Entre a liberdade e a perseguição: os cristãos nos países de maioria islâmica

Autor: Agência internacional Fides
A Agência internacional Fides publica hoje um Número Especial de seu noticiário, inteiramente dedicado à presença dos cristãos nos países de maioria islâmica. Além de uma série de fichas relativas aos países da Ásia e África, onde tal realidade está presente, o Dossiê propõe uma análise articulada da situação internacional, por parte do jesuíta egípcio prof. Samir Khalil Samir, docente universitário em Roma e Beirute.

Padre Rocco Patras, pároco da igreja onde aconteceu o massacre do dia 28 de outubro, e mons. Andrew Francis, bispo de Multan, contam suas dramáticas experiências, junto com seus temores e esperanças para o futuro da Igreja no Paquistão. Alguns Bispos africanos do Quênia, Uganda, Tanzânia e Sudão exprimem preocupações pelo extremismo da situação, que aumenta ainda mais a crise africana. Notícias reconfortantes chegam à Fides vindas das Molucas, Filipinas e Nigéria, onde a reconciliação e a unidade entre cristãos e muçulmanos acontece, mesmo que vagarosamente, mas com grande determinação.

A seguir, o editorial de pe. Bernardo Cervellera, que abre o Dossiê Fides.

Editorial

Depois do massacre na igreja de São Domingos em Bahawalpur (Paquistão), no último dia 28 de outubro, cresceu no mundo inteiro o interesse para compreender e se solidarizar com os sofrimentos dos cristãos que vivem em um ambiente islâmico. Houve quem, a partir do massacre, procurasse justificar uma convivência impossível entre cristãos e muçulmanos.

A tentativa de transformar o conflito que ocorre no Afeganistão em um conflito religioso, está presente em ambos os lados. A tentação de lançar uma “guerra contra o Islã”, aparece aqui e ali no mundo ocidental. De seus esconderijos no Afeganistão, Osama Bin Laden lança suas mensagens e impulsiona os muçulmanos a uma solidariedade do terror, pedindo para que lutem na “cruzada” dos cristãos e dos colonialistas ocidentais contra o Islã.

O bispo de Multan, mons. Andrew Francis, em suas declarações à Fides, que publicamos neste dossiê, desafia tais interpretações. Filho de uma igreja presente no Paquistão antes mesmo da difusão do Islamismo, ele mostra que o massacre de Bahawalpur fez emergir a solidariedade das comunidades muçulmanas com relação aos cristãos. Ao mesmo tempo, ele fala da contribuição e do testemunho que os cristãos querem continuar a dar tanto na sociedade paquistanesa quanto para com a maré de refugiados afegãos, que, em busca de paz, há anos apodrecem nos campos.

Mas sobre todas, com maior autoridade, se levanta a voz de João Paulo II, que, em 9 de novembro, em seu discurso aos membros do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso, condenou a violência e o terrorismo como uma “falsa religião”: “Se disse – sublinhou o Pontífice – que assistimos a um autêntico conflito entre religiões. Todavia, como já afirmei em inúmeras ocasiões, isto significaria falsificar a própria religião. Os que crêem, sabem que, longe de cumprir o mal, são obrigados a fazer o bem, a trabalhar para aliviar o sofrimento humano, a edificar em conjunto um mundo justo e harmonioso.” (n. 1).

Os testemunhos dos bispos da Ásia e da África que apresentamos nestas páginas mostram que por detrás das violências sobre os cristãos nos países de maioria islâmica, estão muitos interesses ditatoriais, econômicos, políticos, militares. A guerra no Afeganistão não se destaca deste clichê, é fruto de muitos erros do oriente e do ocidente: lutas internas, conflitos entre potências regionais, interesses petrolíferos, desgraçados apoios ao integralismo muçulmano. Tudo isto não é dito para escandalizar, mas para fazer perceber que, este conflito, para que possa ver seu fim, necessita de uma visão mais ampla que aquela de uma simples “guerra ao terrorismo” ou “entre civilizações”. O Papa lembrou em 9 de novembro que “é imperativo que a comunidade internacional promova bons relacionamentos entre pessoas que pertencem a diversas tradições étnicas e religiosas” (n.2). Desta visão maior faz parte a atenção que a comunidade internacional deve ter para com todos os componentes das etnias afegãs, a pacificação das tensões entre Paquistão e Índia, a regulação dos conflitos econômicos entre Rússia, Irã, Estados Unidos e Arábia Saudita, a liberdade de comércio dos países da Ásia Central, a garantia de um estado palestino, o fim do embargo ao Iraque.

Dito desta forma, não se podem esconder as dificuldades e os sufocamentos que padecem as comunidades cristãs nos países de maioria islâmica. As fichas preparadas pela redação de Fides sobre países africanos e asiáticos, dão um quadro exaustivo. Como mostra a magistral intervenção de pe. Samir Khalil Samir, estas dificuldades são especificamente problemas de liberdade religiosa:

1) a tentação do Islã de ser omniabrangente (religião-sociedade-política), e de marginalizar socialmente e politicamente as minorias cristãs e não-cristãs;

2) a recusa em respeitar a liberdade de consciência, reconhecendo ao indivíduo a possibilidade de mudar de religião. Este último aspecto é doloroso não apenas para os cristãos, mas para os próprios muçulmanos.

Com tudo isto, ainda que em muitos cristãos exista a tentação – ou necessidade – de emigrar, a maioria dos cristãos deseja continuar a testemunhar a própria fé e o diálogo. O Papa, no discurso acima citado, disse: “O diálogo nem sempre é fácil nem privado de sofrimento. As incompreensões surgem, o preconceito pode existir também no acordo comum e a mão estendida em sinal de amizade pode ser recusada. Uma espiritualidade autêntica de diálogo deve tomar em consideração estas situações e fornecer motivações para prosseguir, também diante de oposições, ou quando os resultados parecem medíocres. Sempre será necessária uma grande paciência, porque os frutos virão, mas no devido tempo, quando todos que semearam nas lágrimas colherão com júbilo”(n.5).

Os testemunhos dos cristãos do Paquistão e das Molucas falam sobre essa vontade de semear nas lágrimas. Os bispos do Paquistão disseram que “o sacrifício dos mártires de Bahawalpur não será inútil”, e que seu sangue poderá “lavar o ódio e a violência dos corações.” Nas Molucas, depois de dois anos de violências, cristãos e muçulmanos trabalham para a reconciliação, a partir do mundo da escola e das universidades. Este aspecto é fundamental. Os talebans e Osama Bin Laden, insistiram na educação de jovens. Por anos, dezenas de milhares de jovens afegãos, paquistaneses, e de outros países islâmicos, receberam gratuitamente alojamento, alimentação, roupas, cursos universitários, treinamento militar nas madrassas (escolas) das fronteiras paquistanesas. Para transformar a “guerra de civilizações” em “diálogo entre civilizações”, é preciso que a comunidade internacional não invista apenas em oleodutos, arsenais militares e liberdade comercial, mas também na educação, para “desengatilhar” o viveiro de terrorismo que é a pobreza e o desespero de muitos jovens nos países pobres.

Uma última palavra sobre a presença dos muçulmanos nos países de maioria cristã. O nosso dossiê trata dos países de missão, onde os cristãos são minoria. Não obstante isto, a intervenção de pe. Samir Khalil Samir, oferece pontos de partida muito agudos. Os governos ocidentais – e talvez algumas faixas da Igreja católica – sempre reduziram o problema da imigração muçulmana na Itália e na Europa a um fato puramente econômico ou de generosidade com relação aos pobres. Nunca se esclareceu que a imigração é uma questão de diálogo entre culturas e religiões. Ela deve ser preparada e esclarecida no exterior e na pátria, para assegurar que a hospitalidade dada a outra cultura e religião não sufoque a cultura anfitriã. É necessário, portanto, que os governos criem estruturas para a integração cultural, mas é preciso também que os ocidentais e os cristãos não esqueçam de testemunhar as raízes religiosas de sua cultura, de seu empenho e de seu trabalho, inclusive o trabalho em favor dos muçulmanos. Bernardo Cervellera

A missão dos cristãos para não sofrer sob o Islã e o terrorismo
Entrevista com pe. Samir Khalil Samir, S.J., Professor em Roma e Beirute

Roma (Fides) – O Pe. Samir Khalil Samir, jesuíta egípcio, nasceu em 1938, no Cairo. Formado na França, há mais de 25 anos ensina no Pontifício Instituto Oriental (PIO), em Roma. Viveu por sete anos no Egito, ensinando e trabalhando como encarregado pelo desenvolvimento social dos vilarejos e para alfabetização. Atualmente, além do PIO, trabalha em Beirute (Líbano), no ensino islâmico-cristão. Este curso é ministrado por dois docentes, um cristão e um muçulmano, que ensinam aos estudantes de ambas as religiões. O seu comentário: “Este trabalho em comum é importante. Não existe nada que você ensine que o outro não escute. Isto evita as linguagens dúbias e ambíguas”. Por seus estudos e experiências, pe. Samir é um dos maiores especialistas nas relações entre o cristianismo e o islamismo. Eis a transcrição da conversa com Fides.

