Autor: Walter Vieira S. Junior
1. A DESCOBERTA PROGRESSIVA DA ESPERANÇA
1.1. A criação e a esperança do Reino (o fim já está no começo).
1.2. A progressiva revelação da esperança no AT.
1.3. O ser humano como ser de esperança.
2. JESUS, REALIZAÇÃO DA NOSSA ESPERANÇA
2.1. Kénosis: caminho de Cristo para realização da esperança.
2.2. Parusia: realização plena de toda esperança.
2.3. Espírito Santo: garantia da nossa esperança.
3. IGREJA, SERVA E ANUNCIADORA DA ESPERANÇA
3.1. O anúncio (kérygma) da esperança.
3.2. O testemunho da esperança (caridade).
3.3. A celebração da esperança (dimensão sacramental).
Introdução
Partindo do amor do Deus criador, em cuja perspectiva é possível compreender seu relacionamento com o não-existente, notamos que Ele não seria capaz de deixar nada ao nada. Primariamente, a esperança fundamenta-se nas promessas desse Deus criador. A lembrança da intervenção histórica de Deus alimenta a esperança universal. A esperança do Reino de Deus está unida à esperança da salvação, da felicidade e da vida. Desde o início, Deus se faz presente na caminhada do povo, cuja esperança se encontra n’Ele. A dinâmica da esperança começa quando Deus se revela como alguém que promete a terra e a prole numerosa. Além desses dois elementos, a esperança vétero-testamentária inclui ainda a intimidade com Deus.
A partir da libertação do Egito percebe-se uma ampliação da esperança de Israel. Os profetas, por sua vez, são a motivação de que a esperança de Israel não será destruída. Eles foram os responsáveis por alimentar a esperança na restauração de Israel, anunciando-a na forma de uma nova aliança, e por pregar contra as falsas esperanças: força, inheiro, poder etc. Pouco a pouco, vamos percebendo que é a esperança que dá coragem a esse povo para seguir na sua caminhada. Sem a esperança, a vida perde totalmente o seu sentido. O homem não se contenta com o mundo, já que foi feito para algo maior; por isso, inconformado com a realidade que não o satisfaz plenamente, encontra em Deus a razão da sua esperança. Para o cristão, essa esperança consiste na posse dos bens eternos.
Com a vinda de Jesus ao mundo, concretizam-se as nossas esperanças, pois o prometido e esperado torna-se visível. Cristo, o novo Adão, carrega sobre si os pecados dos homens e Deus exalta sua humilhação. Jesus vem trazer ao mundo uma mensagem de misericórdia, de perdão e de salvação, mudando o foco do julgamento da lei para a graça de Deus. Seus milagres são manifestações da salvação que chamam à fé num Deus que deseja a plena felicidade do homem. Graças à Sua ressurreição, temos a garantia de que também ressuscitaremos para a vida eterna após nosso encontro pessoal com Ele na morte. Cristo prometeu retornar no fim da história; contudo, os primeiros cristãos esperavam uma volta imediata. Antes de regressar ao Pai, Jesus promete o auxílio do Paráclito, o Espírito Santo. Ele nos foi confiado como garantia da glória, nos acompanha em nossa caminhada e nos torna ricos em esperança.
Os apóstolos, testemunhas da ressurreição, têm a missão de anunciar essa boa-nova, segundo a qual todos os homens são chamados à salvação. A meta da pregação cristã é, justamente, comunicar a vitória da vida sobre a morte. O tempo da Igreja é o tempo da pregação e do testemunho. Este se manifesta na caridade que, juntamente com a fé fortalecem a esperança. A eficácia do testemunho eclesial é garantida pela presença do Cristo ressuscitado que, através do Espírito, acompanha Sua Igreja. Enquanto a esperança antevê o futuro e o Reino, já presentes em nosso meio, ela tem motivos para celebrar e comemorar. A celebração tem como ponto de partida as experiências humanas; contudo, trata da eternidade e visa o agradecimento a Deus e o fortalecimento dos cristãos. A festa surge, então, como manifestação da alegria de saber que, na eternidade, acontecerá a plena realização de tudo aquilo de bom e verdadeiro que aqui sentimos.
Primeiro Capítulo: A DESCOBERTA PROGRESSIVA DA ESPERANÇA
1.1. A criação e a esperança do Reino
No Deus que chama o não-ser ao ser, o futuro se torna compreensível uma vez que pode ser esperado. O crente vive para além do dia, na espera das coisas que , de acordo com a promessa do Criador do mundo, devem vir. Na perspectiva do Deus criador, é possível compreender um amor para com o não-existente, para com o desigual, transitório e sem valor. A esperança é capaz de ver um futuro para o que passa, o que morre, futuro este que está nas ppromessas do Deus criador. Por isso, viver sem esperança é como não mais viver. Não é à toa que Dante, ao falar sobre o inferno, escreveu: “Deixai toda a esperança, vós que aqui entrais”. “A esperança colocada no Criador torna-se felicidade no presente, pois seu amor nada deixa ao nada e mostra a tudo a abertura em direção ao possível, onde poderá viver e, com certeza, viverá”.
Unida à esperança do Reino de Deus está a esperança de que os homens e toda criação cheguem à salvação, à felicidade, à vida e ao seu verdadeiro destino. Na concepção do Reino de Deus, Moltmann destaca dois momentos relacionados entre si: a esperança do Seu reino histórico e do Seu senhorio universal. Diz ele que estes aspectos não podem ser opostos entre si de modo a afirmar que o primeiro é uma limitação nacional e o segundo é uma fé cósmica universal. Conclui afirmando que a esperança universal funda-se na lembrança da realidade histórica da ação de Deus e que o Reino de Deus já estaria presente como promessa e esperança dentro do horizonte de futuro para toda a criação.
