encontrando como objetivo, não a obra de Deus aqui na terra, mas a obra humana que necessita de glória e honra em sua existência efêmera e transitória.
Quando observamos a igreja que estava em Corinto, entendemos na coletividade a visão errada da obra de Deus. A coletividade acreditava que estava em acordo com aquilo que Deus desejava, mas o apóstolo através de um tratamento de choque acorda-os para a realidade da frágil obra, que pensavam ser de Deus. -Sempre que somos confrontados com o erro ficamos chocados com a nossa r
ealidade – (1 Cor 3:1-3 E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo. Com leite vos criei e não com manjar, porque ainda não podíeis, nem tampouco ainda agora podeis; porque ainda sois carnais, pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois, porventura, carnais e não andais segundo os homens?)
Uma igreja formada por pessoas adultas, mas que diante de Deus apresentavam um comportamento espiritual não condizente com a idade cronológica de conversão, pois já deviam conhecer a Deus e sua palavra. Às vezes se constrói relaxadamente segundo a perspectiva de um Deus que é relaxado e não se preocupa com a sua obra por não ter uma palavra que a defina. Uma teologia enferma certamente encontrará uma obra defeituosa, pois as pessoas estarão entendendo a aprovação de Deus em conceitos e atitudes que certamente ele abomina. Nestes lugares a palavra de Deus não é conhecida, pode até estar na boca dos homens, mas certamente não é conhecida segundo a sabedoria de Deus, sendo assim a edificação espiritual dirá ser de Deus, porém ele não habitará onde ele mesmo não edificou antes.( Efésios 1:5 e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade)
Portanto a obra de Deus nos conduz ao amadurecimento, deixando de lado as coisas de meninos – estes querem ser o centro das atenções – e deixaremos os outros brincarem com os nossos brinquedos, melhor ainda, passamos a doar brinquedos para aqueles que não têm com o que brincar; nossa vida deixa o eu e volta-se para o nosso, aquilo que edifica o outro, e passamos a levar a cura, pois fomos curados da nossa alma que é insaciável em suas necessidades egoístas, pois certamente o coração humano assim o é, perverso e centralizador. (Jeremias 17:9 Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?).
Entendemos que apesar das divergências, a unidade será o objetivo, pois algo muito maior está sobre nós, portanto não convém nos perdermos com coisas esperadas apenas por crianças imaturas, que precisam constantemente de acompanhamento, devido a sua incapacidade em saber dividir e relacionar-se.
A grande obra que foi estabelecida por Deus, foi edificada sobre uma grande pedra e certamente ninguém pode abalar este alicerce, pois o mesmo se chama Jesus Cristo.Estamos edificando sobre ele e não sobre sofismas de homens e doutrinas aprendidas pela teologia de outros, mas pela nossa própria teologia no momento da conversão ao senhor.
Esta grande obra está constantemente sendo avaliada pelo senhor, pois o dia a ilumina, e o dia é a nossa história, pois aquilo que construímos está à mostra de todos, portanto aquilo que eu construí fala mais alto do que aquilo que eu projeto construir ou digo que construí. As minhas obras falam mais alto que a minha fé!
A fé sem obras é morta, pois certamente foi construída relaxadamente em madeira e palha que será consumida pelo fogo do juízo de Deus, mas aquele que constrói na certeza que faz o melhor de si para o senhor, indiferente do tempo que levar a sua obra, estará refletindo no mundo espiritual o ouro e pedras preciosas, que certamente serão ainda mais depuradas pelo fogo do senhor, para aumentar o seu valor, pois é no fogo do espírito que se consome o que atrapalha o manifestar da glória de Deus, por isto o senhor diz para Isaías: ( 48:10) Eis que te purifiquei, mas não como a prata; provei-te na fornalha da aflição.
Igreja lavada e remida no sangue de Jesus, mãos na obra, pois o nosso Deus é o Deus que trabalha e espera de nós nada mais do que aquilo que ele mesmo vai operar!
 

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