Quais as dificuldades que existem para um cristão em um ambiente de maioria muçulmana, e quais as razões das discriminações que eles sofrem?

Utilizo como ponto de partida minha experiência egípcia e libanesa (moro no Líbano). A primeira dificuldade é que o Islã é, em conjunto, política e religião, sem possibilidade de separação. Isto tem como conseqüência a idéia de um estado islâmico, no qual, em todos os particulares se aplique a sharia islâmica, a lei civil inspirada no Corão, nos dizeres do Profeta e nos fatos da tradição muçulmana dos quatro primeiros séculos: o que demonstra uma grande dificuldade em enfrentar a modernidade. A referência a tal passado, é difícil: outra cultura, outro contexto, onde o pluralismo não era um princípio, mas apenas um fato esporádico.

A segunda dificuldade é a onipresença do Islã na vida. No Egito, onde quer que se vá, se escuta o rádio com orações e cantos do Corão: no ônibus, no táxi, pelas estradas. As notícias, os filmes da TV, são interrompidos para a oração cinco vezes por dia. As crianças recebem o ensinamento do Corão, decoram o Livro (com a desculpa de ser uma boa base para língua). De manhã, a escola inicia com uma reunião de dez minutos para um comentário sobre a situação, ou para contar a história islâmica. As matérias ensinadas fazem sempre referência ao islã. Alguns cursos históricos são ainda mais fortes.

O Islã influi também nos costumes: se dois jovens caminham de forma digna de mãos dadas, ocorre uma briga. Se um cristão carrega uma cruz no peito, os fundamentalistas a arrancam. Agora isto acontece menos, mas apenas porque os cristãos se censuram, para prevenir conflitos. Na universidade, é quase sistemática a realização dos exames na Páscoa ou no Natal. Os cristãos, naquele dia, podem tirar folga. Mas, com os exames, não podem deixar a universidade.

Existe a onipresença do Islã, que é sua característica e sua força. O Islamismo é dîn, wa-dunya, wa-dawla: religião, sociedade e política. Isso penetra até nas coisas mínimas. Sob o influxo da Arábia Saudita, que controla a distribuição dos filmes no mundo árabe, o cinema é sempre mais islâmico. Os diretores recebem regras precisas: as mulheres devem estar veladas, nos filmes a voz do muezzin deve ser ouvida várias vezes; os jornais têm sempre uma ou mais páginas de ensinamento islâmico; etc. Toda esta situação para o cristão torna difícil até mesmo respirar.

A ligação entre religião, sociedade, cultura, não é um mal por si…

Não, mas este estilo de vida não deixa espaço, é invasivo. E os muçulmanos dizem: “Por que vocês se lamentam? Nós somos a maioria. Nos países democráticos é a maioria que decide “. Mas uma coisa é a maioria política, outra é aquela religiosa. A política é contingente, pode mudar de uma eleição à outra, é ligada às pessoas. Mas as religiões são mais permanentes: não se modificam facilmente. Isto torna o estilo de vida islâmico opressivo. O problema é que este estilo opressivo não é classificado pela lei. Assim os ocidentais dizem aos cristãos do oriente: por que vocês lamentam? Não existem leis opressivas!”.

Outro fato muito pesado, não descrito nas constituições, é a discriminação no trabalho. Ela existe há décadas. Alguns setores, como a ginecologia, são vetados aos cristãos. Em uma certa época, os ginecologistas eram quase todos doutores cristãos. Ora, como os cristãos – com mãos “impuras”- não podem tocar as mulheres, hoje, a maioria dos ginecologistas é de muçulmanos. No setor militar, um cristão pode alcançar apenas um certo grau. Subindo muito, mesmo que tenha 40 anos, preferem aposentá-lo a promovê-lo. Quando se procura um trabalho, o empregador, baseado na leitura do nome, descobre quem é cristão ou muçulmano. Então, aos cristãos é dito: “Infelizmente, não temos trabalho”. Se chega um muçulmano, encontra a vaga.

E a liberdade de conversão de uma religião para outra?

Este elemento é absoluto. Segundo o ensinamento tradicional islâmico, a apostasia é condenada com a pena de morte, muitas vezes modificada para prisão. Também em países liberais, como o Líbano, é impossível abandonar o Islã. No Líbano, se uma mulher muçulmana casa com um cristão, não pode abandonar o Islã. Se uma mulher cristã casa com muçulmano, a lei do Corão prevê que ela permaneça cristã. Mas, por lei, se assim o fizer, não pode ser herdeira. Os filhos, mesmo batizados, são oficialmente muçulmanos.

O Islamismo parece então uma religião totalizadora …

O Islã é uma força de assimilação em sentido único: encoraja a entrada, mas impede a saída.

No Egito, os cristãos – pelo menos 10% da população – devem pedir permissão diretamente ao Presidente da República se desejarem construir uma igreja, além de diversas permissões e condições, que podem ser alcançadas apenas com grade dificuldade. Em pensar que os cristãos não pedem nada ao estado, nem ajuda econômica, nem terreno, etc… (uma diferença do que ocorre na Europa com os muçulmanos). No fim, grande parte das igrejas são construídas aproveitando apoios, truques legislativos, usando terrenos distantes da cidade, etc..

Esta guerra no Afeganistão, está criando mais dificuldades aos cristãos? E abre quais perspectivas?

Para mim esta guerra é um erro. Não quero entrar na política, mas se o objetivo desta guerra é atingir o terrorismo, esta produzindo efeito contrário: está encorajando um terrorismo ainda mais forte. Milhões de muçulmanos, que antes não simpatizavam com Bin Laden, agora sentem o dever de se solidarizar com seu terrorismo. E depois, mesmo que os Aliados consigam prender um grupo de terroristas no Afeganistão, no mesmo dia surgirão dezenas de outros grupos. No máximo, esta guerra serve para vingança ou alívio, mas não para eliminar o terrorismo.

Osama Bin Laden è um verdadeiro representante do Islã?

Golpear cegamente a qualquer um não é representação do Islã. Mas os princípios evocados por Bin Laden criam um largo eco no mundo islâmico. Estes conclamam os princípios tradicionais do Islã, ensinados de forma corrente. Deve ser observado que o terrorismo não é estranho ao Islã, como normalmente se repete por “bondade”. O terrorismo islâmico, ou melhor, a violência islâmica, tem raízes no Corão e na Sunna, isto é, na prática do Profeta. Os textos corânicos favoráveis à violência são inúmeros (eu tenho listados pelo menos 75). Aqueles não-violentos são um número muito menor e pertencem ao período mais antigo. No Islamismo existe o princípio de interpretação, pelo qual as últimas revelações cancelam as anteriores. De tal modo que, quem promove um regime islâmico baseado no Corão e na Sharia, está com as cartas em dia: a guerra, em casos definidos pelo Corão, é obrigação de cada muçulmano. Maomé, nos últimos 10 anos de vida em Medina, realizou pelo menos 19 guerras, uma prática habitual. Por isto é falso dizer que no Corão não existe a guerra, somente a paz. Existe um princípio de guerra, mas com regras (como era no direito romano): não a qualquer momento, não em certos períodos, não com algumas pessoas…Mas quando é preciso defender os direitos de Deus (o Islã que é contestado ou o perigo de uma revolta), a guerra é uma obrigação. Tudo isto torna a tradição islâmica muito ambígua. E tal ambigüidade é dita e afrontada. Também o problema da incredulidade é afrontado: o Corão admite um espaço aos não-muçulmanos (cristãos e judeus), mas não aos incrédulos, aos ateus ou aos animistas.

É necessário dialogar com clareza sobre estes problemas, ao invés de escondê-los. Alguns dizem: “O Islã é só violência”, e isto não é verdade. Outros dizem: “O Islã significa apenas tolerância e paz”, mas também isto é falso.