Boff defende que o fim já está presente no começo. Diz ele que, quando o primeiro átomo começou a vibrar, seu movimento não foi sem sentido; “tudo se mexe e caminha porque está em gestação um céu que começa aqui embaixo e vai crescendo e se expandindo até terminar de nascer na consumação dos tempos”. Para ele, em vez de falarmos em fim do mundo, deveríamos falar em futuro do mundo.
Moltmann defende que, desde tempos remotos, o futuro da criação era designado como sendo Reino da Glória. A finalidade deste símbolo da esperança cósmica é, segundo ele, indicar que a criação no início é aberta e sua consumação consiste em ser pátria e moradia da glória de Deus. Sendo assim, no Reino da Glória, Deus tomaria integralmente e para sempre morada na sua criação e faria com que todas as suas criaturas pudessem participar da plenitude da sua vida eterna. De acordo com a tradição bíblica, a criação está orientada desde o início para a sua salvação, pois a criação do mundo está voltada para o sábado, onde ela chega à sua plenitude e o sábado revela o mundo como criação de Deus.
1.2. A progressiva revelação da esperança no AT
Dentre as características fundamentais da história do povo de Israel encontramos a esperança. No AT, a esperança consiste na expectativa confiante da proteção e da bênção de Javé, como cumprimento das promessas da aliança. Desde o início, Deus se faz presente na caminhada do povo, cuja esperança para uma vida bem-sucedida é sempre esperança em Deus. Israel sempre esperou o Deus que age na história e que haverá de levá-la a uma meta de salvação universal que é o Reino de Deus. A dinâmica da esperança começa já no início da revelação, quando Deus se revela como alguém que promete a terra e numerosa prole. Quem tem prole não morre, porque aquilo que foi e aquilo que fez continua nos filhos e netos. Blank ensina que a dinâmica que começou com a esperança na libertação continua incentivando a caminhada pelo deserto e, a partir da libertação do Egito, a esperança se amplia. As experiências históricas do passado são narradas para despertar a confiança na fidelidade de Javé. Tais referências ao passado fortalecem a fé num Deus que prometeu e realizou suas promessas. Além dos elementos “terra e descendência”, podemos dizer que a esperança vétero-testamentária compreende ainda a intimidade com Deus.
A revelação feita a Abraão inclui uma promessa, que era, para ele, razão de esperança. Ele, então caminha rumo a esta esperança concreta. Por ocasião do nascimento de Isaac, esta esperança começou a se concretizar, pois a promessa dizia que Abraão seria pai de um grande povo, bênção para todas as nações. Deus encaminha a esperança de Israel para um futuro visível: a descendência numerosa e a terra prometida; depois, aos poucos, amplia o horizonte da esperança. Ao fundar uma aliança, Deus promete sua presença e, com suas promessas, coloca o futuro como tempo de esperança. No Egito, Javé se revela como Deus da libertação; contra a resistência do faraó, conduz seus eleitos para um futuro apenas por Ele conhecido. Percebe-se que, a cada aparição de Deus está ligada uma promessa de salvação. Israel deve cada etapa em busca da posse da terra prometida à iniciativa de Javé, que se mantém fiel apesar de toda a infidelidade do povo eleito. Até a conquista de Canaã, o principal objeto da esperança era a terra prometida; em seguida, aumentando-se os perigos que ameaçavam a existência de Israel, a esperança da proteção de Javé foi ficando mais viva.
Como a história dos reis é marcada pela não realização da unção por parte dos ungidos, compreende-se o surgimento do messianismo: a fé no ungido que cumprirá a unção. Unido a este fato está a constituição de uma monarquia de salvação, a qual deve conduzir a uma esperança que vai além da realidade política. A figura do rei transforma-se, portanto, na figura do Messias. Esta transformação mobiliza o povo para uma nova marcha na sua esperança em Deus.
Os profetas, anunciando a mensagem transmitida por Deus, são a motivação de que a esperança de Israel não será destruída. Eles preservam a identidade do povo escolhido, interpretando sua história e suscitando suas esperanças, que são incentivadas pelas promessas, as quais, por sua vez, lançam o olhar para o “éschaton” do seu cumprimento. As palavras proféticas após o exílio querem transmitir que, mesmo quando a comunhão do povo com Deus se encontra comprometida, o Deus da criação e da aliança é a causa da esperança. Os profetas, embora ameaçassem com a punição divina, não deixaram de alimentar a esperança na redenção e na restauração de Israel. Eles pregaram contra as falsas esperanças dos homens, tais como a força, o dinheiro e o poder.
Quando o castigo predito se tornou um fato pela destruição dos dois reinos, a esperança da salvação chegou ao seu auge, sobretudo nas profecias de Jeremias, Ezequiel e do II Isaías; estes anunciaram a restauração de Israel na forma de uma nova aliança e de uma entronização de Javé como rei não apenas de Israel mas do mundo inteiro. Deste modo, a esperança em Israel ganha um caráter escatológico. No tempo dos profetas, compreende-se que toda a humanidade participará na esperança de Israel. Como o Deus de Israel é o criador do mundo e da humanidade, o futuro do povo eleito será a salvação para toda a humanidade. A esperança messiânica de Israel se torna tão universal na esperança apocalíptica que a promessa específica e a própria história de Israel desaparecem, atingindo-se o horizonte original da criação. Percebemos, portanto, que Deus, desde o começo, tinha em mente a salvação de toda a criação.
