Autor: Giorgio Paleari
A missão na cidade exige uma renovada espiritualidade. Reflete o caminho de Jesus na cotidianidade da vida e nas relações primárias entre as pessoas. Num momento em que as identidades desintegradas afastam o contato direto entre as pessoas, a missão privilegia o relacionamento humano e aponta para uma aproximação mais personalizada.
A presença missionária revela-se menos nas palavras contundentes e nas argumentações que convencem e mais na presença silenciosa de amizade. O modelo é o mesmo de Jesus que caminha ao encontro do povo da Palestina e de Jerusalém, tornando-se companheiro no caminho. Jesus é um peregrino que se ajunta às pessoas desanimadas e sem esperança. Escuta suas ansiedades e compartilha a falta de sentido dos acontecimentos e da história. Fala a partir do horizonte do outro e, com palavras e sinais, revela a profunda mensagem de Deus. No momento oportuno, desaparece, deixando os discípulos continuarem o caminho.
A espiritualidade missionária na cidade relativiza a arrogância de conhecer tudo e de ter a última resposta para tudo. A diversidade do caminhar e os ingentes desafios fazem do missionário um caminheiro que busca e que encontra, que ensina e que aprende, que oferece e recebe dons. O missionário é discípulo na itinerância e na busca do essencial. Não fala a partir do próprio mundo, mas a partir do mundo do outro, de suas inquietações e de suas perguntas sobre o sentido mais radical da existência.
É uma espiritualidade marcada por uma vida simples que se abastece somente da proximidade do outro, sem convencer com grandes estruturas e argumentações. Carrega somente o indispensável pelo caminho: uma forte experiência de Deus, uma paixão radical pelo Reino e um amor incondicional às pessoas, não importa a que classe social pertençam e a qual religião estejam filiadas.
É uma espiritualidade centrada no serviço e na comunhão com as Igrejas particulares. Os missionários são hóspedes e estrangeiros e, por causa disso, são sinais das coisas futuras que deverão acontecer.
É uma espiritualidade que se abastece da solidariedade com os seres humanos, especialmente com os mais pobres e sofredores. Assim como o rosto de Deus que Jesus veio revelar é um rosto compassivo e misericordioso, a espiritualidade da solidariedade faz do missionário um sinal da compaixão de Deus no meio das contradições humanas. A mão estendida e o gesto solidário tornam o missionário uma testemunha mais que um mestre.
É uma espiritualidade do caminho. O missionário desloca-se constantemente, acompanhando os passos inseguros e mutáveis do morador da cidade. Sai de casa de manhã cedo, percorre longos quilômetros, nos ônibus ou a pé, e se retira para um breve descanso nas noites cansadas, acompanhando o ritmo e as luzes da cidade.
A proclamação do Evangelho se dá mais através do testemunho de vida, da essencialidade das coisas, da desinstalação constante, do silêncio e do cansaço do caminho. O missionário urbano faz da própria vida uma constante comunicação personalizada da mensagem. Mesmo que use dos meios de comunicação social, a palavra dita é mais testemunhal. É uma palavra que ressoa junto a outros discursos, às vezes vazios e arrogantes, e preenche as frestas para dar sabor e sentido. É uma palavra que se torna carne na vida da pessoa da cidade (“O Verbo se fez carne”).
É uma espiritualidade fortemente comunitária e eclesial. Busca as relações e faz da Palavra de Deus e da celebração da Eucaristia o centro de uma vida fraterna, dom de Deus e construção do novo.
Enfim, trata-se de uma espiritualidade que, cada vez mais, está tomando um rosto e se fazendo, mas que precisa de mais tempo para se sedimentar. Tem a cor e o rosto da pessoa urbana, sem trair a inspiração profunda do Evangelho.
Fonte: http://www.pime.org.br/pimenet/mundoemissao/espiriturbana.htm
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