Que espaço e que seguimento tem o Islã liberal?

Penso que a maioria dos muçulmanos seja moderada. No Islã árabe – que conheço melhor – a maioria dos muçulmanos quer viver em paz com todos, com a liberdade de praticar a própria religião. O problema é que alguns insistem – segundo a tradição – em um regime islâmico, com um governo que garanta a prática religiosa islâmica.

Nesta divisão entre islã moderado e fundamentalista, também não estão em jogo motivações econômicas e políticas?

Os fundamentalistas pretendem a aplicação literal das leis do Islã, como foram concebidas pelo próprio Muhammad. A pretensão deles é fundamentada, mas a maioria muçulmana está orientada para uma relação menos rígida entre política e religião. Quase todos os países muçulmanos têm leis inspiradas no ocidente, modificadas onde existia incompatibilidade com o Islã. Os fundamentalistas idealizam como modelo o período de Maomé e dos quatro califas. Mas esta aplicação radical do Islã nunca existiu. Segundo o Corão, quem não acredita em Deus não tem escolha: ou acredita no Islã ou é morto. Mas isto nunca foi aplicado.

Todas as vezes que o Islã se encontrou com outras religiões, com o zoroastrismo na Pérsia, o hinduísmo na Índia, não trucidou a todos, mas achou uma saída, fazendo leis (fatwa) que assemelhavam estes fiéis aos cristãos ou judeus. De qualquer modo, ao lado de um islã moderado, existe outro “imoderado”, que mistura religião e política. Este islã fundamentalista quer a todo custo tomar o poder. Seu desígnio é antes de tudo, aquele de derrubar os regimes muçulmanos que são apoiados pelo ocidente, e que são definidos como “traidores”. Se nós perguntarmos: onde estão os regimes islâmicos sonhados pelos fundamentalistas? Na Arábia Saudita? Não, dizem eles, aquele é o pior regime de todos porque traiu os princípios de Maomé. No Irã? Não, porque tem uma base pré-islâmica pagã que corrompe tudo. Na prática, o ideal fundamentalista é uma utopia inexistente, que, porém torna impossível a convivência.

Na Europa e na Itália cresce a presença muçulmana e a convivência às vezes é sofrível…

Aqui na Europa, um muçulmano pode praticar a sua religião sem problemas. Quem diz que existem problemas – e são sobretudo os europeus convertidos, muito zelosos – tem um outro objetivo, aquele de difundir o islã colocando em dificuldades outras religiões. É absurdo pretender que uma escola tenha que interromper as aulas para fazer as orações muçulmanas. Isto não se faz em nenhum país islâmico. Ou interromper os trabalhos em uma fábrica para a oração. Também no Egito se fazem pausas, períodos de repouso e dentro destes períodos se reza, mesmo não sendo a hora exata. Não se pode pedir ao estado que mude as regras de vida e de trabalho: garantir a prática das religiões não é tarefa do estado. Os juristas muçulmanos podem fazer uma fatwa para permitir a oração nas horas não canônicas. Aproveitando da ignorância das pessoas na Europa, os muçulmanos pretendem sempre mais. Como conseqüência, os países anfitriões se tornam cada vez menos pacientes, e reagem. Na Europa, pessoas que antes eram muito tolerantes, agora estão se tornando racistas. Mas isto ocorre porque eles vêem que os muçulmanos são o único grupo cheio de pretensões.

Na Itália, por exemplo, os imigrantes muçulmanos são 30-35% de todos os imigrantes. Todos os outros, filipinos, senegaleses, peruanos, não pretendem nada em nome de suas religiões, fazem a própria vida com tranqüilidade. Só os muçulmanos pretendem. E em nome de que? Apenas pelo fato de que na mentalidade deles religião e política estão unidos. Um filipino que vem à Itália não pretende que exista uma igreja filipina. Os coptas, que jejuam pelo menos duzentos dias por ano, sem beber ou comer nada, nunca pediram em nenhum país do mundo facilidades: o jejum é algo pessoal. Ao contrário, para o Islã este é um negócio de política e então de poder. Com esta posição se corre o risco de um conflito.

Diante da polarização entre cristianismo e islamismo, qual é a missão dos cristãos?

Antes de tudo, não se deixar levar pela emoção. Na Itália existem cerca de

600 mil muçulmanos. Eles não se tornaram maus depois de 11 de setembro.

Devemos continuar a conviver. Na condição de que os europeus tenham consciência de sua identidade e de seus valores sobre a pessoa humana, seus direitos, a igualdade entre homem e mulher, a distinção entre religião e política.

Estes são valores absolutos, humanos: no ocidente, estes valores foram iluminados graças a tradição judaico-cristã, mas valem para todos. Fazer acordos sobre isto é ruim, porque bloqueia o desenvolvimento do islamismo.

A maioria dos muçulmanos quer os direitos humanos, o respeito da pessoa, uma distinção dos poderes, a liberdade para fazer escolhas individuais. Infelizmente, a perda da identidade por parte do ocidente, também faz mal aos muçulmanos, porque os torna inseguros.

Existe uma missão mais específica para os cristãos. Hoje, os muçulmanos desejam a modernidade, e, ao mesmo tempo, têm medo dela. Os fundamentalistas adquirem as técnicas modernas, mas rejeitam a mentalidade moderna. Ela parece a eles como atéia, anti-religiosa (e, em certo sentido, é). A tarefa dos cristãos é mostrar que a modernidade é compatível com a fé. É possível acreditar e ser moderno. Então a vida cristã se torna um modelo aceitável também por parte dos muçulmanos, como indivíduos e comunidade.

Uma última responsabilidade dos cristãos é oferecer os valores do Evangelho, válidos para toda a humanidade, sem fazer proselitismo, mas sem escondê-los. A alegria de viver e a solidariedade dos cristãos, não vem do ocidente, mas do evangelho. É isto que os muçulmanos esperam. Um muçulmano, também o mais moderado, permanece um fiel. Quando vem ao ocidente, ele pensa que encontrará outros fiéis, e tem um choque porque não os encontra – ou não os vê. O muçulmano não quer encontrar o ocidente apenas através da técnica ou do alimento, mas também como fé. Se, por exemplo, a Caritas (que cuida dos imigrados muçulmanos), organiza apenas distribuição de alimentos, sem fazer com que se perceba a fonte desta generosidade e disponibilidade, falta algo de essencial. Em tal caso, oferecer comida e hospitalidade pode ser também um contra-testemunho. Quem vem à Caritas deve encontrar o coração amoroso do qual nasce toda esta generosidade, segundo o exemplo das freiras de Madre Teresa. Se apenas a organização triunfa, os muçulmanos podem dizer: São mais ricos que nós; é claro que podem fazer assim…Nos dão aquilo que roubaram de nós no período colonial…

Existem instrumentos políticos para ajudar na convivência islâmico-cristã?

Sim, sobretudo no momento de acolhimento nos países europeus. Não devem dominar apenas os pedidos dos empreendedores europeus, a necessidade de mão de obra. É preciso ajudar os muçulmanos a compreenderem as regras de convivência européias. O estado deve prever infra-estrutura para acolher os milhares de imigrantes na Europa. Nos países de origem (norte África, Albânia, etc..), são necessários cursos de integração para a convivência, segundo um projeto claro. O multi-culturalismo não é algo onde cada um adapta seu jeito na medida em que chega ao lugar. Este multi-culturalismo selvagem cria apenas guetos, sem nenhum contato. Um verdadeiro multi-culturalismo supõe um projeto no qual existe uma cultura dominante (a leidkultur, como dizem os alemães, mas a palavra foi cunhada por Ghassan Tibi, cientista político palestino muçulmano), em torno da qual se agrupam as outras culturas, que interagem com a principal, e com ela se enriquecem e a enriquecem. É como uma polifonia: existe uma melodia principal, com a qual as outras vozes se integram.