A grande esperança de Israel e de todos os povos não pode ser reduzida apenas aos bens terrenos, porque Deus é a única esperança capaz de suprir as infinitas aspirações dos povos. O Messias é uma figura de esperança histórica para o povo, alguém que traz uma expectativa supramundana, pois vence o mundo para todos os povos. O servo de Javé de Isaías é a figura da realização messiânica da profecia de Israel. O novo servo de Javé deverá ser: profeta
do novo êxodo, sacerdote da reconciliação e sacrifício da redenção simultaneamente.
1.3. O ser humano como ser de esperança
Esperamos e trabalhamos para que o ainda-não aconteça, mesmo sabendo que só Deus é capaz de cumpri-lo plenamente, e a nossa esperança não é abalada. Ter esperança não significa aguardar resignadamente. Kemp chama esta atitude de “alienação da esperança”, pois se poderia pensar: “não tenho capacidade para realizar coisa alguma”. Dentro dessa perspectiva, se esperaria que, no futuro, tudo se realizasse sem qualquer esforço. Este tipo de esperança passiva, nada mais é do que uma forma disfarçada de desesperança. “O importante é aprender a esperar (…) quando olhamos para o futuro aberto, escuro e indeterminado como ele é, é a esperança que nos dá coragem”.
O ser humano sempre viveu de esperança, a qual consiste na certeza do incerto. Abordando este tema, Walter Kasper, afirma: “quando não há esperança alguma para o futuro, a vida fica completamente sem sentido”. Tentando definir a esperança, diz Fromm que ter esperança é estar pronto a todo momento para o que ainda não nasceu e não se desesperar se não ocorrer nascimento algum durante nossa existência. O homo sperans age para ver o mais depressa possível o “ainda-não-existente” tornar-se realidade. A esperança nos faz compreender porque muitos homens não temeram a morte, chegando a dar suas próprias vidas por causas nobres. Compreende-se ainda porque muitas pessoas, impulsionadas pela esperança, renunciaram às suas paixões, suas vaidades, família e terra de origem para se dedicar no serviço aos outros. Embora não esteja livre do temor, da ansiedade, da insegurança e do risco,o homem está sempre na espera de algo melhor.
O homem tem garantida a sua esperança na fidelidade de Deus, que mantém sua palavra, sua promessa e não mentirá, pois não pode negar-se a si mesmo. “Se a certeza da esperança cristã se fundamenta na promessa e na missão do Cristo crucificado, logo, a ressurreição de Cristo traz consigo uma esperança que aponta para o futuro do mundo e do homem no futuro de Cristo”. O verdadeiro cristão questiona-se sobre a ligação das esperanças humanas com a esperança escatológica no sentido de descobrir como a esperança maior pode caber na pequena esperança do dia-a-dia. Ao descrever nossa realidade, Libânio diz que as ameaças sobre o futuro da humanidade têm gerado desesperança, angústia e medo e há casais que pensam apenas no curto prazo da existência e, por isso, multiplicam as situações de prazer ao máximo, sem qualquer perspectiva de futuro através da procriação de filhos. Contudo, a esperança do homem em Cristo não é arruinada pelas desesperanças deste mundo. O cristão não se conforma com a morte, uma vez que Cristo não permaneceu na morte.
A esperança cristã não é uma utopia da fé, não é apenas “mais uma possibilidade”; ao contrário, ela se apresenta como um processo em direção à verdade, não se aliando ao desespero das esperanças terrenas, mas produzindo um sentimento de confiança de que o bem e a justiça de Deus virão. O homem não se contenta com o mundo, uma vez que foi feito para algo maior. Inconformado com a realidade que não o preenche nem satisfaz plenamente, encontra em Deus a razão da sua esperança e vive dessa esperança.
Enquanto o futuro freqüentemente provoca medo no homem, a esperança procura adiantar-se ao futuro, criando-o na imaginação e amando-o na pré-captação, dinamizando e iluminando, assim, toda a existência do homem, pois o capacita a caminhar com o coração alegre e ansioso pelo que vem. Sem esperança, o homem não é capaz de lutar nem de sofrer. Enquanto não encontra em Deus a sua esperança, o homem, desalentado, contenta-se com a segurança oferecida pela sociedade moderna.
“Enquanto vive, o homem tem esperança; quando desaparece a esperança, tudo está perdido”. Na perspectiva da nova aliança em Jesus Cristo, a esperança já não é mais a mesma dos que viviam na antiga aliança, pois ela se apóia na redenção já realizada por Cristo. Através das bem-aventuranças, Jesus quer anunciar aos pobres, humildes e oprimidos a futura realização da esperança deles. A esperança do cristão consiste na posse de bens que pertencem ao Reino de Deus e que são, ao mesmo tempo, presentes e futuros; ela não decepciona e, juntamente com a fé e o amor, constitui toda a vida interior do cristão.
Segundo Capítulo: JESUS, REALIZAÇÃO DA NOSSA ESPERANÇA
2.1. Kénosis: caminho de Cristo para a realização da esperança
Com a vinda de Jesus ao mundo e sua mensagem, concretizam-se as nossas esperanças, uma vez que o prometido e esperado torna-se visível, e, deste modo, acontece a grande e decisiva virada da história da humanidade, que tende ainda à plenitude e à completa consumação. São Paulo, na sua segunda carta aos Coríntios, lembra muito bem que Jesus, através de sua kénosis, de rico se fez pobre para nos enriquecer com sua pobreza. O primeiro homem peca, exaltando-se ou procurando igualdade total com Deus. O pecado de orgulho leva-o a romper a comunhão com Deus e com os irmãos e precipita toda a humanidade no pecado. Já Cristo, o novo Adão, se abaixa até tornar-se servo sofredor que carrega sobre si os pecados dos homens. Deste modo, Deus exalta a sua humilhação e nela a sua função de novo Adão, que dá a vida.
