Entre Jerusalem e Antioquia

Autor: Ariovaldo Ramos
Quando penso em igreja local e missões, me lembro destas duas igrejas, Jerusalém e Antioquia, e que a diferença entre elas foi pautada pela sua escolha em relação ao chamado missionário.

Essa escolha definiu não só a atuação delas, mas também o seu futuro e a sua importância para o crescimento da Igreja de Jesus Cristo no mundo.

O chamado de Jerusalém e de Antioquia é o mesmo que para todos nós. Nisso somos todos iguais e estamos todos na mesma estrada. Qual é o chamado?

Disse Jesus: “Toda autoridade me foi dada no céu e na terra, ide portanto e pregai o evangelho a toda criatura”.

É um chamado de cunho universal. Um outro evangelista diz que é para fazer discípulos de todas as nações. Em ambos os casos percebemos a universalidade do chamado.
Se não bastasse este chamado explícito, Jesus Cristo fala que a capacitação que receberíamos como cristãos, também está ligada ao chamado.

Ele disse: “E recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém, Judéia, Samaria e até os confins da terra”. Portanto, a capacitação que é o poder do Espírito Santo, tem um objetivo explícito, capacitar a igreja para o cumprimento do chamado na sua universalidade.

Se ainda houvesse dúvidas quanto à universalidade do chamado e a prioridade dele, o Pentecostes daria cabo, pois o derramamento do Espírito Santo produziu exatamente este fenômeno universal, uma vez que todas as pessoas, vindas de várias partes do mundo, ouviram falar na sua língua, as glórias e as grandezas de Deus. Deixando claro que o fenômeno do Pentecostes, mais do que o fenômeno da capacitação e do nascimento da Igreja neo-testamentária, é também um fenômeno de evangelização missionária, tendo em vista o chamado a todas as nações.

Como Jerusalém reagiu a esta convocação? Em primeiro lugar, reagiu de forma muito morosa, pois a primeira vez que um gentio ouve o Evangelho, no caso Cornélio, acontece como fruto de um trabalho imenso do Espírito Santo para convencer o Apóstolo Pedro de que ele deveria ir se encontrar com o gentio e pregar-lhe o Evangelho.

Pedro vai, porém, com muita relutância, deixando isso inclusive, claro aos próprios gentios quando começa seu discurso. Não bastasse essa relutância, Pedro ainda é chamado pelos líderes da Igreja em Jerusalém, onde é então, instado a apresentar um constrangido relatório sobre a pregação do Evangelho a gentios. Isso indica a crise que Jerusalém teve com o chamado de Cristo para a evangelização do mundo.

A Igreja de Jerusalém só saiu para fazer missões quando foi perseguida, que é a ocasião logo após o martírio de Estevão, em que principal e majoritariamente, o pessoal ligado a Estevão é caçado e chega à Samaria e Antioquia pregando o Evangelho. São eles que começam a pregar aos gentios. É interessante perceber que os Apóstolos ficaram em Jerusalém, o que é muito curioso. Como imaginar uma perseguição à Igreja, onde os líderes dela ficam em paz? De onde se conclui que, essa perseguição atingiu de fato os seguidores de Estevão, que eram os que se opunham ao templo como centro da fé, e por isso foram perseguidos.

Já Antioquia nasce sob o signo da missão. Os seus presbíteros já trazem em si esta marca, são oriundos de diferentes partes do mundo. Um dos seus mais expoentes líderes é Paulo de Tarso, aquele perseguidor da Igreja, mas que tem a seu favor o fato de ter aprendido o cristianismo, em primeiro lugar ouvindo a mensagem de Estevão, portanto começa com a melhor de todas as bases. Por isso, diferente do Apóstolo Pedro que relutou insistentemente com o Espírito Santo quando este o enviou para o projeto missionário, os presbíteros de Antioquia são absolutamente abertos à ação do Espírito Santo, estando prontos para ceder à Ele seus dois melhores homens para o serviço missionário: Barnabé e Paulo.

A Igreja em Jerusalém reluta em pregar aos gentios, a Igreja em Antioquia já tem gentios em seu Conselho. A Igreja em Jerusalém sofre de preconceitos farisáicos, a de Antioquia já tem a visão de Jesus Cristo para todos os homens de todas as raças, de todas as tribos, de todas as línguas, de todas as nações.

Essa diferença de postura é também uma diferença de resultados e de influência.

A Igreja de Jerusalém desapareceu, a Igreja de Antioquia se tornou a mãe de todas as igrejas, porque a partir do ministério de Paulo e dos seus discípulos, isso sem contar o que Barnabé deve ter feito com Marcos cuja memória perdemos, acontece o desenvolvimento do Evangelho por toda Europa, e conseqüentemente por todo o mundo.
Essa diferença também se manifesta nas próprias Escrituras, basta pensar que a grande maioria dos livros que compõem o Novo Testamento foi escrito por missionários de Antioquia: Lucas, além de Atos dos Apóstolos, escreveu um dos evangelhos; outro dos evangelhos foi escrito por Marcos. Além disso, tem as cartas de Paulo que são a maior parte do Novo Testamento. Há também, o livro de Hebreus, que embora não saibamos o autor, com certeza era da escola paulina, e portanto missionário de Antioquia.

Igreja que se centraliza em missões é igreja que influencia, que muda a história, que faz a história. Igreja que não se ocupa com missões pode ter até um período de crescimento, mas provavelmente vai desaparecer, é só uma questão de tempo.

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