A obrigação do país que hospeda é esclarecer a sua cultura fundamental. Nestes dias se fala do crucifixo exposto nas escolas italianas. Uma professora o tirou da parede como sinal de respeito para com um aluno muçulmano. Mas isto é violência. O crucifixo é um dado importante na cultura italiana. Se eu me sinto oprimido, tenho problemas com minha identidade, não com o crucifixo. Nas escolas, na época de Natal, sempre “por respeito”, se procura eliminar todas as referências ao nascimento de Jesus. Mas para o Ramadã se oferecem todas as explicações necessárias. Tudo isto mostra que a Europa e em particular a Itália, sofrem da falta de identidade. Para alguns existe inclusive a vontade de vingar-se da cultura cristã utilizando o islã. (Fides 13/11/2001)

PAQUISTÃO
“Os terroristas pró-taleban ainda farão vítimas entre os católicos”
Entrevista com p. Patras, pároco da igreja onde aconteceu o massacre

Bahawalpur (Fides) – Na noite de hoje, das 19h às 20h, serão celebrados os funerais do massacre ocorrido na Igreja de São Domingos. Estarão presentes na cerimônia o bispo católico de Multan, mons. Andrew Francis e várias autoridades locais. A informação foi dada à Fides pelo pároco da Igreja, padre Rocco Patras, frei dominicano de 40 anos, há cinco na paróquia. Ele também declarou à Fides que 22 pessoas foram brutalmente atingidas no ataque terrorista. Destas, 17 foram mortas: seis mulheres, seis homens (incluindo os policiais que estavam de plantão na igreja), e três crianças. Durante a cerimônia fúnebre, será lido o telegrama que o Papa João Paulo II enviou ao Núncio no Paquistão, no qual expressa sua “absoluta condenação” ao “trágico ato de intolerância”, e afirma sua proximidade na oração pelas famílias das vítimas e pela luta da comunidade cristã paquistanesa.

A Igreja de são Domingos é uma igreja católica, mantida há 40 anos pelos dominicanos. Bahawalpur é uma cidade do sul Punjiab, parte da diocese de Multan.

Padre Rocco contou à Fides o que aconteceu: “Sempre vivemos em paz com todos. Existem muitas comunidades cristãs não-católicas que usam nossa igreja há pelo menos 30 anos. Normalmente a Igreja do Paquistão [um conjunto de denominações protestantes] realiza o culto das oito. Às nove acontece a missa católica. Hoje pela manhã, mais ou menos às 8h45, no fim da oração, o pastor Emmanuel estava para dispensar a comunidade. Cinco pessoas chegaram com duas motocicletas. Dispararam nos policiais que estavam de plantão na porta. Um deles foi morto, o outro ferido. Entraram na igreja e começaram a disparar. Foram brutalmente atingidas 22 pessoas, das quais 17 foram mortas: seis mulheres, seis homens (incluindo os policiais), e três crianças. Ouvi seus gritos e choro enquanto estava preparando a missa. Fui até a porta da igreja e vi algumas crianças que fugiam, enquanto um cristão cuidava do policial ferido. Tudo aconteceu em poucos minutos, e os assassinos conseguiram fugir. Todos os fiéis e católicos que chegavam para a missa começaram a cuidar dos feridos e dos corpos dos mortos.

Existe uma ligação entre os bombardeios no Afeganistão e estes assassinatos?

Sim, absolutamente. No Paquistão existem muitos grupos fundamentalistas islâmicos, ligados às redes terroristas da Caxemira e do Afeganistão. Em todos estes anos, quando qualquer país muçulmano era atingido por potências ocidentais, nós, cristãos do Paquistão, pagamos a conta: mortes, torturas, sofrimentos. Isso aconteceu durante a Guerra do Golfo, dez anos atrás. Há uns quatro anos, uma vila cristã foi totalmente destruída.

Vocês receberam solidariedade das comunidades muçulmanas?

Aqui as pessoas são muito próximas. Também a administração paquistanesa está muito pesarosa pelo acontecido. Tivemos a visita do Ministro para as Minorias Religiosas, Dr. Ghalib Ranjha. Os fundamentalistas são um grupo pequeno. A maioria das pessoas exprimiu condolências e solidariedade.

O senhor acredita que a igreja estivesse suficientemente protegida?

Havia apenas dois guardas. Não é muito, mas no Paquistão a situação está sob tensão e depois, o ataque aconteceu de forma muito imprevista.

Por que para protestar contra os ataques americanos, os fundamentalistas paquistaneses matam outros paquistaneses?

Porque eles dizem: os cristãos da América, da Grã Bretanha, da França estão bombardeando nossos irmãos islâmicos, então nos iremos matar seus irmãos cristãos. Aqui no Paquistão sempre foi assim. Tenho medo que no futuro seja ainda pior. O governo está pronto a nos proteger, mas existem tantas situações de tensão no país, manifestações contra o governo. Temo que ocorram ainda muitas vítimas entre os cristãos.

O Provincial dos dominicanos no Paquistão, padre James Channan, fez uma imediata visita à comunidade de Bahawalpur. E quis deixar esta declaração à Fides: “É algo profundamente triste que alguns terroristas tentem desestabilizar o Paquistão. Foi realizado um verdadeiro massacre hoje pela manhã. Estes terroristas são uma minoria e são pró-Taleban. São anti-americanos. E como os americanos são cristãos, eles colocam sob sua mira os cristãos do Paquistão. Peço às autoridades que façam justiça e que prendam os terroristas. Estamos pedindo a todos que mantenham a calma. Mas não nos deixamos tomar pelo ódio. Imagine que aqui, na paróquia de são Domingos, o vice-pároco é um americano, padre Jim Nuttal. Ele tem 65 anos e há 30 trabalha no país.”. (Fides 13-11-2001)

PAQUISTÃO
Os bispos pedem paz e unidade para o país

Islamabad (Fides) – Condenação do terrorismo; agradecimentos ao Papa, às autoridades civis e à comunidade muçulmana, pela solidariedade demonstrada; esperanças para um futuro de paz: são estes os principais pontos de uma Carta pastoral escrita pela Conferência Episcopal do Paquistão no dia seguinte do massacre de Bahawalpur, ocorrido no dia 28 de outubro, que causou a morte de 16 pessoas e graves ferimentos em várias outras, uma dos quais morreu horas depois.

Os bispos convidam a comunidade cristã a celebrar ritos de sufrágio pelas vítimas da tragédia e lembram que Cristo não pregou a vingança, mas sim o perdão. “Estamos profundamente preocupados com os sofrimentos do povo do Afeganistão – continua a Carta – e rezamos para que se possa restabelecer logo a paz no país. Ao mesmo tempo, as organizações de caridade cristã estão fazendo o melhor para fornecer assistência humanitária aos refugiados afegãos e aos desfavorecidos do Afeganistão. Exortamos a todos que contribuam com o fundo instituído pelo Presidente para a ajuda aos refugiados.”.

Reconhecendo Cristo como única fonte de paz, o Episcopado paquistanês convida os fiéis a recitarem o rosário em família e a fazerem a cada dia orações especiais. A carta conclui: ” Acreditamos firmemente que o sacrifício dos mártires de Bahawalpur não será inútil e rezamos com fervor para que seu sangue possa lavar o ódio e a violência dos corações de toda população no nosso país, assim que possamos aprender a trabalhar pelo progresso, pela prosperidade e a paz do Paquistão”.

Os bispos também forneceram alguns diretivos pastorais ao clero e aos religiosos. As indicações exortam a evitar lugares arriscados e convidam os sacerdotes a não se exporem muito, deixando um papel mais ativo aos catequistas leigos. Recomendam ainda prudência nas entrevistas à imprensa e maior atenção com segurança durante as celebrações litúrgicas. As dioceses são convidadas a instituírem uma unidade de emergência, para receber e verificar todas as notícias sobre desordens. A unidade deve manter contato com as forças policiais, hospitais, bombeiros.

“As celebrações e homilias – está escrito – devem fazer nascer a paz, esperança e testemunhar os valores do Evangelho. Utilizem a Missa para a Paz e para os tempos de desordem civil, que se encontram no Missal Romano”.