O caminho seguido por Cristo não foi o da glória, mas o da doação, do esvaziamento, da humildade e do sofrimento. Fez o contrário de Adão que, ao desobedecer a Deus, procurava a própria realização. Ao seu esvaziamento contrapõe-se a exaltação da parte de Deus. Na existência histórica de Cristo, cujo centro encontra-se no evento pascal, reside o ápice do seu ‘esvaziamento’, humilhação e, conseqüentemente, da sua exaltação. A ressurreição de Jesus dentre os mortos é o acontecimento fundamental que antecipa, entre outras coisas, o propósito da história e a vinda da futura salvação.
Enquanto João Batista fala de ira e condenação, Jesus fala de salvação, de misericórdia, mudando o foco do julgamento da lei para a graça de Deus. O Batista estava ainda no âmbito da Lei, enquanto que Jesus, com o seu Evangelho, quer transmitir a infinita bondade do Pai. Na mensagem de Jesus, a face de Javé perde definitivamente sua característica ameaçadora: Deus se torna unilateral e gratuitamente um Deus de salvação. Os milagres são manifestações da salvação que convidam à fé num Deus que quer a felicidade plena do homem. Jesus, ao contrário dos profetas, não apenas anuncia o Reino de Deus, mas já o torna presente. A mensagem de Jesus, a qual anuncia o Reino, proclama a realização de tudo o que sempre foi esperado e amplia as dimensões da esperança, não só para o povo de Israel, mas para toda a humanidade.
Deus quis se aproximar de nós; em Jesus termina o prazo da espera. O Filho de Deus assume a natureza humana para realizar nela a nossa salvação. O Novo Testamento, viu n’Ele o homem novo e o Adão escatológico, o primeiro a chegar àquilo que pessoa alguma havia chegado. Com Sua encarnação e ressurreição, diz Boff, a utopia se tornou topia, o impossível ao homem, mas ansiado e buscado insaciavelmente, se mostrou possível para Deus. “Cristo realizou o que, para nós, é ainda esperança. Não vemos o que esperamos, mas somos corpo da Cabeça na qual se concretizou o que esperamos”.
Para os primeiros cristãos, era evidente que os atos de Jesus supunham a história e as esperanças messiânicas de Israel, assumidas por Ele em toda a sua totalidade. Jesus, que se apresentava em nome das esperanças do povo, via-se rejeitado por esse mesmo povo. Contudo, a oposição não lhe tira o ânimo; Jesus interpreta a hostilidade dos judeus à luz da perseguição dos profetas. A esperança não encontra desilusão e não foi à toa que os discípulos deixaram tudo para comprar o tesouro escondido. Por isso, nós que, à semelhança dos primeiros cristãos, descobrimos a preciosidade de Jesus, diante do qual tudo mais se torna insignificante, podemos dizer como eles: “Cristo é a nossa esperança”.
2.2. Parusia: realização plena de toda esperança
A espera da parusia do Senhor começou cedo na Igreja, como podemos perceber na invocação “Maran atha” ou “Marana tha”. Esperava-se com alegria a volta de Cristo. Graças à Sua ressurreição, temos a garantia de que também ressuscitaremos para a vida eterna após nosso encontro pessoal com Ele na morte (considerado como parusia pessoal) e nisto consiste a nossa esperança. Após reconciliar a humanidade com Deus, Cristo prometeu, para a nossa felicidade, retornar no fim da história. Contudo, os primeiros cristãos esperavam uma volta imediata. A mentalidade dos apóstolos e primeiros discípulos levava-os a viver numa atitude de expectativa, uma vez que havia sido criado um clima de uma volta iminente de Cristo.
Hubert Lepargneur questiona-se quanto à influência do “atraso” da parusia para o cristianismo primitivo: “a correção do prognóstico foi suave e pouco sentida ou sacudiu a fé e a boa vontade dos crentes primitivos?” Ao tentar responder seu próprio questionamento, diz que, no caso de S. Paulo, apesar de sua crença inicial na parusia iminente, esta não era um dogma para ele, que acabou se conformando com o “atraso” do fim do mundo. S. Pedro, para justificar a protelação da parusia, esperada para breve, consola os cristãos assegurando-lhes: “diante de Deus, um só dia é como mil anos e mil anos como um só dia. Deus não tarda a cumprir Sua promessa como alguns pensam”. No caso da espera de um fim do mundo iminente, alerta Rossé para o perigo de um desinteresse pela existência histórica atual e pelo empenho concreto na sociedade. O não acontecer da segunda vinda do Senhor Jesus provocou, ao invés de uma provável crise, a ampliação do conteúdo da fé.
O tempo entre a primeira vinda de Cristo e a sua parusia é um tempo escatológico de decisão que antecipa o já dentro da história. Lembra Boff que há outras “parusias” de Deus na história, as quais são sinais da sua graça como, por exemplo, o surgimento dos santos, os concílios, a emergência da maturidade dos leigos etc. “Cristo sempre bate à porta e vem com visitas pascais de cruz e ressurreição que nos preparam para o encontro final”. A cruz, para Moltmann, é o único motivo suficiente para que, pela demora da parusia, não se esqueça a promessa de Jesus sobre o reino futuro.