Uma firme condenação ao terrorismo e à tragédia de Bahawalpur foi expressa também por um comunicado conjunto dos representantes da Igreja paquistanesa, católica e protestante. O texto lança um forte apelo à unidade: “Nós, bispos cristãos, convidamos a nação inteira a mostrar um sentido de plena unidade e solidariedade neste tempo de provação, hoje atravessado pelo país. Deixemos as diferenças e nos tornemos um só povo, sem diferença de casta, classe, cor ou credo. Somos chamados a responder à crise presente com a fé, e, plenos de esperança, devemos nos esforçar a construir a civilização do amor no nosso país, onde quer que moremos e trabalhemos”. (Fides 13/11/2001)

PAQUISTÃO
Mons. Francis: os cristãos, entre o medo e a esperança depois do massacre de Islamabad
Entrevista com o Bispo de Multan, mons. Andrew Francis, em cuja diocese se encontra a igreja onde aconteceu o massacre de 28 de outubro

(Fides) – Se define como “bispo para o diálogo inter-religioso”. Mons. Andrew Francis, 55 anos, bispo de Multan, tem uma agenda repleta de tarefas nestes dias. Bahawalpur, onde em 28 de outubro aconteceu o massacre de 16 cristãos, se encontra em sua diocese. Mons. Francis vai sempre de Islamabad – onde tem contatos com a Nunciatura Apostólica e o Catholic Relief Service – à sua diocese. Faz visitas pastorais aos fiéis, e também mantém vivas as ligações com líderes e intelectuais muçulmanos. O bispo é membro do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso. “Através de Fides, quero, antes de tudo, exprimir um sincero agradecimento ao Papa pela sua proximidade, da parte da população cristã e muçulmana de Multan, “, diz no começo do colóquio com Fides.

“Enviando mons. Joseph Cordes de Cor Unum, o Papa ajudou a diminuir a tensão e a devolver a esperança ao país. A mensagem do Santo Padre para o funeral das vítimas de Bahawalpur comoveu a todos, cristãos e muçulmanos.” Fides entrevistou mons. Francis para compreender como vive a comunidade cristã no Paquistão.

Hoje, qual é a situação da comunidade cristã em sua diocese?

Existe muito medo entre os fiéis de Bahawalpur. Continuo fazendo visitas pastorais para dar segurança às pessoas e levar mensagens de paz e confiança: também na dor Jesus está conosco e Ele nos doará a paz. Como bispo e como cristão, sou chamado a reafirmar a minha forte fé em Cristo e a obediência ao Santo Padre, e ao ensinamento da Igreja, que nos manterá unidos uns aos outros.

Quais os sentimentos na comunidade muçulmana?

Existe grande solidariedade. O governo do Paquistão apresentou imediatamente depois da tragédia suas condolências. O presidente, os ministros federais, o governo de Punjab nos ajudaram neste momento doloroso. A comunidade muçulmana, os ulema, as associações profissionais, os estudantes, todos nos pediram perdão. O país inteiro apreciou o fato do bispo de Multan não ter feito acusações, e acabar se tornando um embaixador da paz, reconciliação e perdão. De tal modo aumentamos nossa força moral. A participação de toda comunidade muçulmana é uma grande esperança para o futuro do país. Também os cidadãos comuns demonstraram grande tristeza, condenando os extremistas. No cortejo fúnebre, as pessoas aplaudiam quando passava a procissão que acompanhava os corpos ao cemitério. Por isto, agradeço a todos. Não obstante as dificuldades do presente, estamos confiantes de podermos continuar nossa vida cristã no futuro.

Como é o relacionamento entre as duas comunidades?

A Comissão para o diálogo islâmico-cristão se esforça para melhorar as relações com os muçulmanos. Devemos rezar para o término da guerra no Afeganistão: a reação contra os cristãos é conseqüência dela. Não sou um político, mas rezo pela paz e espero um futuro pacífico para o mundo. É preciso ser prudente, mas não desanimar. Muitos muçulmanos estão interpretando um importante papel para diminuir a tensão. Sabemos que perdão e reconciliação são mais fortes que a violência. Sou um “bispo para o diálogo islâmico-cristão”: o Papa me nomeou membro do Pontifício Conselho que trabalha nesta área. Redobrei o meu trabalho para ter contatos de base e fazer com que as duas comunidades se encontrem, compartilhando os valores de paz, da reconciliação e da harmonia. Estou convencido que o sacrifício dos mártires de Bahawalpur não será inútil. Acredito que, em tempo de tribulação, Deus está conosco.

O que o senhor pede aos governos ocidentais empenhados na guerra?

Como fez o Santo Padre, pedimos aos líderes políticos do mundo que não usem apenas a lógica da força, mas aquela do diálogo, e que trabalhem para a reconciliação. No Paquistão e no mundo não existe um conflito de civilizações: não mudamos depois de 11 de setembro. Mas somente Deus conhece o futuro.

Quais são seus próximos empenhos?

Estamos procurando encontrar também os fundamentalistas, e estamos promovendo a oração e a reconciliação na diocese de Multan. Pedi ao clero que celebre a Eucaristia do lado de fora das igrejas, testemunhando publicamente a fé. Como bispos do Paquistão, escrevemos uma carta pastoral para reafirmar nossa vontade de paz e perdão. Nós, cristãos do sul asiático, estamos experimentando que o Papa é um símbolo de unidade. E peço para o meu país a intercessão da Virgem Maria, Rainha da Paz. (Fides 13/11/2001)

ÁFRICA
Os Bispos: “O perigo é o extremismo”

Roma (Fides) – O perigo é o fundamentalismo, não a religião islâmica.

É a opinião de três bispos africanos contatados por Fides, que vivem em países com uma forte presença muçulmana. “No Quênia, as relações entre muçulmanos e cristãos são muito cordiais”, diz o bispo de Embu (Quênia), mons. John Njue, “por exemplo, trabalhamos juntos sobre a revisão da constituição. Enquanto Igreja católica, explicamos que o processo de revisão constitucional deve envolver a todos, não apenas o parlamento. Protestantes e muçulmanos logo apoiaram nossa posição”.

Segundo mons. Njue, os bombardeios no Afeganistão não provocaram tensões no Quênia, fora algumas manifestações de muçulmanos.

Um outro país onde existe uma boa relação entre cristãos e islâmicos é a Uganda, como confirma à Fides o arcebispo de Gulu, mons. John Baptist Odama, que não vê perigos de conflitos religiosos. “Existe um sentimento comum sobre assuntos como paz e educação. Isto se observa de maneira especial na minha área, Gulu, que se encontra no norte da Uganda, na fronteira com o Sudão. Aqui, os líderes religiosos criaram iniciativas comuns pela paz. Constituímos um grupo inter-religioso com bispos católicos, anglicanos e Cadì muçulmanos”.

Também na Tanzânia acontece um diálogo construtivo entre cristãos e muçulmanos, como diz à Fides o arcebispo de Arusha, mons. Josaphat Louis Lebulu: “Tanto os cristãos quanto os muçulmanos repudiam o terrorismo, e qualquer ligação do terrorismo com a religião”. Os sentimentos para com as vítimas dos atentados nos EUA são unânimes: “Cristãos e muçulmanos assinaram o livro das condolências para as vítimas dos atentados, e, entre os que assinaram, estava o vice-presidente, que é um muçulmano. O líder de uma das maiores associações muçulmanas disse claramente que o terrorismo é contrário a todos os preceitos islâmicos”.

Porém, acontecem infiltrações de extremistas vindas do exterior. Tanto na Tanzânia quanto no Quênia, são infiltrações de pessoas que vêm treinadas em centros árabes especializados, e são preparadas para pregação. “Os extremistas não são do Quênia, mas conseguem encontrar seguidores locais. “Eles propõem um caminho que pode fascinar, também porque têm dinheiro disponível”. sustenta mons. Njue. Existem sinais positivos. No caso do Quênia, o fato de que os primeiros a recusarem o extremismo são os chefes islâmicos locais, e no caso da Tanzânia, a lei que garante a liberdade religiosa e que pune quem ofende a crença de outros.

O verdadeiro problema é o uso instrumental da religião para finalidades políticas. No Quênia, por exemplo, recentemente foram queimadas mesquitas e uma igreja, mas, como disse mons. Njue, “católicos e muçulmanos expressaram uma posição comum de condenação às violências, observando que eram uma tentativa do governo de criar um conflito entre os fiéis destas religiões. Os líderes das duas religiões conseguiram dissolver uma situação perigosa”.

Um bispo que vive em situações de conflito é o bispo de Yei, no Sudão, mons. Erkolano Lodu Tombe. Mons. Tombe disse à Fides que “o fundamentalismo islâmico é por si violento. Estes violentos estão prontos para tudo, também para ataques terroristas. Por isso, o fundamentalismo islâmico alimenta o terrorismo e a determinação à luta. Isto não significa que o conflito no Sudão seja apenas um conflito religioso: “O problema é político, não religioso. No Sudão, existem duas culturas diferentes: os árabes no Norte e os africanos no Sul. O elemento religioso é usado pelos árabes muçulmanos como desculpa para combater os africanos: eles dizem que o Islã está sendo ameaçado por infiéis, chamados cristãos. É um fato absolutamente falso, mas dá uma boa cobertura. A questão real é uma disputa cultural tremenda entre o Norte e o Sul “. (Fides 13/11/2001)

INDONÉSIA
A reconciliação avança depois do conflito étnico-religioso nas Molucas

Jacarta (Fides) – Em contraste diante do que muitos acreditam sobre o caráter religioso da crise no Afeganistão, acontece o processo de reconciliação entre as partes envolvidas no conflito das ilhas Molucas.