Mesmo mudando sua concepção, no que diz respeito à compreensão das primeiras comunidades, a parusia permanece como dado constitutivo da nossa fé e de relevante importância. Um exemplo de uma nova visão do conceito de parusia encontra-se na proposta de superação de uma concepção linear da história, onde a parusia se encontraria no ponto terminal da mesma. A parusia dá-se no momento da ressurreição e na hora da morte de cada homem; pela força da ressurreição de Jesus, todos os que n’Ele crêem e morrem, participam desse final de glorificação com tudo aquilo que são. Libânio enfatiza que o fundamento da nossa fé está na certeza da glorificação do corpo e da história, dada pela certeza da ressurreição de Jesus; “o fim do mundo não é a destruição da vida ou das coisas, mas a sua glorificação”.
A mensagem de Cristo, que tem por núcleo a pregação do Reino, já se faz presente pela sua ação salvadora, mas se manifestará plenamente na Parusia; nossa esperança na vinda do Senhor é segura, mas como a hora e o momento são incertos, a atitude da esperança deve ser vigilante e ativa. O crescimento do interesse pela parusia deve contribuir para aumentar o empenho cristão nas atividades terrenas. “Não é a crise mundial que conduz à parusia de Cristo; é a sua parusia que traz este mundo com suas crises para uma consumação”. “Onde o evangelho é ouvido e evoca fé, a vida nasce novamente para uma viva esperança e o renascimento do mundo é previsto (…) Deus sem o mundo e o mundo sem Deus, fé sem esperança e esperança sem fé são os produtos da desintegração de um cristianismo sem Cristo”.
2.3. Espírito Santo: garantia da nossa esperança
O Espírito Santo, também chamado de Espírito da Verdade, é “a testemunha de Cristo que conduz ao conhecimento da verdade (…) o doador da vida eterna de Deus ao mundo”. “O Espírito torna os cristãos ricos em esperança (…) a experiência do Espírito é descrita como um renascimento para a verdadeira vida, um renascimento pessoal que prevê o renascimento de todo o universo (…) estas são imagens da esperança com as quais é descrita a experiência do Espírito como a experiência de um novo começo da vida”. O Espírito Santo nos foi confiado como garantia da glória e acompanha o cristão na sua caminhada.
Fundamentada na certeza proporcionada pela presença de Jesus ressuscitado e pelo dom do Espírito Santo, a esperança cristã abre caminho para um futuro onde a âncora já se encontra fixada. A presença do Espírito em nosso meio nos convida à esperança na ressurreição. O Espírito do Ressuscitado é a força que age no fiel como alegria, esperança, capacidade de esforço ativo e constante no conformar-se com Cristo e prelúdio da comunhão com Ele que, no “éschaton”, será plena e definitiva.
Antes de deixar o mundo e regressar ao Pai, Jesus promete aos Apóstolos o auxílio especial do Paráclito, o Espírito Santo. Tratando do “primeiro Pentecostes”, que define como experiência comunitária do Espírito, Karl Rahner afirma que tal experiência coletiva exige do cristão a responsabilidade de uma radical decisão de fé, tomada a partir da experiência de Deus. Sem a presença vital do Espírito, a obra e a pessoa de Jesus permaneceriam como que bloqueadas no seu passado histórico; por meio do Espírito, que age como energia que impele para a nova vida em Cristo, Jesus se torna presente na fé, na vida da Igreja e no mundo.
Deus, em sua misericórdia, nos proporcionou renascer da água e do Espírito para uma viva esperança. Abordando a recriação pelo Espírito, diz Moltmann: “esperamos que o Espírito da nova criação derrote a violência humana e o caos do universo; mais do que isso: esperamos que a força do tempo e da morte serão derrotadas também; finalmente, esperamos a eterna consolação (…) esperamos alegria eterna na dança do companheirismo com todas as criaturas e com o Deus trino”.
Como diz S. Paulo, nós somos templos do Espírito Santo, que nos ilumina e orienta em nossa caminhada terrena rumo à meta escatológica, da qual nos permite provar antecipadamente os frutos. No que diz respeito à salvação, nossa confiança fundada na presença operante do Espírito de Deus nos garante contra qualquer fracasso. “Tudo podemos naquele que nos conforta, ilumina e inflama na caridade: o divino Espírito Santo, fiador do magistério e luz da teologia”.
Terceiro Capítulo: IGREJA, SERVA E ANUNCIADORA DA ESPERANÇA
3.1. O anúncio (kérygma ) da esperança.
Os apóstolos, testemunhas da ressurreição, foram chamados a difundir em toda parte o kérygma da esperança cristã. Eles têm a missão de anunciar essa boa-nova, segundo a qual todos os homens são chamados à salvação. As profissões de fé não deixavam de ser, a seu modo, um anúncio da boa-nova. O elemento unificante do kérygma é a pessoa de Jesus, identificado como Cristo e Senhor; esta proclamação da parte da Igreja torna o evento da salvação eternamente presente. O kérygma, centralizado na ressurreição de Jesus, abre para quem n’Ele crê um futuro de vida e de esperança.
O tempo da Igreja é o tempo da pregação e do testemunho. O Ressuscitado envia seu Espírito aos discípulos para que possam compreender o testemunho das Escrituras e anunciá-lo a todas as nações. A atuação da Igreja no mundo se realiza dentro do horizonte de sua esperança no Reino de Deus. “A Igreja anuncia aos não crentes a mensagem da salvação, para que todos os homens conheçam o único e verdadeiro Deus e Aquele que enviou Jesus Cristo e se convertam de seus caminhos, fazendo penitência”. A meta da pregação cristã, no processo de justificação e chamamento dos sem-Deus para uma viva esperança, é comunicar a ressurreição dos mortos e a vitória da vida sobre a morte. O sucesso do anúncio do evangelho, que leva à fé e exorta à conversão, é uma revelação do infinito poder de Deus.