O mediador do processo, Ichsan Malik, de Jacarta, investiu muito de seu tempo e de suas capacidades para reunir líderes das comunidades em conflito, cujos membros vivem separados pela linha da fronteira religiosa.

Grupos de representantes das vítimas do longo conflito – no qual foram envolvidas cerca de 20 mil pessoas – que começou em 19 de janeiro de 2001, se reuniram para discutir pontos de acordo. Se esclareceu que estes confrontos foram manipulados politicamente e de propósito classificados como conflitos entre cristãos e muçulmanos.

Os líderes religiosos se encontraram e trabalharam para sustentar o processo de paz. Ocorreram encontros na área universitária, onde o conflito foi tão violento que destruiu a Universidade estatal Pattimura, na qual os muçulmanos reclamavam dizendo ser dominados por cristãos. Em junho de 2000, os muçulmanos, com o apoio do exército – ou pelo menos com a omissão dos funcionários da polícia – destruíram as estruturas universitárias.

Em 23-25 de outubro, o grupo que está trabalhando pela paz de BakuBaeMaluku, se encontrou com os representantes do setor educativo das Molucas centrais em Malang, cidade ao sul de Java. Os institutos superiores representados eram: a Universidade estatal de Pattimura, o Instituto estatal de estudos islâmicos de Stain Ambon, a Universidade cristã Ukim, a Universidade islâmica de Darussalam e o instituto católico Trinitas Stia. Os participantes concordaram em promover um fórum pela reconciliação. Em um encontro similar, os representantes dos institutos elementares e médios decidiram iniciar uma comissão escolar que garanta o equilíbrio no número de professores muçulmanos e cristãos, informando ao governo local, (sobretudo às autoridades administrativas de Ambon), sobre a necessidade urgente de uma nova lei que trate da autonomia regional. (Fides 13/11/2001)

FILIPPINE
Cristãos e muçulmanos unidos pela libertação de padre Pierantoni

Manila (Fides) – Muçulmanos e cristãos trabalharão juntos pela libertação de padre Giuseppe Pierantoni, o missionário dehoniano raptado em 17 de outubro em Dimataling, na ilha de Mindanao, sul das Filipinas. Foi o que disse a Fides pe. Jerry Sheehy, Superior provincial dos Missionários do Sagrado Coração de Jesus, congregação a qual pe. Pierantoni pertence. Em conversa com Fides, pe. Sheehy afirma: “Estamos encorajados pelo apoio recebido da comunidade muçulmana: se disse de forma clara que o rapto dos inocentes é um gesto que vai contra a religião islâmica”.

Não obstante as ameaças recebidas em Mindanao, o Superior, também ele na ilha há mais de dez anos, confirmou que “sua congregação não tem intenção de deixar Mindanao”.

As comunidades cristã e muçulmana de Dimataling, onde o missionário trabalhava há cerca de três anos, fez diversos apelos aos seqüestradores para a libertação do padre. Os Dehonianos receberam o apoio do prof. Tahabasman, presidente do Conselho Islâmico Filipino, do juiz Eid Kabalau e de Ghazali Jaafar, sub-chefe do Moro Islamic Liberation Front (MILF), grupo que continua a ser o maior suspeito pelo seqüestro. Fontes do exército afirmam que o missionário foi raptado por guerrilheiros foragidos do MILF, que organizam seqüestros com objetivo de extorsão. Os seqüestradores pediram um resgate de cerca de 200 mil dólares, mas a Igreja, sublinha pe. Sheehy, disse que não paga qualquer resgate.

O bispo de Pagadian (diocese na qual se encontra Dimataling), pe. Zacharias Jimenez, disse à Fides que estão em curso negociações pela libertação. Como se temia, o missionário foi mandado a outro grupo criminal. “Mas é estranho que ninguém nos tenha fornecido informações”, afirma o bispo, enquanto os militares pedem notícias. Segundo as últimas informações, os raptores estão fugindo, perseguidos pelo exército regular. Por isto querem apressar as negociações pela libertação, que mons. Jimenez espera acontecer antes do início do Ramadã.

Na conclusão de um encontro que aconteceu de 5 a 8 de novembro em Pagadian City, os bispos e o clero das dioceses de Dipolog, Ozamis, Pagadian, Iligan e Marawi (todas em Mindanao), escreveram em um comunicado que o seqüestro de pe. Pierantoni é vai contra os princípios básicos dos cristãos, muçulmanos e tribais. O seqüestro é “uma manifestação de poder do mal que existe em nossas comunidades e é contrário aos planos de Deus para nosso povo”. As recentes violências, que incluem a morte do missionário de São Colombano, pe. Rufus Halley, ocorreram “mesmo que os líderes e as populações cristã, muçulmana e tribal de Pagadian estejam se esforçando para construir uma comunidade de harmonia e paz através do diálogo inter-religioso”, segundo o texto do comunicado.

De todo o mundo chegam às Filipinas mensagens de solidariedade pelo seqüestro de pe. Pierantoni. “É horrível que um empenhado missionário seja arrancado da comunidade que serve e que precisa dele”, escreveu a pe. Sheehy a diocese de Kisangani, na República Democrática do Congo. O “Leicester Council” no Reino Unido, organismo que representa cristãos, budistas, hinduístas, judeus, jainistas, sikhs e outras religiões, afirma: “O Conselho reza pela libertação do missionário e a conversão de seus raptores.”. (Fides 13/11/2001)

NIGÉRIA
Um Centro para os convertidos do Islã

Kaduna (Fides) – Um Centro para proteger os islâmicos convertidos ao cristianismo funciona em Pambégua, no estado de Kaduna (Nigéria setentrional). Os acolhidos pelo Centro são sobretudo pessoas de etnia haussa. Os convertidos são ameaçados por membros de suas comunidades, para que renunciem a nova religião. Normalmente, ocorrem violências e espoliações.

Um dos responsáveis do Centro afirma que: “a maior parte das pessoas que é aqui acolhida, recebe ameaças das próprias famílias. Mesmo sob esta estrutura não estão totalmente seguros, e, em certos casos, é preciso mandá-los para Jos ou outras regiões onde os cristãos não sejam minoria”. Depois, algumas destas pessoas freqüentam a faculdade de teologia, outras são acolhidas por famílias cristãs, outras se transferem em diferentes estados onde encontram um trabalho. Ocorreram casos onde os convertidos voltaram para seus vilarejos de origem, uma vez terminado o ódio em relação a eles. Quem volta para casa pode se tornar missionário em relação ao próprio povo: segundo o responsável do centro “sempre mais homens jovens estudam na escola bíblica, e, uma vez formados, pensam em voltar para anunciar o Evangelho ao seu povo.”

Também pessoas de etnia fulani, procuram o centro de acolhida, e algumas delas se dispõem a evangelizar o próprio povo. A disponibilidade dos missionários de etnia haussa e fulani é importante, porque estes dois grupos desconfiam dos estrangeiros.

Para ajudar os inúmeros jovens convertidos que são analfabetos, se estuda a constituição de grupos de escuta, chamados “A fé chega escutando”. O projeto de transmissão oral da fé se inspira em um projeto análogo, desenvolvido em comunidades cristãs de língua yoruba e igbo, do sul. Os haussa representam 21% da população e os fulani, 11%. A maior parte das pessoas destas etnias é muçulmana. (Fides 13/11/2001)

ÁSIA
Liberdade de culto para os cristãos, mas a missão é proibida

Roma (Fides) – Na Ásia, o Islã se estende do Oriente Médio à Indonésia. Nos países de maioria islâmica, as relações entre muçulmanos e cristãos nem sempre são fáceis. Existem suspeitas e mal-entendidos antigos, mas existem muitas pessoas de boa vontade. O diálogo inter-religioso é possível onde os cristãos são nativos e compartilham língua e cultura com os muçulmanos. Na península arábica, o diálogo não se desenvolveu porque os cristãos são na maioria estrangeiros e permanecem poucos anos, a trabalho. Na Arábia Saudita, não existe liberdade religiosa e os cristãos sofrem perseguições. No Afeganistão, a presença cristã foi cancelada pelos talebãs. Dada a impossibilidade de fazer missão explícita, vista pelos governos como uma forma de proselitismo, a presença cristã nos países islâmicos se caracteriza de dois modos: testemunho da fé vivendo entre as pessoas (como fazem os franciscanos ou as Pequenas Irmãs de Charles de Foucauld, no Afeganistão, Paquistão, Turquia); promovendo obras sociais, trabalhando em hospitais, escolas, orfanatos.