A comunidade eclesial situa-se entre o “já” e o “ainda-não”, entre a salvação já recebida e a salvação na esperança. Durrwell afirma que o “já” e o “ainda-não” não se opõem: “o primeiro se encontra no coração do segundo”. Neste tempo de peregrinação e espera, os cristãos, que se esforçam para vencer a tentação do pecado e, assim, viver em santidade, encontram especialmente em Maria um exemplo de virtudes.
Se anunciamos a supremacia do evento último universal, o destino da pessoa pode parecer suspenso numa “problemática terra-de-ninguém” desde sua morte até o fim do mundo. O discurso escatológico é a mensagem de esperança que o mundo tanto precisa e a escatologia atual deve abrir o olhar para a dimensão transcendente sem esquecer a realidade histórica concreta. Numa época em que as grandes utopias fracassaram, em que há carência de respostas diante da questão do sentido da vida e da história humana, o anúncio do Reino de Deus pode abrir novos horizontes de esperança. O motivo último para a esperança não é o progresso científico ou tecnológico, mas Cristo, esperança da glória. O homem, movido pela esperança proveniente do anúncio salvífico, deve começar a abrir-se desde já para o Reino de Deus.
Nosso mundo atual está carente do anúncio da Palavra de Deus e, por isso, nosso papa João Paulo II lembra a necessidade de uma nova evangelização: “existe a necessidade de um anúncio evangélico que se faça peregrino com o homem, que se ponha a caminho com a nova geração (…) e qual é a palavra que mais vezes ouvimos no Evangelho senão esta: ‘Segue-me!’ Ela chama os homens de hoje, especialmente os jovens, para se colocarem a caminho ao longo dos percursos do Evangelho na direção de um mundo melhor”.
3.2. O testemunho da esperança (caridade).
No momento em que se constata o avanço do mal no mundo através do egoísmo, do desejo de poder, da busca desordenada do prazer, a esperança se fortalece com a fé e com a caridade e nos revela o amor misericordioso de Deus. Fortalecido, o cristão é capaz de perceber o plano de Deus na realização das pequenas esperanças do dia-a-dia. Se não houver esperança, nossa fé corre o risco de tornar-se utopia e a caridade, ativismo alienante.
A caridade, por sua vez, é fundamento da Igreja, modo pelo qual ela se manifesta como presença de Deus nesse mundo e o nosso grande desafio é tornarmo-nos imitadores de Deus, amando como Jesus amou. Como Jesus, poderemos dar um testemunho eficaz se fizermos conhecer aos demais homens aquele amor que nós mesmos recebemos e que agora podemos dar, justamente porque já o recebemos. A tarefa do cristão, chamado à perfeição do amor, compreende o dever de testemunhar esse amor de maneira perceptível. O amor ao próximo é a principal maneira de tornar possível aos outros o encontro com Deus.
Esperança e amor se fundem no abandonar-se totalmente a Deus, que consiste em prestar fé absoluta no Seu amor, crer no Seu amor sendo expressão de resposta de amor; contudo, esse abandono confiante em Deus não nos dispensa de um esforço ativo: a esperança se traduz, por parte do cristão, na espera paciente e perseverante, na vigilância, na disponibilidade para arrastar cada dificuldade, até “esperar contra toda esperança”.
Lepargneur faz a ligação entre missão e esperança dizendo que a missão se processa na esperança e esta exprime seu dinamismo ativo na obra missionária. No parecer do Cardeal Suenens, estamos enfrentando uma crise da virtude teologal da esperança e sabemos que, encontrando-se abalada a esperança dos cristãos, a Igreja dificilmente terá grande ativismo missionário. A esperança cristã não é um “consolo barato” que permite ao cristão retirar-se do mundo, cruzar os braços e esperar o que irá acontecer ou o que Deus irá fazer. O cristão não pode ficar passivamente esperando uma intervenção divina milagrosa; ele precisa viver sua fé como esperança e caridade para amar verdadeiramente o próximo e vencer os obstáculos que impedem uma boa convivência fraternal.
É por isso que a Igreja, no fiel cumprimento de sua missão, precisa sempre revisar suas atitudes, a fim de evitar situações que venham impedir o bom cumprimento do seu mandato missionário, tais como o distanciamento das massas, o não reconhecimento da presença do Espírito em valores humanos cotidianos etc. Por exemplo, a renúncia aos bens e ao matrimônio são dons, carismas, concedidos por Deus, não oriundos do poder humano e com vistas
ao testemunho interpelador diante dos demais cristãos. Conseqüentemente, o cristão pode e deve viver o seu cristianismo no matrimônio, na família, na sociedade, no Estado, no trabalho e nas profissões.