AFEGANISTÃO

População: 25 milhões. Muçulmanos: 99%; cristãos: poucas dezenas

O regime dos talebãs praticamente expulsou do país os resíduos das maiorias cristãs que, chegavam a 7000. Em Cabul, atualmente estão três Pequenas irmãs de Charles de Foucauld, que trabalham em silêncio, ajudando a população local. Oito voluntários da associação humanitária cristã Shelter Now International, presos em 3 de agosto de 2001 sob a acusação de proselitismo religioso, posteriormente foram libertados.

ARÁBIA SAUDITA

População 21,6 milhões. Muçulmanos: 93,7%; cristãos: 3,7% (católicos 900.000).

A comunidade cristã na Arábia Saudita, constituída na maioria de cidadãos estrangeiros imigrados por trabalho, continua a sofrer com as restrições da liberdade religiosa. Os cristãos não podem se reunir para rezar nem mesmo em casas particulares, é vetada a posse de bíblias e o proselitismo religioso é punido com a morte. Segundo a organização humanitária Middle East Concern, oito cristãos foram presos recentemente em uma blitz da polícia. Os trabalhadores estrangeiros residentes na Arábia são cerca de 6 milhões. Em 1998, uma blitz da polícia saudita prendeu inúmeros trabalhadores filipinos, incriminados por “posse de bíblias”.

Além de constituir o grupo não-muçulmano mais numeroso, os cristãos também são os mais organizados enquanto grupo clandestino de oração e, por isso, alvo preferido pelas autoridades sauditas. Considerada “terra sagrada” muçulmana, a Arábia Saudita não permite aos fiéis de outras religiões que construam lugares próprios de culto, nem que celebrem os cultos em caráter privado. Grupos de oração ou estudo da Bíblia se encontram nas maiores cidades (Riad, Jiddah, Al Jubayl e Dammam). A participação nestas reuniões é arriscada. Os fiéis devem estar sempre atentos quando comunicam a data e o lugar do encontro. De outra forma, a posse de material não-islâmico (rosário, cruzes, imagens sacras e bíblias), leva à prisão por parte dos mutawa’in (a polícia religiosa do bom costume). Interrogados sobre o motivo do veto aos outros cultos na Arábia, os muçulmanos afirmam que a “sacralidade de Meca e de Medina foi estendida a todo o território”. A acusação de professar o credo cristão é normalmente usada como álibi para eliminar opositores do regime.

BANGLADESH

População: 129 milhões. Muçulmanos: 88%; cristãos 0,3% (católicos: 300.000)

O Islã, que é religião de estado, se difundiu há 600 anos, e tem um papel importante na vida social, mas não é uma força política. Os direitos das maiorias religiosas cristãs são reconhecidos pela lei. A sharia não é lei nacional e a tolerância inter-religiosa é boa. Os cristãos são uma minoria ativa na luta contra a pobreza, através da “Caritas Bangladesh”, com numerosos serviços de promoção humana e social, assistência sanitária e caritativa. Por isto, são geralmente muito estimados pela população. A Igreja católica está também muito empenhada no campo da educação: administra 518 escolas entre ensino elementar, médio e faculdades. No setor hospitalar, 340 institutos (hospitais, clínicas, orfanatos, casas para deficientes), são gerenciados por católicos. O cristianismo ainda é considerado uma “religião estrangeira”. A comunidade católica é jovem, a fé e a tradição cristã ainda não estão radicadas na vida dos fiéis. Entre as dificuldades, está a liberação dos vistos para os missionários, que ainda são vistos com suspeita.

BAHREIN

População: 617.000. Muçulmanos: 82,4%; cristãos: 10,5% (católicos: 25.000)

Existem cerca de 45 mil cristãos no país, que pertencem a diversas confissões que têm liberdade de culto. Os católicos têm 3 sacerdotes e 7 freiras combonianas que dirigem uma escola de 1.600 alunos. Os católicos construíram recentemente uma igreja com 1.300 lugares. Existem por parte do governo pequenas demonstrações de abertura democrática para com outras religiões.

BRUNEI

População: 307.000. Muçulmanos: mais de 70%; cristãos: 7,7% (católicos: 3.000 locais; 20.000 com os estrangeiros)

O Islamismo é religião de estado. Ainda que a Constituição afirme que podem ser praticadas todas as religiões “em paz e harmonia”, com o tempo estas garantias foram sendo reduzidas. Na última década, o governo proibiu a pregação, e as conversões, negou vistos a bispos e missionários, baniu a importação de material religioso, se recusou a conceder permissões para a construção de igrejas. O ministério da Educação impõe a todos os estudantes, inclusive aos não-muçulmanos, que façam estudos islâmicos e aprendam o árabe. Também escolas particulares não podem ministrar qualquer instrução cristã e têm a obrigação de ensinar o islamismo. Em 1998, a Igreja Católica estabeleceu o primeiro cargo apostólico, do qual o Governo tomou nota.

EMIRADOS ÁRABES

População: 2,4 milhões. Muçulmanos: 75,6%; cristãos: 11,1% (católicos: 125.000)

A União, na Constituição provisória de 1971, declarou o Islamismo religião oficial. Mas a comunidade cristã goza de liberdade de culto e promove obras educativas e sociais. Nos Emirados, existem 14 sacerdotes e 6 escolas católicas. A Eucaristia pode ser celebrada nas cinco paróquias existentes e em casas de particulares. No Emirado de Abu Dhabi, se celebra missa regularmente na catedral católica; naquele de Dubai está a maior igreja católica do Oriente Médio e a comunidade cristã, com mais de 30 mil fiéis, obteve permissão para construir uma segunda igreja.

JORDÂNIA

População: 6,3 milhões. Muçulmanos: 96%, cristãos: 4% (católicos: 48.000).

Os cristãos têm liberdade religiosa suficiente, garantida pelo estado. Podem viver e trabalhar no país, com limitações. Em fevereiro de 2000, uma petição apresentada por 53, dos 80 deputados da Câmara, pediu a aplicação da sharia na Jordânia. Alguns grupos ligados à organizações missionárias cristãs lamentaram as dificuldades burocráticas para a permanência de seus membros. O governo negou autorizações à algumas manifestações públicas de fiéis. Na ocasião da visita do Papa em 20 e 21 de março de 2000, foi concedido o uso do estádio de Amã aos católicos, para celebração da missa.

INDONÉSIA

População: 211 milhões. Muçulmanos: 88%; cristãos: 10% (católicos: 6,4 milhões)

É o país muçulmano mais populoso do mundo, com mais de 150 milhões de seguidores de Alá. A Constituição, fundamentada na Pancasila (os cinco princípios basilares do estado), assegura liberdade de culto a todos os membros das religiões reconhecidas (Islamismo, Cristianismo, Budismo, Hinduísmo), e o governo (geralmente) respeita este princípio; existem algumas restrições para atividades religiosas não reconhecidas. O Islã na Indonésia é tradicionalmente moderado, e sempre viveu em coexistência pacífica com as maiorias cristãs. Uma onda de protestos fundamentalistas foi verificada com o início dos bombardeios no Afeganistão. Entre os grupos na linha de frente dos protestos estão: a Associação dos Estudantes Islâmicos (HMI), o Movimento Islâmico Indonesiano (GPI), o Sindicato dos trabalhadores muçulmanos indonesianos (PPMI), o Fronte dos defensores do Islã (FPI). Estas formações afirmam querer enviar seus membros para combater no Afeganistão, ao lado dos talebans. As organizações islâmicas moderadas Nahdlatul Ulama (NU) e Muhamadiya (que juntas contam com cerca de 70 milhões de seguidores) solicitaram calma as pessoas. O chefe da NU, Hazim Muzadi, explicou: “As pessoas pensam que o ataque dos EUA tenha motivos religiosos”. Episódios de fundamentalismo islâmico foram verificados há dois anos no arquipélago das Molucas, onde alguns cristãos foram convertidos à força e circuncidados como sinal de pertencer ao Islã. Mas os observadores concordam quando dizem que o que aconteceu nas Molucas não foi um conflito religioso, e sim, uma guerra de poderes: o ex-presidente Suharto e facções do exército contrárias ao presidente em exercício, Wahid. O conflito religioso foi montado por militantes do movimento Laskhar jihad, vindos de fora e sustentados por militares. Entre os membros do grupo estariam guerrilheiros ligados a Bin Laden. A partir do Natal de 2000, uma série de atentados criou tensão e desespero no país, quando algumas igrejas cristãs de Jacarta foram destruídas. Explosões em duas igrejas da capital foram verificadas também em julho último, enquanto o país atravessava um momento político delicado, com a destituição do presidente Wahid e a posse da nova presidente, Megawati Sukarnoputri. Dias atrás, a presidente colocou em pauta o perigo da “balcanização” da Indonésia, se o conflito étnico e religioso não permanecer sob controle.

IRAQUE

População: 23 milhões. Muçulmanos: 96%; cristãos: 4% (católicos: 270.000)

No Iraque o Islamismo é a religião de estado mas, – como sempre sublinha o patriarca caldeu Raphael I Bidawid – a principal dificuldade para as pessoas não é o relacionamento com os muçulmanos, e sim a pobreza, conseqüência do embargo. Existem cristãos também no governo (com o vice-primeiro ministro Tarek Aziz), e existe uma antiga comunidade cristã curda no norte do país.

IRÃ

População: 62 milhões. Muçulmanos: 99%; cristãos: 0,1% (católicos 16.000)

Com a República islâmica estabelecida em 1979, o Islamismo xiita é a religião de estado, mas existe liberdade limitada para as minorias. A Constituição sanciona que nenhum seguidor de outras religiões pode ser constrangido a se tornar muçulmano, mas é vetado tentar converter um muçulmano. As minorias religiosas no Irã têm a liberdade de seguir os próprios ritos no interior de lugares de culto. Os cristãos que freqüentam as escolas muçulmanas não são obrigados a freqüentar as aulas de religião islâmica, mas podem estudar as suas religiões em textos preparados e aprovados pelo Ministério da Instrução, mas que normalmente não respeitam plenamente a fé cristã. As minorias religiosas podem resolver outras questões ligadas à religião (matrimônio, herdeiros, etc.) segundo suas normas. Com a eleição do presidente moderado, Mohammad Khatami (1997), se abriu uma nova estação de tolerância e reformas. Segundo o presidente, o diálogo entre as religiões é a “mais alta expressão do diálogo entre civilizações”. Com os cristãos e em particular com o Vaticano, existe um terreno de cooperação em todos os campos, que se realiza junto à ONU, em defesa da vida e da família.

KUWAIT

População:1,9 milhões. Muçulmanos: 83%; cristãos: 12,7% (católicos: 175.000)

A Constituição garante liberdade religiosa. Os cristãos, todos trabalhadores estrangeiros, gozam de liberdade de culto em um clima de tolerância religiosa. A Igreja católica tem duas igrejas: a Catedral da Sagrada Família no deserto e a Igreja de Nossa Senhora da Arábia em Ahmadi. Há cerca de um ano uma sociedade privada foi autorizada a importar bíblias e material religioso.

MALÁSIA

População: 22,2 milhões. Muçulmanos: 50%; cristãos: 8,3% (católicos: 721.000)

É uma monarquia constitucional com o Islamismo como religião de estado. A constituição garante liberdade de religião, mas os movimentos fundamentalistas exercem forte pressão política e social. O proselitismo é desencorajado, e a imprensa cristã encontra dificuldades de difusão, as autorizações para construir igrejas são concedidas com muitas restrições e dificuldades. Há cerca de uma década o Partido Fundamentalista tenta impor a sharia.

MALDIVAS

População: 286.000; Muçulmanos: 99,2%; cristãos: 0,1% (católicos: 80)

As ilhas são um paraíso turístico com mais de 400 mil visitantes por ano. O Islamismo é a religião oficial e outras religiões são proibidas. A sharia é vigente, mas os observadores notam que o governo tem certa tolerância com os costumes sociais, como o consumo de bebidas alcoólicas. Os cristãos não têm lugar de culto e o testemunho público pode ser punido com severidade. Em 1998 alguns cristãos foram presos por causa de sua fé. No início de 99, o governo realizou uma campanha maciça de islamização, através da imprensa e da construção de novas mesquitas, marginalizando ainda mais os cristãos.

OMÃ

População: 2,5 milhões. Muçulmanos: 87,4%, cristãos: 4,9% (católicos 55.000)

Como em outros pequenos sultanatos da península arábica, Omã (50 mil fiéis, 4 paróquias, 7 sacerdotes), os fiéis se reúnem a cada semana para oração e a “liturgia da Palavra”. Em Omã, existem 4 paróquias funcionando. O sultão doou o terreno e mandou edificar as igrejas, pagando as despesas. Subvencionou também um templo hindu. A igreja de Masqat (Omã), foi presenteada pelo sultão com um órgão alemão para a liturgia. Os cristãos administram escolas e podem se organizar.

PAQUISTÃO

População: 141 milhões. Muçulmanos: 97%; cristãos: 1,5% (católicos: 1.088.862)

As minorias religiosas cristãs são discriminadas pelo “sistema de eleitorado separado”, que regula o direito de voto com base na opção religiosa. As minorias não muçulmanas podem votar em um número restrito de candidatos, e apenas da própria religião.

Segundo os líderes cristãos, o atual sistema eleitoral é uma verdadeira violação dos direitos humanos e é responsável pelo apartheid religioso no país. Eles também protestam contra a lei da blasfêmia, sobre a qual em maio de 2000 o general Pervez Musharraf anunciou que ocorreria uma mudança, mas, cedendo aos protestos dos integralistas islâmicos, desistiu da modificação.

Em 6 de maio de 1998, mons. John Joseph, bispo de Faisalabad, tirou a própria vida, como gesto supremo de protesto pelo caso do cristão Ayub Masih, condenado a morte pela aplicação da lei da blasfêmia. A lei pune inclusive com a pena de morte “quem quer que, com palavras ditas ou escritas ou com representações visíveis ou com qualquer meio, direta ou indiretamente, ofenda o sagrado profeta Maomé” [Código Penal Paquistanês, 1986, seção 295 (c), ndr]. A lei é quase sempre instrumentalizada para resolver disputas ou litígios pessoais.

Recentemente aumentaram as manifestações dos integralistas islâmicos, “incapazes de distinguir entre os EUA e a cristandade”. Em 28 de outubro, alguns integralistas islâmicos abriram fogo em uma assembléia de fiéis reunidos na Igreja de São Domingos em Bahawalpur, assassinando 18 pessoas e ferindo 5 de modo grave. As minorias religiosas cristãs foram submetidas à violência quando ocorreram crises internacionais. Em 1981, quando um grupo de sauditas assediou a sagrada Kaaba muçulmana em Meca, igrejas e conventos no Paquistão foram atacados. Em 1986, foi incendiada a igreja em Rahim Yar Khan e em 1991, enquanto as forças aliadas atacavam o Iraque, um convento em Rawalpindi foi saqueado. Em 1997 o vilarejo cristão de Shantinagar (no norte Punjab) foi arrasado sem qualquer motivo.

PALESTINA

População: 2,2 milhões. Muçulmanos: 73,5%; cristãos: 8,6% (dos quais católicos: 28.000)

Os cristãos na Palestina estão divididos em pequenas comunidades, católicas, ortodoxas e protestantes. Na Cisjordânia existem cerca de 20 mil católicos latinos que, graças ao empenho de suas numerosas congregações nos campos educativo e social, gozam de um prestígio único entre a população. Da comunidade latina palestina provém o Patriarca de Jerusalém, Michel Sabbah. Os gregos-ortodoxos são 25 mil na Cisjordânia.

Depois da segunda Intifada palestina, em setembro de 2000, se acentuou a pressão dos grupos islâmicos fundamentalistas que querem um estado palestino islâmico. Isto está criando um forte distanciamento da história do movimento de libertação da Palestina, tendencialmente leigo, e uma marginalização dos cristãos na política. A Igreja sempre sentiu a condição de minoria em um contexto muçulmano que, por um lado, exige solidariedade política, e por outro, tende a marginalizá-la, movendo muitos jovens à imigração.

Em 15 de fevereiro de 2000, foi assinado um Acordo de base entre o Vatican

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