No que diz respeito à eficácia do testemunho eclesial, esta é garantida pela presença do Senhor Ressuscitado que, através do Seu Espírito, estará para sempre junto com a Sua Igreja. Neste século, o Vaticano II foi um grande esforço que possibilitou a entrada de “novos ares” na Igreja e, conforme está escrito na constituição Gaudium et Spes, a Igreja não ignora o quanto recebeu da evolução da humanidade. Embora de origem divina, a Igreja faz parte da sociedade e é dela que saem os seus membros. Daniélou lembra que o cristão, pelo próprio fato de ser cristão, há de procurar orientar a sociedade de acordo com a Lei de Deus. É preciso que o cristão, encontrando coragem na esperança, seja capaz de superar os obstáculos e, através da caridade, possa atrair as pessoas para Cristo. Portanto, enquanto possui uma missão no mundo, não deve fugir dele nem desprezar seus valores, sabendo distinguir o que é saudável dentre tudo aquilo que lhe é oferecido e testemunhando a grandiosidade do amor de Deus.
3.3. A celebração da esperança (dimensão sacramental)
A Igreja, confessando-se pecadora, consegue ser comunidade de esperança que, sacramentalmente, realiza a nova criação. Enquanto a esperança antevê o futuro e o Reino já presentes em nosso meio, no bem, na comunhão, na fraternidade, na justiça, no crescimento cultural, na abertura para com o Transcendente, ela tem motivos para celebrar e comemorar. Surge, então, a festa como manifestação da alegria de saber que, na eternidade, acontecerá a plena realização daquilo que de verdadeiro e bom vivenciamos no tempo.
Desse modo compreendemos melhor a exortação paulina aos filipenses: “Alegrai-vos sempre no Senhor!” A nossa fé cristã nos permite saborear Deus na fragilidade humana e festejá-lo na transitoriedade deste mundo que passa. Celebrar significa entrar em comunhão com Deus. Através da celebração dos sacramentos da iniciação cristã, o cristão entra na dinâmica escatológica, compreendida como posse e esperança. O batizado é um “homem à espera”, que tende para a plena realização do que lhe foi dado inicialmente.
Alegres na esperança, devemos nos preparar para celebrar o Jubileu do ano 2000 que está muito próximo. “A celebração jubilar atualiza e simultaneamente antecipa a meta e o cumprimento da vida do cristão e da Igreja em Deus uno e trino”. O próprio Papa João Paulo II quer que o ano jubilar seja exuberantemente celebrado como uma festa de aniversário sem precedentes para Jesus. Diz ele: “cada um é convidado a fazer tudo quanto esteja ao seu alcance para que não fique esquecido o grande desafio do ano 2000, ao qual está seguramente ligada uma particular graça do Senhor para a Igreja e para a humanidade inteira”.
A celebração parte de experiências humanas como o lavar, o comer etc., mas trata de eternidade e tem como meta o agradecimento e o louvor a Deus bem como o fortalecimento dos cristãos na caminhada rumo à “vida eterna”. Cada celebração aqui na terra é um treinamento para o culto eterno; a liturgia da história continuará a ressoar na liturgia da eternidade. Não se discute neste ítem a validade ex opere operato das celebrações sacramentais, as quais, feitas como a Igreja manda, produzem por si os efeitos desejados. A questão aqui é outra: como uma celebração pode ser vivida em termos de esperança? Sabemos que a celebração traz o transcendente à história e, nesse sentido, é fonte de esperança. Pedagogicamente falando, uma celebração bem preparada proporciona a todas as pessoas que dela participam uma ocasião privilegiada de intimidade com Deus.
Para celebrarmos dignamente a esperança é preciso que sejamos mais comunitários e menos individualistas, servindo aos irmãos, confortando nos momentos de sofrimento, iluminando nas ocasiões de dúvida, dando sentido à vida quando ela parece perder o sentido. Nós, peregrinos da esperança, através do tempo, rumo à eternidade, pedimos a Deus que atenda as nossas súplicas e agradecemos por estar sempre nos acompanhando, tanto nos momentos alegres como nas horas difíceis, e mantendo viva a chama da esperança até que possamos nos encontrar com Ele na pátria celeste. Amém.
Conclusão
Tendo como objetivo abordar a importância da esperança cristã, iniciei este trabalho mostrando que a criação está orientada desde o princípio para a sua salvação; Deus deseja que suas criaturas participem da plenitude da Sua vida eterna; desde o começo Ele tinha em mente a salvação de toda a criação. Ao fundar uma aliança, Deus promete sua presença e, com suas promessas, coloca o futuro como tempo de esperança. O problema é que o povo eleito não cumpre com a promessa, mas, apesar de toda infidelidade, Deus se mantém fiel. Os profetas, ao falarem de uma nova aliança, colocam Javé como Senhor não apenas de Israel, mas de todo o mundo. Com isso, a esperança em Israel assume um caráter escatológico, uma vez que toda a humanidade participará na sua esperança. Movidas pela esperança de um dia estar junto de Deus, partilhando das alegrias eternas, muitas pessoas renunciam às suas paixões, vaidades, família e terra para se dedicar no serviço aos outros. Compreendemos, assim, que as desesperanças deste mundo não são capazes de arruinar a esperança do homem fortalecido em Cristo, pois a sua esperança é muito maior do que qualquer eventual desesperança.
A mensagem de Cristo proclama a realização de tudo o que sempre foi esperado e amplia as dimensões da esperança para toda a humanidade. De acordo com a dinâmica do “já” e do “ainda não”, compreendida também na perspectiva do binômio “dom e tarefa”, vemos que é preciso estar aberto para acolher o que Deus nos oferece sem se esquecer de trabalharmos pela realização do plano de Deus em nossas vidas. Nós, cristãos, somos membros do Corpo em cuja Cabeça (Cristo) se concretizou, embora não plenamente, o que esperamos. Fica evidente, portanto, que, diante da grandiosidade de Jesus, tudo mais se torna insignificante. É só Ele que importa, nada mais; Cristo é a nossa esperança. Com relação à expectativa da parusia de Cristo, o seu não acontecer iminente acabou provocando, ao invés de uma crise, a ampliação do conteúdo da fé. Cristo está sempre se fazendo presente e nos preparando para o encontro final na glória, basta olharmos os acontecimentos sob o prisma da fé. Nesse caso, a atitude do cristão deve ser ativa e vigilante para que Jesus não passe despercebido na sua vida. Por meio do Espírito Santo, que nos ilumina e orienta nossa caminhada, Jesus se torna presente na fé, na vida da Igreja e no mundo.
O anúncio da salvação, centralizado na ressurreição de Jesus, abre para o crente um futuro de vida e de esperança. Numa época de carência da Palavra de Deus, em que faltam respostas para a questão do sentido da vida e da história, o kérygma abre novos horizontes de esperança. O homem, impulsionado pela esperança proveniente do anúncio salvífico, tende a esforçar-se pela causa do Reino de Deus. Nosso grande desafio é tornarmo-nos imitadores de Deus, amando como Jesus amou; não podemos ficar passivamente esperando uma intervenção da parte de Deus e sim vivermos nossa fé como esperança e caridade para amar verdadeiramente o próximo e vencer os obstáculos que impedem uma boa convivência fraternal. Encontrando coragem na esperança, devemos ser capazes de superar os obstáculos e, através da prática da caridade, atrairmos as pessoas para Cristo. A celebração, por sua vez, enquanto traz o transcende para a história, é fonte de esperança e pode proporcionar uma ocasião privilegiada de intimidade com Deus. E, para celebrarmos dignamente a esperança, é preciso sermos mais comunitários e menos individualistas, servindo aos irmãos, iluminando, confortando e dando sentido à vida. Agradecemos, enfim, a Deus por nos acompanhar sempre e manter viva nossa esperança até que possamos desfrutar das alegrias eternas junto d’Ele.
Bibliografia
A BÍBLIA DE JERUSALÉM. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 1989.
BERGAMINI, A. Cristo, festa da Igreja. São Paulo: Paulinas, 1994.
BLANK, R. J. Nosso mundo tem futuro. São Paulo: Paulinas, 1993.
BOFF, L. Vida para além da morte. Petrópolis: Vozes, 1973.
COMBLIN, J. Jesus de Nazaré. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1976.
COMPÊNDIO DO VATICANO II. 23. ed. Petrópolis: Vozes, 1994.
DANIÉLOU, J. O futuro no presente da Igreja. São Paulo: Paulinas, 1974.
ENGELHARDT, P. Dicionário de Conceitos Fundamentais de Teologia. São Paulo: Paulus, 1993.
IDÍGORAS, J.L. Vocabulário teológico para a América Latina. São Paulo: Paulinas, 1983.
JOÃO PAULO II. Celebrate 2000! – Reflections on Jesus, the Holy Spirit and the Father. Ann Arbor: Charis, 1996.
_____________. Cruzando o limiar da esperança. Rio de Janeiro: Francisco Alves,1994.
_____________. Tertio Millenio Adveniente. São Paulo: Paulus, 1994.
KASPER, W. Individual Salvation and Eschatological Consummation. In: GALVIN, J. (ed.) Faith and the Future.
New York: Paulist Press, 1994.
KEMP, P. C. G. Reflexões sobre a religião como utopia e esperança. São Paulo: Paulinas, 1985.
KLOPPENBURG, B. Parákletos: o Espírito Santo. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1998.
LÄPPLE, A. Nossa fé está mudando? – Orientação para os cristãos de hoje. São Paulo: Paulinas, 1983.
LATOURELLE, R. & FISICHELLA, R. Dicionário de Teologia Fundamental. Petrópolis: Vozes-Santuário, 1994.
LEPARGNEUR, H. Esperança e Escatologia. São Paulo: Paulinas, 1974.
LIBÂNIO, J. B. & BINGEMER, M. C. L. Escatologia Cristã. Petrópolis: Vozes, 1985.
MOLTMANN, J. Deus na criação. Petrópolis: Vozes, 1993.
_________. Jesus Christ for today’s world. Minneapolis: Fortress Press, 1994.
_________. O caminho de Jesus Cristo. Petrópolis: Vozes, 1993.
_________. Teologia da Esperança. São Paulo: Herder, 1971.
_________. The Church in the Power of the Spirit. New York: Harper & Row, 1993.
_________. The Source of Life. Minneapolis: Fortress Press, 1997.
_________. The Spirit of Life: a universal affirmation. 3. ed. Minneapolis: Fortress Press, 1994.
PAIVA, R. A razão de nossa esperança. São Paulo: Loyola, 1978.
PEREIRA, I. Dicionário Grego-Português e Português-Grego. 7. ed. Braga: Ed. Apostolado da Imprensa, 1990.
SARTORE, D. & TRIACCA, A. M. Dicionário de Liturgia. São Paulo: Paulinas, 1992.
SECONDIN, B. & GOFFI, T. (orgs.). Curso de Espiritualidade. São Paulo: Paulinas, 1994.
_____________________. Problemas e perspectivas de espiritualidade. São Paulo: Loyola, 1992.
SERENTHÀ, M. Jesus Cristo ontem, hoje e sempre. São Paulo: Salesiana, 1986.
VAN DEN BORN, A. Dicionário Enciclopédico da Bíblia. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1992.
VV.AA. A Esperança Cristã. São Paulo: Cidade Nova, 1992.
______. A Igreja no seu mistério. São Paulo: Cidade Nova, 1984.
Faça um comentário